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"A Inquilina": texto contagioso que prende a atenção do espectador

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 22/01/2024 às 14:18:59

Penso que vou escrever sobre o teatro para sempre, mesmo quando não tiver um espaço que seja visitado por pessoas que não conheço, mesmo que seja em uma rede social, mesmo que seja em um pedacinho de papel, numa agenda, porque cada vez que vou ao teatro e assisto obras que me ensinam, que me fazem chorar ou sorrir, sinto uma necessidade extrema de dizer para o outro: vá!

E dar aos artistas o conforto ou mansidão que precisam, a mensagem que deu certo, valeu a pena!

O espetáculo não é uma grande produção, nem tem um cenário deslumbrante que nos causa impacto. No entanto, a singela iluminação de Wilmar Olos, que evidencia uma casa, acompanha a nova morada da inquilina, algo interiorano. Posso dizer que tudo está segundo a dramaturgia, em plena harmonia, sem forçar uma barra desnecessária.

Se, por um lado, esses elementos são sutis, as atrizes entram como vulcões em erupção no palco, pois ardem segundo a crescente dramaturgia.

A trilha sonora é assinada por Rodrigo Penna, que acompanho faz muito tempo. Afinal, ele é o DJ do "Bailinho", festa que lota o Rio de Janeiro e demais estados no Brasil. Rodrigo foi muito certeiro ao sair do teatro e ouvir considerações a respeito das músicas que levou para montagem. Não podia ser diferente, afinal falamos do Rodrigo Penna!

“Jen Silverman é uma dramaturga, escritora de TV e romancista americana. Silverman cresceu vivendo e viajando pela Escandinávia, Ásia e Europa, bem como pelos Estados Unidos. Ela completou um bacharelado em literatura comparada na Brown University e um mestrado em dramaturgia na Universidade de Iowa” (Google)

Uma jovem autora que futuramente será referência, fato. É a primeira vez que sua obra é montada no Brasil. Que venham outras, porque é um texto contagioso, chega a cada um de nós com beleza, prende nossa atenção. Notável a contemporaneidade da autora, mas que não chega atropelando os que carregam conceitos engessados. Trata-se de um texto simpático.

Os figurinos de Karen conseguem desenhar cada personagem, cada característica deles. Já disse à figurinista que, mesmo diante de outras obras magníficas desenhadas por ela, essa foi uma das melhores, porque anda muito abraçada à dramaturgia, um experimento que eu não imaginava vivenciar. Karen abusou do bom-senso, da evolução das performances das atrizes, parecia estar na cabeça da autora. Soube trazer sensualidade e verdade sem perder a elegância. Como sempre, essa é uma das suas maiores características. A contribuição da profissional foi estupenda nessa obra. Ela não inventou nada, foi singela e magnânima. Corpos e indumentárias que falam!

Fernando é o diretor artístico. Esse é um dos meus "quindins" do teatro. Assistir suas obras sempre é prazeroso. É tão saboroso quanto o doce português que mais gosto: sempre cai bem! Fernando trabalha com excelência, é persuasivo. Há, nesse diretor, uma eficiência indiscutível no que se diz respeito a detalhes. Ele respira, é meticuloso, tem olhar de gato no escuro, pois enxerga tudo e avança. Atua com tanta legitimidade que chega a nos deixar perplexos nas poltronas do teatro do Centro Cultural do Banco do Brasil.

Neste espetáculo, por exemplo, uma das atrizes passa um pano na mesa. Logo em seguida, ela o sacode, como fazemos no dia a dia. Se esta atuação veio da atriz ou do diretor, não posso afirmar, mas através dos seus olhos certamente não passou despercebido. Os movimentos dos corpos das atrizes estão fascinantes. Tudo que elas levaram para o palco são revistos e aprovados por Fernando, que tem sido ímpar na função há um bom tempo, parece crescer como um girassol ao sentir o sol!

