A liberdade de sair sozinha é uma sensação inusitada. É sobre o prazer de estar consigo mesma sem pressa, sem cobranças, sem necessidade de explicação. Mas confesso: sempre me senti meio estranha ao decidir fazer algo sozinha. Não que eu tenha medo da solidão, mas me incomodava a ideia de sair para o mundo sem alguém ao meu lado. Era quase como se o simples fato de estar “só” fosse uma falha, como se houvesse algo errado nisso. Aí um dia, sem mais nem menos, decidi mudar isso. Fui ao teatro sozinha.
Lembro até hoje o que pensei antes de sair de casa: "será que vou me sentir desconfortável? E se eu ficar olhando para as outras pessoas e me sentir isolada?" Mas o desejo de assistir àquela peça era maior que qualquer hesitação. Então, fui. Afinal, a independência feminina é isso: um ato de coragem silenciosa, que não precisa ser aplaudido ou reconhecido, mas vivido plenamente...
Sentei-me na última fileira, discretamente, como quem não quer chamar atenção. E, para minha surpresa, não me senti solitária. Pelo contrário: aquela noite foi uma das mais plenas que já tive. As risadas da plateia, o impacto da atuação, o silêncio depois do último ato... tudo aquilo parecia ter sido pensado para ser vivido sozinha. Eu estava ali, comigo mesma, em total sintonia com o que estava acontecendo no palco. Não precisei de mais ninguém para me sentir completa. Naquele espaço, eu era dona do meu tempo, da minha respiração, da minha emoção.
Naquela noite, percebi que a solidão, nesse contexto, não é sinônimo de falta, ausência. Ela é liberdade. A liberdade de escolher para onde ir, de decidir que filme ver, qual peça assistir, onde tomar café. Não preciso perguntar se alguém vai comigo, se alguém compartilha da mesma vontade. Posso ir sozinha e viver a experiência como se ela fosse única, porque, de fato, é.
Depois daquela peça, passei a fazer isso com mais frequência. Uma vez eu quase deixei de ir ao show da minha banda favorita porque não tinha ninguém para ir comigo. Imagina, que loucura. Fui sozinha, sim, senhora. E foi incrível! Eu nunca mais olhei para trás. Não se trata de rejeitar a companhia, mas de perceber que existe uma imensidão dentro de mim que só eu sou capaz de explorar de forma plena. E eu me apaixonei por isso. O cinema, por exemplo, deixou de ser só uma tela e se tornou uma conversa íntima entre os personagens e eu. O teatro não era mais uma plateia coletiva - era um diálogo exclusivo, que acontecia apenas entre mim e as palavras ditas no palco.
E o mais curioso é que, quanto mais a gente se acostuma a essa liberdade, menos se sente falta da presença alheia. Claro, nada contra os bons momentos compartilhados, as risadas entre amigos e os cafés que aquecem as tardes com boa companhia. Mas a independência de ser capaz de se divertir, de se compreender, de curtir você próprio, é uma conquista sutil.
Parece que a mulher, à medida que se conhece e se liberta das expectativas externas, começa a entender que não há nada mais bonito do que se fazer companhia. E as saídas sozinhas, os passeios em que a única conversa é com a própria mente, tornam-se momentos sagrados de autodescoberta. No fim, a companhia que você mais precisa, é a sua.
Claro, momentos curiosos já surgiram. Já me peguei tentando disfarçar o fato de estar sozinha em algumas situações, pensando que as pessoas poderiam achar estranho. Ainda há aquele dilema do “liberdade ou solidão?” na internet quando nos levamos para jantar só. Mas, logo, percebi que minha sensação de liberdade falava mais alto. É isso: a resposta é “liberdade”! Por que eu deveria me preocupar com o que os outros pensam? O teatro, o cinema, as músicas, os livros – tudo aquilo se tornava mais meu, quando eu não precisava compartilhá-lo com ninguém. A experiência era pessoal, única, e cheia de camadas.
Talvez o maior aprendizado tenha sido entender que estar sozinha não é um rótulo de solidão, mas um sinal de autossuficiência. E que, de todas as experiências que podemos viver, a mais rica é aquela que acontece quando temos a coragem de nos deixar ser, sem depender da aprovação ou da companhia de mais ninguém.
Hoje, não penso mais duas vezes. Vou a lugares sozinha. Eu sou a melhor companhia que poderia ter. E, de vez em quando, encontro outras mulheres também sozinhas, e sei que todas nós estamos, de alguma forma, nos celebrando nessa liberdade silenciosa. E o conselho do dia é: se ainda hoje você se questiona sobre sair sem companhia, simplesmente vá. Rompa essas limitações. Acredite em mim: é uma experiência muito prazerosa. Não há nenhum estigma social que consiga prevalecer diante de uma mulher que descobriu a tranquilidade de estar consigo mesma.
Até o próximo texto!
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