A esperança pode não vir do mar, nem das antenas de TV, mas os moradores do Complexo de Favelas da Maré a têm certa entre si. É lá, no chamado chão mareense, que projetos culturais têm pipocado em meio à pandemia proporcionando aprendizado, crescimento, evidência profissional e geração de renda. Realizados pela Corbelino Cultural através de incentivos da Lei Aldir Blanc, os primeiros dias de 2021 já contabilizam três projetos: “QUE BOCA NA CENA?”, “CINE COLETIVONA” e “OBRAS EM COMPANHIA”, todos com realização através do canal oficial do YouTube do Museu da Maré - https://www.youtube.com/c/MuseudaMaré.
Os projetos firmam a trajetória de construção de laços de Natasha Corbelino, idealizadora dos eventos, com a Maré, no percurso que a artista-articuladora tem buscado nos últimos anos, especialmente com o Museu, onde está com muitas ações artísticas em andamento. "O Museu da Maré, como ele se coloca como modo de estar no mundo e tudo que ele move na cidade, me causa muito desejo dessa conversa com a relação de convivência da Cultura com a Educação a partir da palavra. Estarmos no Museu é um ato de saúde coletiva que desejamos partilhar com muitas pessoas. Parcerias como estas nos permitem ampliar o pensamento estético das criações no campo de trabalho das plataformas virtuais" celebra Natasha, cujos projetos foram desenvolvidos prevendo a circulação de obras e a circulação financeira entre o maior número de pessoas.
Elaborado para gerar renda para artistas e trabalhadores da cultura, a Edição Maré do evento “Que Boca Na Cena?” se instaurou como prática antirracista, selecionando artistas negros independentes na região através de convocatória pública. Deste modo, e ainda incluindo artistas trans e drag queens, descentralizou a cena artística do lugar comum já pavimentado pelas curadorias das ações e equipamentos culturais hegemônicos.
Amanhã (31), a ação Coletivona lança, às 17h, o Cine Coletivona, seu novo braço artístico e social. Como abertura da primeira fase do novo projeto, que tem como tema Origens e Novos Caminhos, realiza a exibição do documentário “SEMENTES: MULHERES PRETAS NO PODER”, de Éthel Oliveira e Júlia Mariano, seguido de debate com a diretora Andrea Cals. O filme acompanha o levante de Mônica Francisco, Rose Cipriano, Renata Souza, Jaqueline de Jesus, Tainá de Paula e Talíria Petrone, mulheres negras da política, após o assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018.
Éthel Oliveira e Júlia Mariano, diretoras do documentário "Sementes: Mulheres Pretas no Poder".
“Desejamos que seja um festival sobre fazer circular ideias, cultura, formação de repertório e linguagem sobre o território, tendo a cena digital como pulsão de vida gerando breves salves financeiros para mais pessoas agora”, complementa Natasha sobre a segunda fase do projeto, também online, prevista para março. Nela, haverá uma convocatória para que moradoras da Maré produzam seus próprios filmes de celular e/ou Zoom a partir do eixo curatorial. Como resultado, 40 microfilmes de até 3 minutos serão exibidos durante a programação online, e cada um deles receberá um auxílio financeiro de R$ 400.
Por fim, como uma mostra geradora de conversas em torno de peças de Vinicius Arneiro, um dos mais reconhecidos diretores de sua geração, “Obras Em Companhia” apresenta de 02 a 06 de Fevereiro um repertório de peças que trazem a assinatura do artista: “A PALAVRA SOPRADA”, “COLÔNIA” e “ROSE”. “O Museu da Maré, sem dúvida, é um projeto-modelo de como alinhar mobilização social, memória, construção do presente e invenção de futuro nas comunidades faveladas da Maré. Quando penso que o Obras é aliado a projetos como o Museu da Maré, o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM) e o Entre Lugares, penso que tenho mesmo muito a aprender e que há muito ainda por ser feito”, finaliza Arneiro.
"Colônia". Foto: Divulgação
ONDE:
YouTube do Museu da Maré - https://www.youtube.com/c/MuseudaMaré
QUANDO:
? 31 DE JANEIRO
Horário: 17h
CINE COLETIVONA
“Sementes: Mulheres Pretas no Poder”
Direção: Éthel Oliveira e Júlia Mariano
Brasil, 2020, 105'
Classificação indicativa - 14 anos
? 02, 03 e 04 de FEVEREIRO
Horário: 17h
Sessões da peça transmitidas ao vivo online em parceria com bibliotecas da rede da Secretaria Municipal de Cultura.
“A PALAVRA SOPRADA”
Escrita e encenada por Vinicius Arneiro, o espetáculo é uma leitura-performance para ser especialmente ouvida. Ao eleger como ponto de partida a linguagem, o artista propõe ponderações sobre algumas variáveis da convivialidade humana e aborda o gesto da fala e da escrita como tecnologias, instrumentos primordiais na construção/negociação entre modos e mundos — numa força contrária à barbárie. Classificação Etária: 14 anos
"A Palavra Soprada". Foto: Divulgação
? 05 de FEVEREIRO
Horário: 17h
Exibição da peça online seguida de conversa com equipe de criação mediada pela artista Eleonora Fabião, em encontro com o grupo de teatro Entre Lugares (Maré) e o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM).
“COLÔNIA”
Com dramaturgia de Gustavo Colombini e direção de Vinicius Arneiro, a peça conferência idealizada pelo ator Renato Livera foi indicada ao prêmio APCA de Dramaturgia e foi destaque nos festivais internacionais como o FITEI, Festival de Curitiba, MIT SP, MIRADA, recebendo críticas de importantes jornais mundiais, como o britânico The Guardian, o brasileiro Folha de São Paulo e o Jornal de Notícias, de Portugal.
Classificação Etária: 14 anos
? 06 de FEVEREIRO
Horário: 17h
Leitura da peça online seguida de conversa com equipe de criação mediada por Cláudia Rose, diretora do Museu da Maré, com fala convidada de Gizele Martins, jornalista e comunicadora comunitária mareense, em encontro com o grupo de teatro Entre Lugares (Maré) e o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM).
“ROSE”
Uma merendeira de escola pública é a protagonista: Rose, que também cozinha na casa de família rica nos fins de semana. Com dramaturgia de Cecilia Ripoll e direção de Vinicius Arneiro, tem no elenco Ângela Câmara, Joice Marino, Márcio Machado, Natasha Corbelino e Thiago Catarino. A montagem foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro em 2018 na categoria Melhor Autor e sua dramaturgia foi editada pela Cobogó.
Classificação Etária: 12 anos