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"Noel Rosa: Coisa Nossa": um manjar dos deuses cênicos

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 01/09/2023 às 15:12:19

Noel Rosa foi um dos responsáveis por tornar a moderna música popular brasileira no ícone máximo de representação da identidade nacional.

Um grande artista, quando entra no palco, pulsa, esquenta, nos inquieta, nos hipnotiza, nos leva a diversas sensações, nos faz revisitar cenas de nossas próprias vidas. Ele é responsável pelas catarses que procuramos no fundo das nossas almas ao entrarmos em um teatro.

Foi no Teatro Prudential, através do espetáculo "Noel Rosa: Coisa Nossa", com os artistas Alfredo Del-Penho e Fábio Enriquez, que encarnam um dos maiores compositores que o Brasil teve - melhor dizendo, ainda tem: o grandioso Noel Rosa, que reafirmo o parágrafo acima.

Faz um tempo que não vejo uma plateia tão agradecida. Tampouco ouço aplausos prolongados em um teatro da proporção do Prudential. Tanto que os artistas no palco já não sabiam como agradecer aos espectadores tanta gentileza. Se curvaram uma, duas, três vezes, e os aplausos não cessavam. Quando eu pensava que ia parar, mais aplausos calorosos. Porque tínhamos razões de sobra para isso!

Não foi uma estreia para convidados. Portanto, não havia tantos amigos dos artistas na plateia, o que muitas vezes me causam um certo desconforto pelos risos sem motivos, palmas desnecessárias, show de apelação amigável, disparate da falta do bom-senso. É o que penso. O que não aconteceu desta vez, para minha alegria. A plateia gostou, e gostou muito! E como não gostar?

Primeiro, não estamos falando do "Zé da Couve", mas sim do estupendo Noel Rosa, que revolucionou a Música Popular Brasileira. Um homem simples, que até hoje é tocado e cantado.

“A música mais ouvida é Conversa de Botequim, executada mais de 546 mil vezes no Spotify e 1,3 milhão de vezes no Youtube. A canção, registrada em 1935, foi feita com o compositor e arranjador paulista Vadico, considerado o maior parceiro de Noel”. (BBC News Brasil)

Quando entramos no teatro, algumas projeções do desenho de Noel estão nas paredes, por meio de refletores e películas finas, metalizadas, que se chamam gobos.

Quando saí de casa, lembrei-me do filme "Noel - Poeta da Vida", com Rafael Raposo e Camila Pitanga. Um filme lindo, que me levou ao compositor, ao tempo vivido por ele. Assisti durante a pandemia, mas a peça, me aproximou ainda mais do meu ídolo, do artista que tanto admiro. Eu, que sou da zona norte, pertinho do bairro onde nasceu Noel Rosa. Aliás, penso que Rosa seja um nome importante para nós brasileiros, na literatura e na música, isso está mais que certo.

Não havia um figurino pomposo, mas sim aquele terno de linho apropriado para o espetáculo. Aqueles ternos que simbolizam tanto os boêmios do samba. As indumentárias das atrizes falavam sobre a época, cheias de franjas. Esteticamente correto. A rubrica é de Ronald Teixeira.

O cenário também não tinha muito que chamasse minha atenção. Em contrapartida, os artistas trouxeram para si a responsabilidade de executar com maestria uma obra que homenageia um brasileiro agraciado in memoriam com a Ordem do Mérito Cultural do Brasil, na classe de grão-mestre, em 2016.

Que fique claro: quando vou ao teatro, não saio de casa em busca de cenários faraônicos. Quando os vejo, admiro, óbvio, mas o que eu quero mesmo é ver artistas a la Molière, meus caros. E foi o que assisti. Pouco me importa a opinião dos demais, eu quero é artista incandescente. E me queimei com eles no "Noel Rosa - Coisa Nossa!" Viva!

Eles atuaram muito bem, o fizeram com a alma, com musicalidade, pois é exatamente isso que Noel representa. Aliás, Noel é sinônimo de boa música. Estou errada? Claro que não!

Ouvir Último Desejo, Conversa de Botequim, Feitiço da Vila, Gago Apaixonado, Com Que Roupa? e Fita Amarela, em acordes bem executados e vozes que entorpecem, já me basta. E se tenho a oportunidade de um texto que chega como mirra aos meus ouvidos, que eu celebre!

Noel Rosa fez parte dos membros das classes dominantes que aprenderam a fazer samba também. Naquela época - acreditem! - quem vendia samba eram sempre os negros semi-alfabetizados, moradores de favelas. Cartola, Nilton Bastos, Marçal, entre outros.

"Esses dois grupos de compositores geraram uma nítida dicotomia na evolução do samba. Os compositores profissionais embarcavam no mundo dos rádios e dos discos, enquanto os outros sambistas, indissoluvelmente unidos, compunham à beira do mercado. Eram universos estanques e, nas quadras, era proibido cantar 'sambas de rádio'”. (Livro 500 Anos da Música Popular Brasileira - Museu da Imagem e Som)

Mesmo diante das diferenças do mercado musical da época, Noel estava sempre na companhia dos sambistas. Após sua morte, todos se uniram e reconheceram seu tamanho, sua beleza musical onírica. É fato que não era real a forma que ele compunha, ele transitava no mundo irreal, só pode…

Intrigante mesmo foi Noel ter nascido em 1910 e morrido em 1937. Com tão pouco tempo de vida, ter deixado o legado que deixou.

