Como não mencionar a beleza da atuação da atriz Daniela Fontan, que simplesmente nos arrebata. A atriz não deixa a peteca cair, sai do vale encantado uma princesa para duelar com um político corrupto. Com expressões corporais do mundo de conto de fadas, risível até o final! Excelente performance! Além da voz, que é incontestavelmente perfeita! Dani é além que qualquer espectador espera, imensa, e apresenta comicidade sem medida!
Tauã é outro artista que não para, sempre nos palcos porque tem competência, apresenta-se com legitimidade em seu ofício, sempre criativo, dono de suas expressões faciais, também faz rir...Apresenta-se como o príncipe traído, e que não para de cantar por um segundo. Ele é divertido, dinâmico, no palco. Tira peruca, torna-se homossexual, o artista dá vida à peça, com uma expressão facial fantástica.
Vitor Maia, encarna o político corrupto. O ator é sensacional! Vitor é do teatro, nasceu para o teatro e está no lugar certo.
Dryson assume um dos protagonistas, com belíssima voz e presença de palco. Abraçou seu personagem carismático e de boa índole muito bem.
O que mais chama atenção no espetáculo é o enredo. Esse justifica o sucesso de crítica. A sátira é bem embasada, tudo bem construído. Sair do vale encantado para entrar na realidade foi de uma expertise singular. Ver o Saci revindicando protagonismo, em um Brasil racista, poderia ser até risível. Todos rimos, mas se pararmos para análise, notaríamos uma realidade bruta. Hoje temos protagonismo negro, sim, mas sempre em um espetáculo de estética negra, sempre longe dos grandes aportes financeiros estarem nas mãos de uma ficha técnica negra.
Uma princesa com a expressão corporal do mundo de faz de conta, discutindo assuntos sérios, quando levado à realidade, é realmente um atraso. O texto leva o espectador muito além do que se vê no palco, apresenta a nós, enquanto sociedade, como somos tratados, sem o mínimo de respeito. De Tiririca a atrizes de filmes pornôs, todos se candidatam para algum cargo nas eleições. E daí percebemos como o dramaturgo soube jogar. Mesmo diante das sátiras, mostrar a podridão que cerca o Brasil.
"A Vida não é um Musical" tem uma linguagem acessível a todos e é explícita, não ameniza, não tenta inibir a opinião política dos artistas que estão atuando. Eles, sem direito a Rock in Rio, estavam trabalhando, porque a vida deles não é como pinta o planalto central. Porque o cachê não representa somente duas horas de apresentação em um final de semana, mas horas de ensaios desgastantes para apresentarem obras que nos fazem analisar, refletir, além de mostrar os dentes.
O espetáculo tem um cenário inteligente com a aplicação de luz certa, cria força, fica divertido e abraça bem os artistas. Os figurinos são excelentes, coloridos, em grande maioria diretamente do mundo de faz de contas. O que também chama a atenção e fica bem definido pelo dramaturgo são as mudanças na sociedade atual, tanto questões da família contemporânea quanto as das orientações sexuais, tudo muito bem concebido por ele.
Entre uma verdade e outra, uma espezinhada, uma sátira que faz rir, mas que traduz a realidade. As músicas criadas não são inoportunas, muito pelo contrário, abastecem as cenas. Entre princesas e bichinhos, o espetáculo acontece, entre um riso e outro, assistimos à vergonha do que realmente somos.
O espetáculo entende bem mais de Brasil que os políticos que o governa. Uma salva de palmas para a coragem dos envolvidos e a concepção artística do idealizador!
Que continuem atuando com a mesma expertise de hoje, com a intenção de mudar um pouco o rumo da nossa história no futuro. Confesso que ri, ri de dentro para fora, ri de me esbaldar, mas não deixei de entender o quanto precisamos mudar para haver melhorias. Certamente Molière entenderia bem mais essa obra que muitos brasileiros perdidos em um mundo de faz de conta, mas recheado com a fome dos vulveráveis!
Sinopse
Talvez se tivéssemos um povo mais educado e frequente nas salas teatrais, o Brasil tomaria uma direção mais proporcional à grandeza que tem, não ficasse nessa pequenice que o desmonta.
"A Vida Não é um Musical" chama a atenção pela dramaturgia do jovem Leandro Muniz, antenado, nada alienado ao que acontece no Brasil. Uma política desgraçada que parece não mudar. Uma luta constante que a sociedade tem em tentar trazer benefícios para ela, esses que são constitucionais.
Uma excelente sacada, satirizada, que além de trazer análises, traz diversão. Que delícia de texto, cheio de sagacidade e desdobramentos perspicazes. Claro que não podemos dar o spoller, mas o final deixa de ser fantasioso como os desenhos e isso causa reflexão. A eterna missão do teatro. Além da frase: o que o político tem mais que você? Ele tem mais é que se foder! Ah! Se os brasileiros acordassem para essa realidade, certamente que não estaríamos onde estamos, principalmente entendendo a potência do que somos!
O texto fala de um mundo utópico, construído separadamente da cidade grande: o Vale Disney. Lá, nesse pequeno vilarejo, as famílias vivem felizes e em harmonia, longe da violência. Plantam o que comem, não tem contato com o mundo externo, se amam, cantam o tempo todo, como nos desenhos da Disney. Detalhe, são extremamente afinados e precisos quando dançam. No entanto, quando uma das personagens entra em contato com a cidade grande começam os choques de realidade. São lançadas, então, críticas em formas de piadas, atualizadas para o contexto político atual, com os personagens deste segmento em alta nas mídias e jornais.
Ficha Técnica
"A Vida Não é um Musical"
Autor: Leandro Muniz
Direção: João Fonseca e Leandro Muniz
Músicas originais: Fabiano Krieger
Direção Musical: Fabiano Krieger e Gustavo Salgado
Direção de Movimentos e coreografias: Carol Pires
Figurino : Carol Lobato
Cenário: Nello Marrese
Iluminação: Paulo Denizot
Design de som: Rossini Maltoni
Design Gráfico: Pablito Kucarz
Visagismo: Diego Nardes
Direção de Produção: Renan Fidalgo - RG Cultural Produção Executiva: Gabrielle Novello - RG Cultural
Realização: Quase Companhia
Idealização: Leandro Muniz
Produção: RG Cultural
Elenco: Daniela Fontan, Draysson Menezes, Ester Dias, Fernanda Gabriela, Flora Menezes, Janamô, Ingrid Gaigher, Lucas da Purificação, Nando Brandão, Victor Maia, Vinicius Teixeira, Tauã Delmiro e Udylê Procópio.
Serviço
Espetáculo: A Vida não é um musical – O musical
Duração 1h45m
Gênero Comédia Musical
Classificação 16 anos
Local Teatro XP Investimentos
Lotação: 366 lugares
Apresentação: Hoje, 24/09
Ingressos R$ 80,00 (inteira) | R$ 40,00 (meia-entrada)