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“A Fabulosa Fábrica de Música”: uma obra rica em todos os quesitos do teatro

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 26/10/2023 às 11:41:32

Quando nos dispomos a escrever sobre um espetáculo, nos preparamos e procuramos as melhores palavras para reconhecer uma obra. Às vezes, temos um trabalho mais rebuscado para tentarmos evidenciar o impacto que a peça nos causou. Esse é o caso desse espetáculo.

Quando fui assistir, confesso que não esperava ver nada daquilo que assisti. Não mesmo, se bem que a assessoria da JS Pontes raramente me decepciona, sempre com excelentes obras.

Mas "A Fabulosa Fábrica de Música" me emocionou muito. Há tanta beleza nesse projeto, tanta emoção envolvida, que prazerosamente escrevo sobre ela. É um desaguar de vida, um projeto que fala muito ao coração, além da riqueza que ele carrega com mensagens que auxiliarão muito os pequenos dentro dessa humanidade ou, posso dizer, se reformulando com toda liberdade que precisamos.

Meu amigo Gilberto Bartholo sempre fala: tudo começa com um bom texto.

De uns dias para cá, tenho aprendido muito com as premiações de teatro. Nenhum deles chancela um artista, apenas aquele trabalho específico. Tenho assistido obras novas de alguns artistas premiados e questiono para mim mesma: politicagem nas premiações ou o artista se perdeu no caminho?

Então, o que leva o artista a ser reconhecido de fato não é um prêmio, seja esse qual for, independente do peso que ele tiver. A continuidade de bons trabalhos, isso sim, é o que me faz reconhecer um artista de ponta.

Adalberto Neto é um dramaturgo premiado, um jovem artista que sabe manusear as palavras. Fez uma bela adaptação para "O Mágico de Oz" em São Paulo. O dramaturgo chegou à maior premiação de teatro do Brasil. Mas, como disse, o que chancela a beleza e unanimidade do seu trabalho são suas dramaturgias que seguem, nos mantendo convictos que ele chegou para ficar.

"A Fabulosa Fábrica de Música" é de uma inteligência e perspicácia encantadora, um inesperado show de músicas e fios de pensamentos, tudo muito bem cerzido. É notável a criatividade do artista, que simplesmente parece ter sentado com uma criança e saindo inventando tudo, o certo ou errado, esquecendo a literatura, o que esta dentro ou fora do tempo, porque há tanta beleza que é possível entrar em um universo utópico, paralelo, enquanto assistimos ao espetáculo.

Uma escola de música recebe uma caixa de música e os alunos a deixam cair no chão, a deixando em pedaços. Com isso, a magia da música acaba, ninguém mais canta, nem as rádios tocam, somente dentro da Fabulosa Fábrica de Música. Lá tudo é mágico e os alunos descobrem esse lugar, que está localizado em um sótão na escola.

Mas a perspicácia do dramaturgo não somente ousou em inventar uma história eficiente, criativa, gostosa. Ele foi além: trouxe músicas da nossa MPB, as clássicas e também as não tão clássicas, mas apreciadas pelos brasileiros. Sensacional.

Ainda não muito satisfeito e consciente da oportunidade do teatro em falar ao coração, trouxe temas necessários para que as crianças cresçam mais diversos, sem qualquer tipo de pensamento extremista que, como sabemos, não leva a nada. Separações, adoções, homossexualidade, tudo com muita sutileza e, acima de tudo, amor. É notável como Adalberto enxerga a vida assim, porque não nasce cravos de raízes de orquídeas.

Um texto bom precisa de artistas potentes para que a história saia do papel e crie vida. Esta produção, esse idealizador, soube fazer a escolha desse elenco que, visivelmente, é formado por artistas MARAVILHOSOS!

O produtor foi exímio em dizer que os novos artistas (crianças) estão se entendendo como artistas. Aliás, há adultos que ainda não se entenderam.

O produtor sabe e está totalmente consciente das atuações. Curti!

O espetáculo apresenta o ritmo, a melodia e a harmonia, com três artistas PERFEITOS e no mesmo nível artístico. Cantam e interpretam como um colar de pérolas verdadeiro, onde não há diferença entre cada pérola. Um desbunde de talentos!

Du Herrera, Franciane Melo, Rômulo Weber, Carol Donato, Vitória Rodrigues e Rodrigo Fernando são, indubitavelmente, belíssimos. Eles me tiraram do chão, me fizeram chorar, me emocionaram ao extremo. Parece que entenderam que, juntos, são realmente fortes, são joias e deixam a peça incrivelmente satisfatória para crianças e adultos.

Para esses artistas deixo um recado: perseverem com o dom do encantamento de cada um de vocês. Aprendi com um amigo do teatro, Marcos Americano, que uma crítica jornalística era festejada em um dia e, no outro, embrulhava vísceras de peixes na feira. Portanto, essa escrita não é uma verdade, mas a alegria do meu coração é. E afirmo que é onde vocês estão: no meu coração.

Eu resumo que o bom teatro cumpre a função de uma boa orquestra da tríplice cênica, onde o artista, a plateia e o texto precisam estar conectados para a montagem ser perfeita. Mas, dessa vez, ficou impossível não mencionar a beleza visual dos demais fazedores de teatro.

O cenógrafo Glauco Bernardi estudou, certamente, com Merlin e Hari Houdini. Porque magia é o que ele sabe fazer! Este profissional me levou a outro lugar, trouxe verdade. Com cores certas e muita beleza, fez com que esta obra sobressaísse entre muitas outras assistidas. PARABÉNS!