Exatamente por isso, vejo essa homenagem carregada de teatralidade, muitíssimo importante para nossa cultura. Principalmente, diante de um cenário musical atual, que não tem agradado muito à sociedade. É o que ouço por aí.

Se falamos em música, impossível não falarmos em movimento. Nesse quesito, Renato Vieira não deixou passar nada. Através dos artistas, dos corpos de cada artista no palco, era notável o trabalho da direção dele, uma performance de altíssimo nível. Eram passos de malandro, gafieira, uma coisa gostosa de assistir. Os artistas estavam bem ensaiados.

A iluminação de Rodrigo Belay chamou a atenção pelas leds utilizadas, muitas vezes na penumbra, com um azul e rosa, ou vermelho, não sei ao certo. Ficaram bem.

Alfredo Del-Penho e Fabio Enriquez deram vida a Noel Rosa. Quanta força saia de ambos no palco! Em uma balança, mesmo que apontássemos pontos negativos e positivos dos atores, as peculiaridades de cada um deles os deixam na mesma medida, do mesmo nível. Incrível!

Fábio, o artista de estatura miúda, já tinha chamado minha atenção em outro espetáculo. No entanto, a peça que ele apresentava não tinha chamado a minha atenção. Mas ele ficou guardado em minha memória. Eu disse para mim mesma: um dia encontro esse miúdo por aí, porque ele é bom!

E, dessa vez, posso falar a respeito da sua sinergia. Ainda mais: falar sobre sua identidade artística legitimada. É prazeroso assistir o Fábio, ele nos leva a risos e também a emoções. Principalmente quando conta o seu tempo de vida, ao perder a única possibilidade de ser pai. Lindo momento! Vi seus olhos vermelhos. Acredito que segurar a emoção não tenha sido fácil. Um corpo lindo no palco, com passos de um verdadeiro malandro da Lapa. Ele se entregou ao Noel!

Já o ator Alfredo é um desaguar de musicalidade. Como um anjo da música, impressiona a plateia. Alfredo faz parte do coletivo "A Barca dos Corações Partidos", celeiro de feras teatrais. Na verdade, essa foi a primeira vez que o vi sozinho. Lembrei-me dos céus, onde estão as estrelas. Mas, dessa vez, como se uma nuvem cobrisse as demais e somente uma ficou visível para mim. E ela brilhava com um resplendor digno de todas as atenções. Um artista completo, que toca e canta com tanta beleza, tão encantador que nos eleva a outro degrau: o da satisfação. Anda, toca, encena, tudo ao mesmo tempo. Será mesmo que ele fez tudo isso ou eu ando vislumbrando demais?

Caca Mourthé é quem dirigiu a obra. Claro que não há nada que desaprove com uma caixa cênica imensa como a do Teatro Prudential, sem um cenário que lhe auxiliasse e cinco artistas darem conta de todo o espaço. É, no mínimo, respeitável, sem contar a coragem, para transformar e reverter tudo a favor da obra. E ela conseguiu! Certamente que seu trabalho em equipe deve ter sido de uma capacidade imagética sem tamanho. Penso que, juntos, chegaram ao objetivo: mexer com o espectador!

Há na obra simpatia, dinamismo e desbunde, quando falamos em fazer o bom teatro.

Geraldo Carneiro é o autor do texto. Vale mencionar que são mais de 50 anos atuando com a cultura do nosso país, um dramaturgo que não poupou poesia, trocadilhos inteligentes e rimas que caíram super bem. Um texto lindo, de fácil compressão. Trouxe a história de Noel com graça, contando - com detalhes - alguns dos momentos mais importantes do artista. Irrepreensível.

Permeou entre a doença e os amores de Noel com cordialidade, não deixando passar momentos que enredaram suas músicas, sem atenuação. Digo mais: uma pesquisa que merece nossa apreciação.

Penso que Noel ficaria feliz com a obra, pois é através dela que sabemos um pouco mais do homem que ele era.

Foi contada de forma cronológica, com suas músicas trazidas com assertividade. Encaixes perfeitos. Nada que desmerecesse seu trabalho. O texto é tão vivo que a obra passa ligeira diante de nossos olhos.

Um manjar dos deuses cênicos para nós que amamos o teatro!

Julie Wein, Dani Câmara e Matheus Pessanha são os três artistas que complementam a obra. Representam grandes amigos e amores do compositor. Vozes potentes e musicalidade que traduzem espantosa engenhosidade vocal. Chegamos a nos perder suspirando com suas vozes. Cada um com seu tom, pode-se dizer com sua cor. Os três artistas são suficientes, possuem gana de fazer bem feito. E fazem!

