Boa parte da vida eu imaginei que tudo, de algum modo, era sobre mim. Desde os gestos que fazia até as palavras que escolhia, eu estava ali, em cada movimento, esperando ser vista, compreendida, validada. E quem nunca? Somos todos, no fundo, um pouco egoístas, com o coração batendo mais intensamente quando acreditamos que o universo gira ao nosso redor. Mas, como a vida tem uma maneira certeira de nos surpreender, um dia, sem aviso, algo dentro de mim se quebrou. Aconteceu no momento mais simples possível: eu estava no supermercado, escolhendo um sabor de iogurte, e então percebi que ninguém, absolutamente ninguém, estava se importando com o que eu fazia. Eu era apenas mais uma pessoa com um iogurte na mão, como qualquer outro ali.
Sabe aquele fardo invisível que carregamos, a sensação de que as coisas estão sempre ligadas a nós de alguma forma? Como se nossa presença fosse um fator determinante em cada cenário? Eu carregava isso sem saber, e a revelação foi como uma rajada de ar fresco. O que parecia uma frustração, na verdade foi um alívio. A vida não gira ao meu redor. Não é sobre mim. Nem tudo que acontece tem o meu nome no meio. Se alguém estiver rindo ao passar por mim, não necessariamente está rindo de mim. Não preciso ser o centro das atenções para ser importante.
E, então, eu percebi que nós somos apenas personagens num roteiro que já estava escrito antes mesmo de chegarmos aqui. Somos pequenos detalhes que, muitas vezes, não interferem tanto assim no todo. E está tudo bem. Estar no centro de tudo é exaustivo, e não tem a menor necessidade, vai por mim. Eu nunca precisei ser protagonista na história de ninguém além da minha. Não é preciso ser lembrado por todos, nem ter uma presença impactante para deixar uma boa impressão. O simples ato de existir já é suficiente. E quando a gente percebe isso, a vida fica mais leve.
Abracei, então, a minha insignificância. No bom sentido, é claro. No sentido de que não sou o ponto de partida e de chegada de tudo. No sentido de que as coisas acontecem independente de mim. As pessoas escolhem, agem, vivem, erram e acertam por elas mesmas, e, muitas vezes, as nossas preocupações não são mais do que ecos da nossa própria vaidade, rastros do nosso profundo ego. Não é que a vida seja indiferente, mas ela não gira ao redor das nossas expectativas. Ela segue seu percurso, e a gente se encaixa nela, ou nos perdemos na tentativa de dominá-la.
Por vezes fico refletindo em como seria bom se todos nós conseguissemos, ao menos por um instante, compreender esse fato. O alívio que seria para o coração. Deixar de esperar que o mundo ajuste a sua rota para caber em nossos desejos. Deixar de acreditar que cada pequeno mal-estar seja uma tragédia pessoal, que cada silêncio é uma crítica e que cada ato impensado de outra pessoa é um reflexo direto de algo que fizemos ou que deixamos de fazer como um castigo. Nem tudo é sobre a gente. Na real, quase nada é. A gente não é o centro do universo, e, pra ser sincera, isso é uma dádiva.
Essa percepção não nos torna seres invisíveis e rejeitados, mas nos fornece uma visão mais ampla. Somos partes, e não o todo. E, quando aceitamos isso, podemos viver com mais leveza, com menos cobrança. O mundo não deve se curvar diante de nossas angústias, e ninguém precisa pedir desculpas por seguir com sua própria história. Ao entendermos isso, o fardo da importância desaparece, e, finalmente, conseguimos viver pra valer! De forma inteira e sem sobrepeso, como um personagem que sabe que sua história é valiosa, mas não precisa ser a única que importa.
Abrace a sua insignificância. Porque, no fundo, ela é apenas a chave para ser verdadeiramente livre.
Até o próximo texto!
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