Você já ouviu falar em Mandato Coletivo? No Brasil, a primeira experiência oficial foi na cidade de Alto Paraíso, em Goiás. Um grupo de cinco co-vereadores, autodenominado “ecofederalista” e “antipartidário”, foi eleito em 2016. Em 2018, candidaturas coletivas se elegeram para as Assembleias Legislativas dos Estados de São Paulo e Pernambuco. Em 2020, eles ganharam ainda mais espaço, se transformando em uma forte tendência na política brasileira.
O mandato coletivo tenta se apresentar como uma resposta ao desgaste da política tradicional e uma forma de superar o culto ao personalismo, tão presente nesse meio. Neste formato, a cadeira parlamentar é assumida por um membro de um coletivo, cujo nome é registrado junto ao Tribunal Superior Eleitoral, já que - pela atual legislação - somente uma pessoa pode se candidatar a um cargo eletivo. No entanto, esse parlamentar eleito continua representando o coletivo. Todo o seu trabalho, atuação e as decisões sobre o mandato serão realizadas em conjunto com o seu grupo.
A Liga
No Rio, essa tendência surgiu com a pré-campanha d’A Liga, coletivo que pretende disputar um lugar na Câmara Municipal carioca. “A Liga” é composta por Pedro Gerolimich, Alice Rodrigues, Guilherme Azevedo, Janaína Bemvindo, Kely Louzada e Roberto Anderson, seis ativistas sociais envolvidos em causas complementares como educação, cultura, urbanismo, empreendedorismo e sustentabilidade. Eles se uniram com o propósito de construir uma cidade melhor.
A ideia de formar A Liga veio da insatisfação com os rumos da política na cidade e se concretizou após um encontro do grupo na Biblioteca Parque. Surgiu ali uma parceria cheia de aspirações e muito conteúdo.
Pedro Gerolimich é o pré-candidato oficial da Liga, representando o coletivo para fins eleitorais. Filiado ao PSB, é militante na área da cultura e da democratização da leitura. Atuou como Superintendente de Leitura e Conhecimento na Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro e criou os projetos Livro de Rua e Histórias por Telefone. Quando perguntado sobre o que tem em comum com o restante de seu grupo, ele responde: “Além de sermos apaixonados pelo Rio, carregamos o inconformismo de ver os graves problemas da nossa cidade se repetindo sem nada ser feito. É frustrante viver em um local com tanto potencial desperdiçado. Toda essa nossa insatisfação precisava virar algo mais real e produtivo, assim nasceu A Liga”, conta.
Segundo Pedro, o desejo é estimular o processo democrático para a busca de soluções. "Acredito que um grupo que tem ações, vivências e conhecimento em diversas áreas pode contribuir com mais representatividade, colaborando para a transformação efetiva da nossa cidade”. Pedro explica que A Liga pode ser um movimento capaz de mudar a forma de se fazer e pensar a política tradicional no Rio.
Roberto Anderson, outro membro do coletivo, é arquiteto e urbanista e já foi candidato em eleições anteriores, inclusive como vice-prefeito na candidatura de Alessandro Molon em 2016. Sobre a proposta de pré-candidatura coletiva, ele acrescenta: “a sociedade sempre está à frente da legislação. Mesmo que ainda não tenhamos uma lei que acolha esta proposta de mandato coletivo, abraçamos a ideia, acreditando na força que temos quando nos unimos para melhorar nossa cidade”, afirma.
Já Kely Louzada, fundadora da ONG Meninas e Mulheres da Mangueira, comunidade onde vive, explica a escolha do nome: “O que é uma liga? Em sua definição literal significa uma aliança ou união entre pessoas para um bem comum, e é essa a ideia principal. Acreditamos que juntos poderemos fazer muito mais. Uma gestão eficiente e forte só é possível com a colaboração e união de todas as pessoas envolvidas nesse processo", acredita.
Janaina Bemvindo, também participante d’A Liga conta sobre a importância do envolvimento nos assuntos políticos da cidade. “Não podemos cruzar os braços diante dos problemas, precisamos acreditar no poder da transformação e para isso é preciso união e comprometimento. A Liga veio para fazer a diferença na política, através da construção coletiva e da participação democrática”, finaliza.
A mais nova do grupo, Alice Rodrigues, tem 23 anos, é publicitária e possui no coração o desejo de mudança. A moradora do Complexo do Alemão atua em movimentos sociais ligados aos direitos humanos, além de causas da saúde das mulheres negras da periferia.
O sexto componente do coletivo é Guilherme Azevedo, empresário do segmento de cultura, bares e restaurantes. Em seu curriculum, carrega uma vasta bagagem e uma inquietude com o setor de cultura e com as dificuldades encontradas pelos micros e pequenos empresários para sobreviver.
Conheça algumas das propostas da LIGA: