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"Canções para afastar o medo — Contos e acalantos latino-americanos": uma peça infantil necessária

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 09/08/2023 às 17:22:36

A importância do teatro infantil é imensa! Mesmo assim, tenho a sensação que nem mesmo uma parte da classe artística tem essa noção. São poucos os que levam seus filhos ou sobrinhos para assistirem peças, prestigiarem seus amigos.

Da mesma forma com a educação: a defendem, mas somente quando os professores entram em greve por salários menos vis…

Raras vezes encontramos alguém que trabalha para o teatro com seus filhos ou sobrinhos assistindo peças. Isso muito me preocupa! Penso: não bastaram quatro anos de angústia?

Espaços religiosos continuam abrindo, estão cheios, formando opiniões, enquanto os espetáculos infantis não chegam a preencher 50% da plateia. O perigo é constante…

Precisamos entender que são elas o público adulto de amanhã. O teatro infantil precisa de holofotes em relação a isso. Encontrar uma forma de trazer mais públicos, precisam de mãos potentes para auxiliar esses artistas neste momento que atravessamos.

Começaram com a educação, em breve a cultura torna-se alvo de sucateamento e outras coisas mais. Ao encontrar duas mães na porta do Teatro Gláucio Gil, em Copacabana, elas me disseram que o cinema é mais atrativo, que geralmente as mídias relacionadas aos filmes são mais sedutoras. É preciso mudar um pouco a forma de comercializar os espetáculos em redes sociais, eis aí um bom caminho.

O teatro comercial leva centenas de crianças para assistirem bonecos IDIOTAS, que nada ensinam. E ali alimentam seus filhos com mais idiotices, menos cultura, menos educação, um projeto inicial muito bem-vindo para tornar seu filho um robô do futuro, sem a capacidade crítica do indivíduo.

Mas o teatro ainda resiste: artistas ainda encontram sopros para continuarem avante nessa batalha da sobrevivência.

Eu não imaginava uma obra tão delicada, com histórias bem escritas que norteiam a montagem. Tudo tão generoso, tão artesanal. Confesso: pensei que as histórias fossem populares, de tão bem contadas, tão bem criadas, genuínas, que fascinam. São bem contadas, mediante bonecos montados pela própria atriz, um encanto de trabalho!

A atuação das atrizes convence quem deve ser convencido. No caso, o público infantil. Eles falam, sorriem, uma bagunça só. Há uma bela conexão entre eles.

Uma arte rica passada para nossos pequenos. É fato que espetáculos de bichos peludos iriam "latir" muito longe, se eu tivesse filhos. Ainda mais quando não são brasileiros e não carregam nada, absolutamente nada da cultura do meu país! Que me perdoem os demais produtores de “teatro”. Sei que não precisamos diminuir ninguém. No entanto, parece que é preciso desenhar para tentar mudar alguns conceitos no meio da sociedade em que vivemos.

Crianças são multiplicadoras de ideias e, quanto mais coisas boas embutimos nelas, mais coisas boas irão permear entre nós, principalemnte no futuro deles.

Os pais estão tão capitalistas que deixam de enxergar o óbvio...

Cantigas de diferentes países, palavras novas, um show de cultura que explode no Teatro Gláucio Gil. Não cabe mais ao brasileiro ter uma atitude tão medíocre em continuar em mares rasos com seus filhos, um país que não amadurece! Principalmente os pais, que deveriam ter, no mínimo, bom senso.

O Brasil, principalmente o Rio de Janeiro, é uma fábrica de cabeças pouco pensantes E digo isso com pesar. Em São Paulo, o teatro acontece. São espaços com 400 a 500 lugares cheios, enquanto aqui, muitas vezes, não enchemos salas com 120 lugares.

O ator que sobrevive a esse caos do Rio, muitas vezes "mete o pé". E quem perde? A sociedade carioca, que fica mais vazia, mais oca, sem condições de receber espetáculos de fora, de outros estados, pois não temos a certeza do comparecimento do público.