Falar em Noel Rosa é mergulhar na história do nosso país, é pensar na medicação que chegou tardiamente ao Brasil para a doença que o levou, é lembrar da sua ambrosia, concebida pelos deuses, quem sabe concedida pelo deus Apolo. Falar de Noel é lembrar da Vila, do Feitiço que ele nos apresentou, das calçadas musicais do compositor, da estátua de bronze. Suas músicas ainda são referências e JAMAIS se apagarão.

Noel viveu 26 anos que valeram por 70, sempre feliz e contagiante É um orgulho termos em nossa história um compositor do nível dele. É para falarmos ao mundo, pois há em nós uma soberania incomum quando falamos desse artista.

O espetáculo também reconhece as palavras acima. Afinal, é fato que os artistas não o fizeram da boca para fora. Há tanta musicalidade entre eles que logo fica em evidência que comungam dos mesmos fios de pensamento que tenho. Somos fãs de um artista consagrado, que não será apagado. E relembrar é importante! Abastecer nossas memórias com um artista do tamanho de Noel é, no mínimo,prazeroso.

Uma peça leve, feita para os cariocas que apreciam boa música e um bom teatro!

Com que roupa você vai assistir? Não posso te responder, só não deixe de ir para o teatro que o coletivo te convidou!

Sinopse

Recheada de som, humor e poesia, a montagem é caracterizada pelas noitadas em bares e a luta de Noel contra a tuberculose. O Rio de Janeiro, o Brasil, os marginalizados e as dores de cotovelo embalam canções clássicas do autor, como “Gago Apaixonado”, “Com que Roupa” e “Fita Amarela”.

Ficha Técnica

Texto: Geraldo Carneiro

Direção: Cacá Mourthé

Idealização: Eduardo Barata e Marcelo Serrado

Elenco: Alfredo Del-Penho, Fábio Enriquez, Julie Wein, Dani Câmara e Matheus Pessanha

Diretor de Arte, Cenógrafo e Figurinista: Ronald Teixeira

Direção de movimento e Coreografia: Renato Vieira

Realização: Barata Produções e Rio MS

Classificação: 12 ANOS

Duração: 90 MINUTOS

- DESCONTOS: (Válidos para compras na bilheteria do teatro, site/app Sympla e caixa de autoatendimento):

MEIA-ENTRADA: CONFIRA AS REGRAS DA LEI DE MEIA ENTRADA - https://bileto.sympla.com.br/meia-entrada/

É NECESSÁRIO APRESENTAR DOCUMENTO QUE COMPROVE O DIREITO AO DESCONTO NA ENTRADA DO ESPETÁCULO.

DESCONTO 50% PRUDENTIAL

- Bilheteria: Compra de até dois ingressos (beneficiário + acompanhante), mediante apresentação do crachá Prudential ou fornecendo algum código promocional.

- Online: Compra de até dois ingressos (beneficiário + acompanhante), mediante inserção de algum código promocional.

DESCONTO 50% - GIRO METRÔ RIO

- Válido para compra de 1 ingresso. O desconto de 50% será aplicado no valor total do ingresso. Para validar o benefício, insira os 8 dígitos do seu cartão Giro no campo CUPOM (desconsidere os zeros no início do cartão). Ao fazer o cadastro no ambiente Giro aguarde até 48h úteis para validação do desconto. Será obrigatória a apresentação do cartão Giro, junto ao ingresso físico na entrada do Teatro para comprovação do benefício.

DESCONTO 50% - CLUBE O GLOBO

- Bilheteria: compra de até dois ingressos (beneficiário + acompanhante), mediante apresentação da carteirinha do Clube O Globo.

- Online: compra de até dois ingressos (beneficiário + acompanhante) selecionando a opção “Promocional Clube O GLOBO - 50%” e inserir o cógico promocional, caso você não tenha este código, entrar em contato com o SAC do Clube o Globo, comprovação deve ser feita presencialmente, mediante a apresentação da carteirinha na entrada do evento.

DESCONTO 50% - PRODIGY SANTOS DUMONT

- Bilheteria: Compra de até dois ingressos (beneficiário + acompanhante), mediante apresentação do e-mail de confirmação da reserva, não existe modelo padrão pois podem ser feitos através de diversas plataformas (decolar, hotéis.com. Booking, etc...) .

- Online: Compra de até dois ingressos (beneficiário + acompanhante) selecionando a opção “desconto 50% - Prodigy Santos Dumont”, comprovação deve ser feita presencialmente, apresentação do e-mail de confirmação da reserva, não existe modelo padrão pois podem ser feitos através de diversas plataformas (decolar, hotéis.com. Booking, etc...) na entrada do evento.

INGRESSOS:

- APP ou Site da Sympla: https://www.sympla.com.br (com taxa de conveniência)

- Bilheteria física (sem taxa de conveniência):

Atendimento Presencial: De terça à sábado de 12h às 20h, Domingos e feriados de 12h às 19h. Em dias de espetáculos, a bilheteria permanece aberta até o início da apresentação.

Autoatendimento: A bilheteria do Teatro Prudential possui um totem de autoatendimento para compras de ingressos.


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