A vida real é severa e, às vezes, a gente só quer fugir dela, não? Confesso: afinal, quem não gostaria de estar encarnado no paraíso? Até podemos ser os roteiristas de nossas histórias, mas o cargo de direção já são outros quinhentos. Ou seja, nem tudo depende apenas de nós, mas que assumamos o nosso papel com maestria.
Se você é supercontrolador, assim como eu, esse texto é para você! (Ou melhor, para nós!).
Sei que não sou a primeira pessoa a te dizer isso, mas vamos analisar essa ideia aqui: não podemos controlar o mundo à nossa volta. Certo? Mas pense, podemos e devemos nos responsabilizar pela forma como recebemos e transformamos o que vem até nós. Não podemos mesmo controlar os fatores externos, mas podemos, com muito trabalho, nos responsabilizar pela forma em que nos afetam.
A gente não pode ignorar tudo jurando que, assim, os incômodos desaparecerão como mágica. A gente não pode fugir para sempre, tampouco fazer do escapismo o nosso lar. E, como eu disse em 2016, em “Assinado, Menina Aleatória’’: a faixa sobre seus olhos esconde o mundo para você, mas não esconde você do mundo, e se esconder dele não fará que o desapareça.
Reflita: se você pudesse se mudar para o passado, existe um espaço confortável para você? Será que a comodidade e a capacidade de evolução comportam a mesma frase? Bom, todo mundo teve uma fase inesquecível. Ponto. Se eu te perguntasse agora sobre o melhor ano da sua vida, com certeza você saberia me responder pelo menos um. Eu torço para que tenha sido muito mais que isso até. E essa fase pode ter ocorrido na infância, com a leveza naturalmente proposta. Ou na adolescência, com aquele drama que só existia em nossa mente, mas também provida de turbulências. Ou, quem sabe, na fase adulta, mesmo com tantos compromissos, mas também com a independência batendo à porta. Inclusive, até que ponto a autonomia é tão boa assim? Às vezes, a gente só quer voltar para o berço. Queremos crescer, mas também queremos retornar aos primeiros passos. Na verdade, a gente nem sabe o que a gente quer. Queremos é ter controle sobre o tempo e o presente nunca nos parece o melhor lugar para morar. Sofremos com o passado, nem que seja de saudades. Ansiamos o futuro. Mas raramente vivemos o único tempo possível: o agora!
Os bons momentos são como um refúgio nos dias e fases mais difíceis. A gente precisa, vez ou outra, acessar aquelas fotos, vídeos, músicas... Assistir de novo aos filmes e séries que "maratonávamos" numa época mais feliz. Ler os livros que funcionam como um passaporte para os ‘’bons tempos’’. Olhar para fotos com pessoas que sequer fazem parte da sua vida hoje, mas foram personagens cruciais em outros epsódios mais antigos. Inclusive, relembrar uma boa época com alguém não anula qualquer mal que ela pode ter te causado posteriormente. Então, nada de recaídas e, menos ainda, trazer de volta quem deve permanecer no passado, combinado?
Consumir a saudade e acessar as lembranças é entender o quanto a vida vale a pena. É como recarregar as energias, sabe? E lembrar que tudo passa: se os dias bons chegam ao fim, os ruins também chegarão. Por um segundo, reviver as memórias do que foi bom impulsiona a crença que ainda há muito pela frente.
Mas o que não podemos é nos esconder do mundo real e viver no passado. Não é novidade para ninguém que o excesso é elemento negativo. Até que ponto a nostalgia é saudável? Fingir que a estrutura da nossa vida não sofreu alterações, não traz a juventude de volta. Fingir que as coisas não estão acontecendo, não a insentam de continuar a acontecer. Fingir que aquele boleto não existe, não te insenta de pagá-lo. Fingir que aquela garrafa vazia na geladeira não está tão vazia assim, não fará com que você tenha o que beber. Estar triste não te fornece um atestado para faltar o trabalho. Quem dera, não?
A faixa sobre seus olhos te tira a visão, mas não pausa os acontecimentos. Você só não consegue ver... Fechar os olhos não fará o mundo parar. Então é hora de despertar! O equilíbrio de nossa existência se faz justamente no aprender a lidar com os dias ruins também. É sobre ter coragem para enfrentar cada dia. Autocrítica, tá? Eu constantemente acesso o passado e vivo de lembranças, apesar de construir intensamente o meu futuro. E, às vezes, chego a duvidar se estou vivendo o agora. Você está? Espero que sim.
Enquanto, no último texto, eu alertava sobre esforços não só para amanhã mas para o amanhã, neste realço que uma dose de nostalgia também cai bem. Mas o que realmente vale a pena é o agora... É a única certeza que temos. Portanto, que despertemos! Que nos seja possível abrir os olhos e remover a faixa. E que sejamos capazes de desenvolver mais estabilidade entre as sensações e os tempos para uma existência mais prazerosa.
Até o próximo texto!
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