Dicko Lorenzo, o visagista, é o dono da bola, ao lado do figurinista Bruno Oliveira. Ambos nos desmontam e nos deixam boquiabertos. Figurinos que se misturam entre cores cobre e dourado envelhecidos. Assim chegam o ritmo, harmonia e melodia. Uma loucura, bom gosto resume! Tudo muito ostentoso! Brilho, muito brilho!

As crianças da escola estavam com um verde em tom mais claro, que contratava muitíssimo bem. E Beethoven? Uma cor quente, com as teclas do piano. Que exatidão incontida do Bruno!

E, como cenógrafo, o figurinista também traz magica aos figurinos. Não vou contar, só adianto que os olhos que estão na plateia brilham e crescem nesse momento!

Vou fechar essa escrita indicando muito esse espetáculo, porque somos um povo festeiro. E festa sem música não existe, não tem graça!

O projeto é perfeito, Beethoven merece ser apresentado às nossas crianças dessa forma, sem tirar nem colocar uma vírgula.

Que maravilha é o artista que interpreta o compositor! Lembro à plateia que, mesmo surdo, o músico continuou compondo. Li a história do imenso artista em um livro que se chamava "A Gruta", de M.R Menezes, mineiro, formado em música erudita. Eu fiz comparações do Ludwig do livro e do Ludwig do espetáculo, entendendo como a arte é infinitamente prazerosa, assim como nossos artistas.

E também é lindo ver como sustentar uma dramaturgia desse tamanho, em um espetáculo tão magnético.

Ao sair do espetáculo, fui para o Centro Cultural do Banco do Brasil assistir outra peça. Depois segui para o Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, fui ao “Muco Jegue”. Nesse “beco” temos vários compartimentos que oferecem videokê que estavam lotados, porque a música faz parte das nossas vidas. As pessoas cantam quando estão felizes, cantam chorando até quando estão tristes. A música é fundamental para todos nós! A música no Brasil é politizada também, ela reflete a nossa história. Basta lembrar do movimento Tropicália e também da Ditadura Militar, onde artistas desabafavam implicitamente, por meio de composições que até hoje são cantadas pelos nossos jovens.

Quando nascemos somos embalados com músicas para ninar. Quando dançamos pela primeira vez, nossos pais ficam como idiotas, bestificados e felizes nos olhando. Como é possível tudo isso sem música?

Músicas mexem com nossas memórias afetivas: lembramos do nosso passado e festejamos, lembramos das amizades, das pessoas que se foram.

O espetáculo é lindo e apaixonante. Acima de tudo, conciso, emotivo e inteligente.

Uma obra rica em todos os quesitos do teatro. Que se abram as cortinas e não se fechem mais para "A Fabulosa Fábrica de Música"!

Sinopse

Já pensou em um mundo sem música? É isso que ocorre em “A Fabulosa Fábrica de Música”, quando uma caixinha de música, que esconde um poder mágico, se quebra na unidade brasileira do Colégio Beethoven. Ela passa a existir em tamanho real em um único lugar, onde só lá é possível ouvir os acordes de uma canção. No musical, Melodia, Ritmo e Harmonia, os três elementos da música, que ganham vida após a quebra da caixinha de música, precisam se unir para que o objeto seja restabelecido.

Mas só as crianças Flora, Mike e Luna, responsáveis pela quebra da caixinha de música, têm o poder de restaurá-la, o que não será uma tarefa nada fácil. A aventura fica ainda mais emocionante com a participação de Beethoven, dos responsáveis pelas crianças e da diretora Cléa, que viu o seu sonho de um dia se tornar cantora morrer, com a quebra da caixinha de música. E fica a pergunta no ar: será que eles vão conseguir reverter o problema e fazer o mundo voltar a ter música?

Ficha Técnica

Autor – Adalberto Neto

Diretor – Roberto Bomtempo

Diretor Musical – Roger Henri

Coreógrafo – Toni Rodrigues e Juliana Gama

Idealização – Gustavo Nunes e Rose Dalney

Elenco – Adulto – Du Herrera, Franciane Melo, Rômulo Weber, Carol Donato, Vitória

Rodrigues, Rodrigo Fernando.

Elenco Infantil – Enzo Pacifico, Pietro Cheuen, Esther Samuel, Bruna Negendank, Manu Estevão.

Cenógrafo – Glauco Bernardi

Figurino – Bruno Oliveira

Iluminador – Rogerio Wiltgen

Visagista – Dicko Lorenzo

Assistente de Direção – Anna Sant’Ana

Produtor executivo – Clayton Epfani

Produção Financeira – Mariana Teixeira

Produtora de Captação – Gheu Tibério

Produção de Elenco – Giselle Lima e Fabiana Tolentino

Assistente de produção – Marcos Goerdeler

Gestor de Tráfego – Tiago da Silveira

Apresentado por Lei de Incentivo à Cultura e Bradesco Seguros

Patrocínio: LGA MINERAÇÃO

Realização: Miniatura 9 Produções

Produção: Turbilhão de ideias

Direção Musical: Tatty Caldeira

Iluminação: Marcelo Andrade

Design de Som: Viny Suzano

Figurino: Simone Silva

Realização: Fazart Produções

Serviço

Teatro das Artes

Temporada: Até 29 de outubro

Horários: Sábados às 14h e 17h, domingos às 16h

Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia).

Classificação: Livre

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