Quem caminhava pela antiga Rua Larga de São Joaquim, atual Avenida Marechal Floriano, nem de longe imaginaria estar com os pés sobre um antigo cemitério. É o que os arqueólogos estão desvendando ao trabalhar sobre as escavações provocadas para a instalação dos trilhos da Linha 3 do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), que ligará a Central do Brasil ao Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.
Além de esqueletos de 15 pessoas, foram encontrados objetos, fragmentos e vestígios de uma antiga igreja, a de São Joaquim, erguida nos anos 1700. Hoje, arqueólogos escavam cuidadosamente o local, rodeados de curiosos que perguntam de quem seriam aqueles ossos.
Em nota, a Concessionária do VLT Carioca informa que o trabalho arqueológico na região do Pedro II revelou estruturas que pertenciam à antiga Igreja São Joaquim. A construção ocupava a área desde meados do século XVIII e teve sua demolição planejada e executada durante as reformas do ex-prefeito Pereira Passos, no início do século XX.
Na área, foram identificados sepultamentos que dizem respeito aos grupos católicos que faziam parte da elite da época. Com a pesquisa no local será possível delimitar a área ocupada pela Igreja e identificar uso de objetos e seus possíveis fragmentos encontrados no local, como garrafas, cerâmicas, entre outros.
Nobres ou escravos
Ainda há dúvidas quanto a identidade dos restos mortais encontrados ali. Segundo o doutor em História Júlio Gralha, no período colonial, pessoas abastadas eram enterradas em cemitérios próximos às igrejas. As ossadas da Avenida Francisco Bicalho podem ser de comerciantes e mantenedores da própria capela de São Joaquim.
Outra lenda cerca a antiga Rua Larga. A capela teria sido construída por um devoto, Manuel Campos, para melhorar a imagem da rua. A localidade já era famosa por conta de crimes, assaltos e prostituição praticados no local.
Além disso, outra hipótese é a de que os restos mortais sejam de escravos. Gralha explica que, com a criação de cemitérios, muitos cadáveres foram transladados. Só ficaram os restos mortais dos escravos, principalmente em regiões como Prainha e Praça Mauá, no Centro. Boa parte das pessoas enterradas ali era de cativos que não resistiram ao período de quarentena a que eram submetidos ao chegarem ao Brasil por meio dos navios negreiros.
A ossada será retirada do local e levada para o laboratório da Uerj. Lá, os arqueólogos tentarão identificar as pessoas, bem como as suas histórias.