O Movimento Baía Viva pede ao Ministério Público a demissão imediata do presidente da Cedae, Hélio Cabral, por considerá-lo responsável pela sabotagem do sistema de abastecimento de água do estado do Rio de Janeiro. Nesta segunda-feira (27), um novo relatório será aditado ao processo iniciado em 10 de janeiro, com a descrição de algumas ações promovidas pelo dirigente da Companhia.
Além do presidente da Cedae, também serão responsabilizados criminalmente o secretário do Meio Ambiente e o presidente do INEA pela contaminação da água distribuída nas torneiras de mais de seis milhões de moradores da capital do Rio de Janeiro.
No relatório, dados indicam que o presidente da Cedae proibiu procedimentos de rotina técnica capaz de evitar a contaminação da água. De acordo com o ambientalista Sérgio Ricardo, a acusação de sabotagem tem como base atos do presidente, que demitiu 57 técnicos e a proibiu a realização da operação conhecida como “descarga” – atos complexos que interrompe parte do abastecimento, fecha a captação de água e promove a limpeza da água que está prestes a entrar na grande lagoa de abastecimento.
“Novembro, dezembro e janeiro choveu bastante. A extensa bacia do Paraíba do Sul recebe de tudo. Lixo, esgoto, agrotóxicos... Ele demitiu técnicos. É uma perda da memória técnica. Proibiu procedimentos de rotina”, disse o ambientalista Sérgio Ricardo.
Água em crise
Dados do Baía Viva indicam que, em 20 anos, o Rio de Janeiro sofreu quatro crises hídricas, uma a cada cinco anos. E na metade desse período ocorreram 22 paralisações temporárias em função da presença de poluentes, esgoto, agrotóxicos, lixo. A população não percebe a redução do abastecimento.
“Em 10 de janeiro entramos com representação no Ministério Público. Tem 36 páginas. É fruto desse estudo focado no Sistema Guandu. Entre 2003 até 2019 o estado do Rio deixou de investir em saneamento básico R$ 11 bilhões de verbas carimbadas – fundos constitucionais que são de uso exclusivo para políticas ambientais. É proibido ao governador pegar”, disse.
A secretaria de Meio Ambiente e o INEA tem responsabilidade legal de fiscalizar as fontes de poluição do Paraíba de Sul e do Guandu. Quando isso não é feito, a água perde em qualidade.
“Temos lixões, aterro sanitário, esgoto poluindo. O problema acontece desde janeiro e o secretário não deu atenção. É ele quem fiscaliza, e não, a Cedae. Quem tem competência são os órgãos ambientais”, disse.
Outa medida solicitada na representação judicial é a transferência do programa de monitoramento da água para um grupo formado por UFRJ, UERJ e Fiocruz, organizações capazes, renomadas e independentes.
“Não é o carvão ativado que vai resolver o problema. A Cedae perdeu credibilidade. No meio do caminho, desde que fizemos a denúncia, surgiram fatos novos. Ele demitiu o diretor de tratamento de água, e demitiu o diretor de produção de água. Houve uma perda de memória técnica que no mundo todo é valorizada”, disse Sérgio Ricardo, acrescentando que o ato de impedir a operação de descarga das impurezas da água reforça a ideia de sabotagem por parte do presidente do órgão.
Fonte: Agência Brasil