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A paz que eu não quero

Menina Aleatória, Por Anna Domingues, Escritora

Em 23/12/2024 às 08:47:21

A gente entra no mês de dezembro com aquela sensação de que o mundo, de alguma maneira, vai ficar mais bonito. As vitrines piscando, as músicas natalinas invadindo as ruas, e a promessa de um reencontro familiar que, em teoria, deveria ser sinônimo de paz e harmonia. Mas, se formos honestos, nem todo mundo que a gente deveria “fazer as pazes” realmente merece esse esforço.

O Natal tem essa coisa de nos empurrar para uma reconciliação forçada, como se fosse possível colocar todos os desentendimentos do ano, as mágoas antigas e os rancores dentro de uma caixinha fazendo dela um amontoado de felicidades instantâneas. Como se um simples “feliz Natal” fosse suficiente para apagar atitudes de indiferença, palavras não ditas e gestos não feitos. E acredite, há famílias que, em vez de celebrar o amor, celebram a obrigação de estarem juntas. E digo mais: com a pressão de que tudo tenha que ser perfeito nos moldes do porta retrato.

A hipocrisia dessa reconciliação é óbvia: não é a paz que se busca, mas a conformidade. A sensação de que, se você não se encaixar nessa dança social, vai ser rotulado de alguém "difícil", "rancoroso", ou pior, "sem espírito natalino". E, nesse cenário, o Natal deixa de ser uma celebração genuína e se transforma em um palco de atuações. No lugar do afeto real, entra a obrigação de cumprir um papel — e tudo bem se a paz for frágil, se a sinceridade for inexistente. O importante é dar o aperto de mão, dizer as palavras certas, posar para a foto como se tudo estivesse resolvido.

Vejo muitos posts viralizarem nas redes sociais dizendo que a gente precisa resolver pendências como se o simples ato de nos reunirmos em volta de uma mesa farta fosse capaz de transformar desentendimentos profundos em abraços calorosos e sinceros. Acontece que, às vezes, resolver tudo não significa mais do que deixar para trás o que não pode mais ser resolvido. Porque algumas pessoas não merecem uma segunda chance. Ou terceira. Algumas relações são como um presente que já não cabe mais no embrulho.

E o mais curioso é que, quando falamos em “fazer as pazes”, raramente estamos falando de perdão genuíno. Estamos, na real, falando de convenções sociais, de manter as aparências, de não gerar desconforto. A gente acaba aceitando a convivência com quem não tem o menor interesse em melhorar, como se uma data festiva bastasse para passar um corretivo em tudo o que ficou mal resolvido ao longo do ano.

Claro que fica fofo dizer que o Natal é sobre reconciliação e sobre família. Mas, talvez, na vida real, ele seja sobre saber reconhecer quando não vale a pena se esforçar por um perdão que só existe no calendário. Eu já aprendi que a paz não precisa ser feita com quem não a valoriza, e que o Natal não é sobre engolir a seco a hipocrisia de relações vazias. O Natal, afinal, pode ser mais sobre a liberdade de escolher com quem a gente quer realmente estar, com quem nos respeita o ano inteiro, e, principalmente, entender que, às vezes, o maior presente que você pode dar a si mesmo é a liberdade de se afastar do que não faz bem.

Eu, particularmente, prefiro um Natal menos perfeito. Prefiro um Natal onde não seja necessário reconciliações forçadas, por exemplo. Se o reencontro com alguém não faz sentido, que não seja imposto pela data. Que o Natal seja, ao menos para quem se permite ser sincero, uma chance de refletir sobre o que e quem realmente vale a pena carregar conosco. Porque, no final das contas, a paz verdadeira não vem do perdão sem fundamento, mas da coragem de olhar para o que se passou e dizer: "Ainda não estou pronto, e tudo bem."

Assim, quem sabe o próximo Natal nos traga, mais do que reconciliações indesejadas, a liberdade de escolher, com sinceridade, com quem e o que queremos compartilhar a nossa paz.

Desejo aqui um feliz natal aos meus leitores. Que nessa data prevaleça os bons e mais sinceros sentimentos!

Até o próximo texto!

@portal.eurio

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