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Teco Teco: um espetáculo em que o riso faz morada

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 06/11/2023 às 10:28:43

O Circo Dux convida o público a adentrar no fascinante universo da companhia “Teco Teco, Soluções aéreas e terrenas”. Esta singular empresa é gerenciada por dois palhaços distintos – um sábio arquivista e um efervescente entregador. À medida que suas trajetórias se entrelaçam, eles desvendam uma relação de aprendizado mútuo que transcende o tempo. O novo espetáculo da companhia é uma homenagem ao mestre, palhaço Teco Teco, professor da Escola Nacional de Circo, que teve enorme influência na companhia Circo Dux e passou um grande conhecimento nas artes do circo. O Teco faleceu em 2021, com 89 anos, e teve uma vida inteira dedicada ao circo.

O circo sempre me surpreende. Lembro-me quando fui assistir ao espetáculo Urutu, no Centro Cultural do Banco do Brasil, homenageando a Semana de Arte Moderna. Eu sonhei de olhos abertos. A obra foi apresentada do lado externo do centro cultural. Os transeuntes paravam e ficavam ali contemplando a beleza que os artistas nos entregavam. Eram os alunos da Escola Nacional de Circo, que merece muito nosso carinho, nosso olhar. Por lá, passam alunos de todos os lugares do mundo, uma troca imensa de saberes. Fantástico!

E, mais uma vez, o circo chega trazendo festa…

Até que enfim saio do Sesc Tijuca com a alma lavada! Faz um tempo que tenho ido ao espaço teatral e não feito resenhas do que tenho visto por lá. Sempre a plateia vazia, o que me entristece. Não encontro meus amigos críticos, como antes. No Sesc Tijuca já nasceram grandes espetáculos, como "Sábias Palavras", que está em Minas Gerais, e "Outras Marias", que está circulando pelo estado do Rio de Janeiro. Alguns dos espetáculos são indicados a grandes prêmios de teatro.

Mas parece que Teco Teco veio defendendo o espaço. Um espetáculo infantil que faz brilhar os olhos da plateia mirim e adulta, sem que uma palavra tivesse sido dita. O circo como sempre nos alegrando, em um momento de guerra, onde o mundo chora. Mais uma vez, os artistas nos auxiliando a esquecer um pouco os ataques bélicos que se instalaram entre os homens em uma parte do mundo, afetando a saúde mental de todos nós.

Teco Teco é lindo! Fica até difícil escrever sobre ele. São dois artistas que, através da mímica, mágica, palhaçaria e malabarismo montam dois personagens graciosos, ricos e engraçados.

Quando o artista Lucas Moreira entra no palco, me fez lembrar o Corcunda de Notre-Dame. Penso ser devido às ombreiras do figurino e também à cenografia, que, inclusive, é harmoniosa com o espetáculo. O ator, através das expressões faciais, já se conecta com a plateia no início do espetáculo. Há no artista uma dedicação ao ofício, isso fica em evidência. Ele é levado pelo amor, posso dizer que possui um jeito melindroso de estar no palco. Delicadeza e sensibilidade emanam dele durante o espetáculo.

Logo chega ao público Roberto Rodrigues, que simplesmente dá um show de comicidade. O artista é caricato, com expressões faciais RISÍVEIS, MUITO risíveis. Roberto é um escândalo de artista circense! No desdobramento da arte que está intrínseca nele, simplesmente nos eleva à mais bela alegria, aquela que o mundo precisa. Queria mesmo que Roberto saísse de dentro de cada canhão em Gaza, com seu saber performático. O mundo seria muito mais belo e menos dolorido. Ele entra no palco com seu corpo magro, desenhando, desde o início, um espetáculo onde os risos farão morada. Quando se transforma em uma mosca, leva com ele TODOS os sorrisos da plateia.

A dupla se casa como Romeu e Julieta. Juntos, carregam a essência do circo. Eles se encaixam com precisão. Notável que, além da técnica, existem fortes sentimentos desses artistas por esse ofício louco, mas que necessitamos MUITO!

