O cantor e compositor Noca da Portela, de 87 anos, recebeu ontem (8) da UFRJ o título de Doutor Honoris Causa como reconhecimento por seu trabalho em prol da cultura nacional. Ele foi homenageado durante a programação on-line do centenário da universidade, com a participação especial de Martinho da Vila. A solenidade presencial de entrega do título ocorrerá em data a ser programada.
A honraria foi anunciada no último dia 27 através do Conselho Universitário (Consuni), órgão máximo da UFRJ, instituição que completou 100 anos na última segunda-feira (7). O grupo aprovou, também, o título de Professora Honoris Causa à presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, pela relevância de seu trabalho pela ciência. A decisão dos conselheiros foi unânime, com direito a salva de palmas na sessão virtual, de acordo com o o site oficial da universidade.
"Nunca poderia imaginar receber um título como esse na minha vida. Estou muito feliz e emocionado desde quando soube da notícia. Acho que é uma linda retribuição pelo meu trabalho em defesa do samba. Obrigado, UFRJ!", comemorou Noca.
Quem é Noca da Portela
Osvaldo Alves Pereira, nome de batismo do bamba, começou cedo na música. Aos 15 anos, assinou o samba-enredo da escola de samba Unidos do Catete ("O Grito do Ipiranga"). Perto de completar 88 anos, contabiliza mais de 400 canções. Na Portela, venceu a disputa de samba-enredo em sete ocasiões, sendo o maior campeão ao lado do saudoso David Corrêa. Teve expressiva atuação, também, na escola Paraíso do Tuiuti, no Cacique de Ramos e em diversos blocos da cidade.
Sua obra se consagrou por abordar temas sociais e raciais do País. É autor de sucessos como "É Preciso Muito Amor", "Caciqueando", "Vendaval da Vida", "Portela Querida", "Virada", consagrado por Beth Carvalho e considerado um símbolo da luta pela democratização do Brasil, entre outros. Foi, ainda, secretário de Cultura do Estado do Rio de Janeiro no fim da gestão da governadora Rosinha Garotinho.
Em 2018, foi tema da biografia "Noca da Portela e de Todos os Sambas", escrita pelo pesquisador Marcelo Braz e lançada pela Uerj. Ao lado do professor e infectologista Roberto Medronho, Noca compôs o samba comemorativo do centenário: "UFRJ, 100 Anos de Arte, Ciência e Balbúrdia".
Olha a Minerva de novo aí
Eu vou cair de corpo e alma na folia
São 100 anos de existência
E resistência
Com arte, ciência e consciência
Quero esquecer os desenganos
Que passei nesses anos
De golpe na democracia
Vamos dar um basta na tristeza
Virar a mesa
com alegria e autonomia
Direito, Medicina, Engenharia
Formaram a primeira Academia
Hoje democratizou, é multicor
Demorou pro trabalhador virar doutor
Eu quero sonhar
Criar um futuro melhor
Vou fazer balbúrdia
Pra sair dessa pior
Primeira presidente mulher
Servidora da Fiocruz desde 1987, Nísia Trindade iniciou seu mandato como presidente da Fiocruz em 2017, sendo a primeira mulher a ocupar o posto em 120 anos de história da instituição, uma das principais do mundo quando se fala em pesquisa em saúde pública. Por causa da pandemia da Covid-19, seu trabalho ganhou ainda mais notoriedade. É doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e conta com largo currículo em defesa da ciência no país. Durante seu mandato como presidente, vem destacando o papel da instituição na comunidade global de saúde. Integra, ainda, a Zika Alliance Network (2018), um consórcio de pesquisa multinacional.