Suas obras têm sua identidade, a elegância é seu sobrenome e ele é potente, mesmo numa mansidão se apresenta para nós. E eu adoro quindins... Risos.

As atrizes…

Nada em um espetáculo é mais importante que os artistas no palco. Para que o teatro aconteça existem três elementos sagrados: o texto, o artista e o público. Nesse caso, não há uma lacuna entre eles.

E falando nelas, o que posso escrever sobre Luisa Thiré e Carolyna Aguiar?

Luisa recebe a Carolyna em sua casa, uma mulher nada distante das mulheres dos dias atuais, mas que rapidamente aprende com Carolyna, sua nova inquilina, a permear em outro universo. Luisa não peca, arrebenta no palco, dá um show de interpretação, nos faz ver a personagem escrita pela dramaturga. Os movimentos são sensacionais, principalmente quando resolve experimentar um cigarrinho. Ela nos leva a gargalhadas infindáveis. A atriz se entrega no palco e torna-se grande, sem o mínimo medo de tropeçar. E se tropeça a gente não sente, simples assim…

O corpo da atriz entendeu a direção de movimento assinada por Toni Rodrigues. Podemos dizer que é um trabalho equilibrado.

Já Carolyna Aguiar chega meio para frente. Aliás, para frente demais, mesmo querendo recomeçar a vida, tentar deixar os erros para trás, ainda carrega um estilo doidona, muito contrária à sua parceira no palco. Com a indumentária bem "rock in roll", já deixa em evidência que algo hard tramita na personagem. Mas acontece tudo ao contrário do que os olhos enxergam…

A atuação é belíssima da atriz, é divertida também. Ambas são mães e carregam histórias que são divididas naquela nova casa da personagem vivida por Carol.

É ótimo começar o ano com excelentes espetáculos, com tantas atrizes potentes e obras boas, aquelas que quando saímos de casa falamos para nós mesmas: valeu a pena!

Folgo-me em dizer que estou muito bem representada por elas, profissionais que arrancam suspiros de nós, nos ensinam, nos comovem e sabem escolher o que levar ao palco para nós, espectadores. Estou em êxtase com o mês de janeiro de 2024, que tem sido delas!

Sinopse

A peça conta a história de Sharon, típica dona de casa da zona rural norte-americana - conservadora, solitária e sem perspectivas -, que aluga um quarto de sua casa para Robyn, uma novaiorquina cosmopolita, lésbica e vegana, à procura de sossego para recomeçar sua vida. O encontro entre as duas, e as revelações sobre o passado de Robyn, reviram a vida de ambas ao avesso.

Na contramão do etarismo e outras visões limitantes impostas pela sociedade, o texto é um convite aos recomeços e às reinvenções que podemos fazer a qualquer tempo em nossas vidas.

Ficha Técnica

Texto - Jen Silverman

Tradução - Diego Teza

Direção - Fernando Philbert

Elenco - Luisa Thiré e Carolyna Aguiar

Cenografia - Beli Araújo

Figurino - Karen Brusttolin

Iluminador - Vilmar Olos

Trilha Sonora - Rodrigo Penna

Direção de Movimento - Toni Rodrigues

Diretora Assistente - Glauce Guima.

Direção de Produção - Bárbara Montes Claros

Idealização e Produção - Luisa Thiré Produções e 8 Tempos Produções Artísticas

Serviço

"A Inquilina"

ONDE: Teatro II do CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro

Rua Primeiro de Março, 66 / Centro, RJ Tel: (21) 3808-2020 / e-mail [email protected] mais

HORÁRIOS: 5ª a sábado às 19h; domingo às 18h /

INGRESSOS: R$ 30 e R$ 15 (meia), na bilheteria do CCBB ou no site: bb.com.br/cultura/

DURAÇÃO: 75 min

CLASSIFICAÇÃO: 16 anos

GÊNERO: comédia dramática

CAPACIDADE: 153 espectadores ACESSIBILIDADE: sim

TEMPORADA: Até 04 de fevereiro de 2024



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