Enquanto a obra acontecia, tive a sensação de estar assistindo a filmes do passado, quando eu ria satisfatoriamente com o Gordo e o Magro (Oliver Hard e Stan Laurel) e com Os Três Patetas (The New 3 Snooges). Era tudo tão inocente! Isso também está no palco do Sesc Tijuca, para sorte de todos nós. Uma obra que carrega qualidade.

Fiquei impressionada com a plateia. Eram homens, mulheres, senhores e crianças, rindo, trocando com os artistas. Incrível o que eles conseguem fazer conosco, é fascinante isso! Eu fiquei mergulhada em uma sensação positiva. À minha direita estava uma mulher que ria incontida e, à minha frente, um senhor acompanhava as crianças com interjeições vibrantes. Ah! Como o mundo pode perder tanto tempo em fazer o mal?

A sonoplastia auxilia demais a obra. Em alguns momentos, praticamente fala, auxilia a aflora os bons sentimentos que há em nós também. Um trabalho de excelência!

Para que os barulhos do palco cheguem ao público, o palco foi bem microfonado.

Que a CBTIJ não falhe nas indicações!

A dramaturgia é linda e inspira a honestidade, a amizade, o trabalho, entre tantos outros sentimentos que são muito bem-vindos para aqueles que semeiam e entendem de amor. O bom texto é aquele que aquece a plateia. Pode ser calado ou não, ele precisa ser bom, trazer informações, ser entendido, mesmo que mudo. Não precisa ser rebuscado ou intelectualizado, ele precisa ser, ao menos, acessível para todos.

O cenário está muito consoante ao figurino e com a sinopse. Embora tenha um ventilador antigo e móveis também reutilizados, as luminárias novas e as caixas que adornam o cenário, assim como a dramaturgia, dão refinamento ao cenário assinado por Alice Cruz. A ideia de um portal que parece mágico também entretem as crianças, conforme a dramaturgia muda deve ter almejado. Essa porta é patinada, rústica, chama muito atenção a harmonia do cenário e figurinos.

Gabriela Marra desenhou um figurino, conforme a sinopse lida. Se ela tinha um arquivista e um entregador, as indumentárias vieram com o viés desses ofícios. Com cores sóbrias, nada grita, somente a beleza artística dos artistas. Bingo!

A iluminação de Lucas Maciel também está perfeitinha,. Ela parece trazer episódios, como se estivesse dando um fim a cada capítulo. A luz foi precisa, como deve ser.

Interessante são os números de mágica. Como tantos objetos imensos saem de uma bolsa pequena? Uma caixa flutua! Ah! Eu ficaria para sempre admirando essa obra, acho que ela deveria correr o mundo, os estados brasileiros, deveria ser patrocinada e seguir pelo Brasil, em cada cantinho, só para fazer a gente mais feliz.

Fico devaneando comigo mesma em relação a essa obra…

Gostaria que o maior estádio do mundo acolhesse crianças palestinas e judias, só as crianças! Os seguranças e produtores seriam jovens de todo o mundo e o espetáculo seria Teco Teco! Sem adultos, somente a ficha técnica representaria os maiores de idade. Eu sonharia ou imaginaria como John Lennon: essas crianças rindo e entendendo que é possível viver em paz. Ali eles seriam um, não importa se estivessem vestidos com lenços Arafat ou com quipás, importante seria que eles estivessem rindo ao mesmo tempo, juntos, sorrindo como toda criança tem direito ou deveria ter.

Infelizmente acordei!

Ficha Técnica

Criação: Circo Dux | Com: Lucas Moreira e Roberto Rodrigues | Direção: Sérgio Machado | Direção Musical: Daniel Castanheiras | Cenografia: Alice Cruz | Iluminação: Lucas Maciel | Figurino: Gabriela Marra | Cenotécnico: Dodô Giovanetti | Realização: Circo Dux

Serviço

Sesc Tijuca

Até 26 de novembro

Sábado e Domingo, 16h | Livre | Gratuito | Pago | PCG

GRÁTIS (PCG), R$ 2 (habilitado Sesc), R$ 5 (meia-entrada), R$ 10.

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