Senhores pensantes, assisti duas atrizes que dão um show de fábulas e canções, onde as crianças quebram a quarta parede para participar. Você está preocupado em levar o seu filho para assistir o que não carrega raízes ou nada ensinam? Cultura fútil, que em nada auxilia na educação infantil?

Penso que é preciso entendermos um pouco dos propósitos educacionais.

Para ter um futuro menos raso.

Um espetáculo onde os figurinos carregam cores que prendem a atenção dos pequenos, tudo bem pensado, mesmo sem um patrocínio. Com movimentos corporais divertidos e simpáticos, pois a plateia mirim se esbalda de rir.

A peça infantil respeita o nosso povo originário e também o reverencia, canta a canção dele, nosso tupi, incentivando a plateia a cantar junto. Detalhe: ela CANTA!

Pergunto: o que buscam para seus filhos?

O olhar da atriz que conta as histórias se conecta com os das crianças presentes.

Será que é válido levar esse público a olhar bonecos sem alma no palco ou apreciar o humano?

O cenário dessa viagem é criado pelas artistas no decorrer das histórias. Feito de oito metros de juta – tecido oriundo de uma planta indiana -, cultivada no Brasil e outros países da América Latina. Versátil, a juta se transforma numa grande cordilheira, se desdobrando em montanhas com cavernas, num enorme rio e em caminhos íngremes percorridos pelos personagens confeccionados em lã por Rosana.

A explicação da juta é linda. Eu não tinha ideia de onde vinha o tecido. Ambas com movimentos de corpos que levam as crianças a sorrisos, gargalhadas. Nada de silêncio sepulcral.

Que orgulho em termos, em nossos palcos, peças como essas, que tanto ensinam.

Fala sobre o afeto materno, as regiões e os povos originários. Que concepção artística tão necessária, tão contemporânea.

A peça recebeu sete indicações no 7º Prêmio CBTIJ de Teatro para Crianças 2022: melhor espetáculo, texto adaptado, cenário, figurino, formas animadas, atriz (para Rosana Reátegui) e música adaptada/trilha sonora (para Natalia Sarante) – tendo levado o troféu nas duas últimas categorias.

Temos atrizes potentes. Nem sempre a premiação é algo que me convence, sabemos das políticas no meio teatral, mas no caso dessas profissionais cênicas, é possível entender as indicações. Elas são banhadas na ternura, na alegria e na contação de histórias.


Penso ser esse um espetáculo que o brasileiro deveria seguir, principalmente o carioca. Ele necessita muito de se conectar com o aprendizado, porque a situação só piora para nós.

Se existe a vontade de você, leitor, dar ao seu filho uma ideia de como é o mundo, a vida através do afeto e das percepções verdadeiramente culturais, leve seus filhos ao Gláucio Gil. O teatro está ao lado do metrô, nada difícil de chegar e tudo fácil deles entenderem!

Sinopse

A viagem começa numa vila chilena, na Terra do Fogo, onde uma criança com medo chora porque raposas rondam a sua casa. O que pode fazer a mãe para acalmá-la? Seguindo as cordilheiras do Andes, rochas ecoam o canto de uma mãe para sua filha doente, numa cantiga que se repete durante toda a noite para evanescer a dor. Longe dali, um outro canto ressoa nas areias das Antilhas: um bebê só quer dormir quando a mãe voltar do trabalho. E, por fim, chegamos ao México, onde mãe e filha cantam para se reencontrarem.

Ficha Técnica

Produção: Qinti Companhia e eLabore.Kom

Idealização e Concepção: Rosana Reátegui

Coordenação Geral: Kirce Lima

Direção: Rosana Reátegui e Marise Nogueira

Atuação: Rosana Reátegui

Canto e Arranjos: Natalia Sarante

Figurinista: Francisco Leite

SERVIÇO

Local: Teatro Glaucio Gill Praça Cardeal Arco Verde, S/N – Copacabana

Temporada: De 05 a 27 de agosto / Dias e horário: Sábados e domingos, às 16h

Classificação Indicativa: Livre

Ingressos na bilheteria


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