Às vezes, eu me pego perguntando: até quando vamos lutar por algo que parece sempre escapar das nossas mãos, como areia fina? A sensação de estar sempre tentando e nunca alcançar, de se esforçar até o último suspiro e ainda assim se sentir insuficiente. Esse é o lugar onde muitos de nós caímos, e é um lugar silencioso, onde ninguém vê, onde as palavras de encorajamento, por mais bem-intencionadas que sejam, simplesmente não chegam. Porque é uma luta interna, um campo de batalha entre quem somos e quem gostaríamos de ser.
Já me entreguei a metas, a promessas que fiz para mim mesma, a uma rotina que me esgotava, na tentativa de alcançar algo. Algo que nem eu mesma sabia definir com clareza, mas que sempre parecia estar logo ali, à frente, a poucos passos, mas que nunca vinha. E, com o tempo, as pequenas vitórias começaram a se tornar invisíveis. Como se elas não fossem o suficiente, como se o que realmente importasse fosse a grandiosidade dos feitos, o reconhecimento, a prova de que eu estava indo "bem".
Às vezes, na solidão da noite, quando o dia parece cobrar tudo o que a gente não conseguiu realizar, me perguntava se algum dia irei me sentir suficiente. Se aquele vazio, que a gente tenta preencher com prazos cumpridos, tarefas feitas, risco na lista de afazeres, vai, enfim, desaparecer. E a resposta, tão incômoda quanto sincera, é que talvez nunca seja suficiente. A verdadeira luta, na verdade, é aprender a se olhar no espelho e entender que já fizemos o nosso melhor.
Mas o que é "o nosso melhor"? Essa frase, que ouvimos desde crianças, já se tornou um mantra em muitas de nossas vidas. O que acontece quando você não sabe se o que fez foi realmente o melhor? Ou quando, depois de tanto tentar, você chega à conclusão de que, para o mundo, talvez ainda não seja o suficiente? Essas são as horas em que a solidão aperta, quando a luta fica mais difícil de explicar, quando o desgaste se torna visível apenas para quem já conhece a exaustão de uma luta sem fim.
Já perdi a conta de quantas vezes me vi no espelho, tentando encontrar o que falta em mim, tentando entender onde o buraco se esconde. Será que é a minha maneira rígida de me cobrar? A dificuldade de dizer “não” quando todos à minha volta precisam de algo, e eu estou ali, tentando preencher os espaços, como se isso fosse ser suficiente para ser amada?
A luta é essa: a constante tentativa de ser mais, de fazer mais, de conquistar mais, sempre na esperança de que um dia o “suficiente” chegue e eu possa me sentir completa. Mas, ao mesmo tempo, a sensação de que esse “suficiente” nunca se materializa. Ele é elusivo, como uma linha que nunca se alcança, uma promessa quebrada que fica me assombrando a cada passo.
Mas com o tempo, fui percebendo que a luta não precisa ter uma vitória definitiva. Não precisamos alcançar todos os objetivos, realizar todas as metas ou viver todas as expectativas. Às vezes, o maior feito é conseguir respirar, tentar de novo, seguir em frente, mesmo quando a sensação de insuficiência ameaça tomar conta de tudo. E, talvez, a maior vitória seja apenas parar de se cobrar tanto. Ok, isso parece cada vez mais distante...
Eu aprendi, e continuo aprendendo, que a vida não se resume ao que conseguimos conquistar. Ela se desenha também nos momentos de pausa, nas falhas que nos fazem humanos, nas quedas que nos ensinam a levantar de novo, nas pequenas coisas que nos fazem sentir vivos, mesmo quando não estamos completos.
A luta vai continuar. Eu sei disso. Mas, talvez, o truque seja encontrar algum tipo de paz no meio dela, como quem descansa no campo de batalha, sabendo que, por mais insuficiente que pareça, tudo o que realmente importa é o fato de que estamos aqui tentando, apesar da inquietude.
Até o próximo texto!
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