“Diário de Pilar na Amazônia”: texto prima por uma linguagem apropriada para os pequenos

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 25/10/2023 às 12:03:37

“Diário de Pilar na Amazônia” sempre chamou minha atenção. Sigo a página deles no Instagram faz um tempinho. Eu "namorava" Pilar sem que ela soubesse. O conceito visual que eles apresentam é delicado, com ilustrações lindas e assertivas para o público-alvo. É um bom gosto tão apurado que me sentia seduzida a saber por onde eles estavam: tanto as peças quanto as novidades que a menina Pilar traz nos livros. Fazia um tempo que eu queria assistir à montagem teatral. Até que o meu dia chegou, para minha alegria. O espetáculo está no shopping da Gávea, cheio de mensagens importantíssimas para os nossos pequenos.

Uma das coisas que me fizeram escrever sobre essa montagem infantil é a importância do tema. Esse espetáculo é para ontem, pois fala sobre nosso folclore, nossa cultura, sobre a importância de preservar o meio ambiente e sobre nossos indígenas, o povo originário dessa terra. Se o teatro fosse um hábito de nossas crianças, não teríamos quatro anos de um desgoverno que não poupava a destruição do coração do mundo.

A história conta a busca da menina Pilar pelo pai. Dessa vez, ela vai para Amazônia. Ao chegar lá, encontra uma indígena que, além de ter se perdido da família, também está preocupada com a derrubada de árvores em terras amazônicas. Ela e Pilar resolvem “preservar para respirar” Adorei a frase!

Elas resolvem fazer a travessia de barco. É exatamente aí onde a Amazônia é desnudada para a plateia, com arara e tucano, com direito a sereia Iara e também, imageticamente, a explicação do Rio Amazonas com a fusão dos demais rios da região! Que delicinha!

A atriz Mirian Freeland, a Pilar, está com um vestido jeans e, por baixo, usa calça vermelha e branca listrada, como se fosse uma leg, assim como na ilustração do livro. A indumentária é infantilizada, uma graça. Na verdade, este espetáculo tem conquistado seu público alvo. As poltronas ficam "cheinhas", pelo menos é como estava quando fui assistir à obra. Não só isso: os pequenos se conectam à história. A protagonista Pilar é encantadora. A atriz não se exaspera, sua personagem é doce e delicada: essas são as marcas da menina Pilar.

O espetáculo contou com a beleza da cenografia da profissional Natália Lana, que dispensa elogios. A cenografia dá brilho à montagem, com cores que representam a flora do nosso país, tons que definem ainda mais uma peça tropical.

Natália mergulhou na Amazônia. Toda vez que ela vai atrás do conhecimento, volta brilhantemente, nos deixando boquiabertos com seus feitos.

Os objetos de cena são incríveis e o teatro de animação grita com a fauna. A direção soube trazer ferramentas do teatro infantil e não pecou.

Mas sabe mesmo o que eu queria dizer a respeito dessa montagem?

Penso que o futuro da nação são as crianças do nosso país. São elas que determinarão como será este amanhã. Precisamos muito semear boas sementes nelas. Tirar mais as crianças da frente do celular, dar a elas outros saberes. Vale muito ensinar que existe um mundo fora de uma tela, que existem outras crianças e histórias, que existe um pais que é delas, somente delas.

Elas precisam aprender sobre quem são, sobre a cultura que pertence também a elas, o folclore de um povo, que passa de geração em geração e elas fazem parte desse tempo, dessa continuidade.

É importante que elas estejam integradas a tudo que esse país tem a oferecer. Pilar oferece tudo isso. Transmite amor, ensina que existe outro idioma que um dia foi predominante aqui, que os homens maus não prevalecerão, que a natureza tem sua força, que - quando nos unimos - podemos ir muito mais longe.

O valor da amizade também é evidenciado. São tantas mensagens importantes que a criança levará para a vida a mensagem desse espetáculo.

Além da estética visual que é linda, a iluminação auxilia muito na dinâmica da peça.

Músicas animam a plateia e os pequenos, sempre com mensagens que fazem valer a ida das crianças para assistir à obra. Sem contar a quebra da quarta parede, a aproximação do artista do seu público, fazendo a plateia mirim ficar ensandecida, torcendo pelo bem!

Bacana também é saber que temos aí uma saga da Pilar em formato de livro. O Natal está chegando e por que não presentear uma criança?

https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9786588899533/diario-de-pilar-na-amazonia

É um texto que prima por uma linguagem apropriada para os pequenos, que faz essa mesma plateia entender, através da atuações dos artistas, que o mal pode ser extinto!

Se eu tivesse um filho, obviamente, ele iria acompanhar a saga da querida Pilar, no Egito, na Grécia, do Oiapoque ao Chuí.

SINOPSE

Pilar é uma menina curiosa e aventureira que adora descobrir os mitos do mundo todo, sempre defendendo a natureza, os animais e as pessoas. Com o seu mais-do-que-amigo Breno e seu gato Samba, ela embarca em sua rede mágica para se aventurar pelo mundo.

Viajando a bordo da rede mágica, em mais uma aventura de tirar o fôlego, a destemida Pilar faz ecoar um apelo para sermos mais atuantes na preservação do nosso planeta. Preocupados com as consequências nocivas do desmatamento, Pilar, Breno e o gato Samba se transportam para a floresta amazônica, onde ficam amigos de Maiara. Juntos, eles enfrentam um perigoso grupo de madeireiros que querem destruir a floresta, colocando pessoas, flora e fauna em risco. Navegando pelos rios Amazonas, Solimões, Negro e Tapajós, os amigos têm encontros surpreendentes com a Iara e o Curupira, além de momentos inesquecíveis em meio à natureza local. Nessa viagem repleta de aventuras e descobertas, Pilar viver experiências incríveis e transformadoras.

FICHA TÉCNICA

Idealização: Miriam Freeland

Baseado na obra de Flávia Lins e Silva

Ilustrações: Joana Penna

Direção e Adaptação: Symone Strobel

Elenco: Miriam Freeland, Fernando Melvin, Jorge Neves, Ludimila D’Angelis, Márcio Mattos, Sávio Moll e Valéria Alencar

Cenário: Natália Lana

Iluminação: Felipe Lourenço

Figurino: Luciana Buarque

Criação e Execução de Bonecos: José Cohen e Lucila Belcic

Direção Musical e Arranjos: Marco de Vita

Canções Originais: Symone Strobel e Marco de Vita