Alunos do 6º ano de uma escola particular do Rio podem ter sido as últimas a terem visto uma exposição no Museu Nacional. Eles fizeram uma visita ao histórico local na última sexta-feira (31), dois dias antes do incêndio que consumiu praticamente todo acervo que encantou várias gerações de crianças e adultos cariocas e de outros lugares.
Aline Poyares tem 11 anos e é do 6º ano do Colégio CEL International School. Ela era uma das alunas que estiveram lá na sexta. "O passeio foi muito legal. Vimos de perto as fantasias de carnaval que usavam antigamente, as múmias, os crânios, os dinossauros. Fiquei muito triste quando soube que o Museu Nacional estava pegando fogo. Uma pena que outros alunos não vão ter mais essa oportunidade. Valia muito a pena", lamentou a jovem.
Um pouco mais velho, Fábio Teixeira de 17 anos e que está na 3ª série do Ensino Médio da mesma instituição de ensino que Aline, lamenta que as próximas gerações não conhecerão o museu da mesma forma que ele conheceu. "Não vou ter mais a oportunidade de ir ao Museu e conhecer um pouco mais do passado. É lamentável. E o pior, também não vou conseguir levar os meus filhos no futuro. É uma perda muito grande para o Brasil, por conta dos mais de 200 anos de história e os milhões de itens que ali eram guardados", afirmou ele que não estava nesse passeio de sexta, mas já tinha conhecido o Museu Nacional em outras oportunidade.
"Crianças de várias gerações formaram memórias ali", diz professora.
Ver parte da história do país em chamas deve ter doido ainda mais para Ana Carolina Costa, que é professora de História do CEL International School. "O museu era importante para os alunos. Com o acervo disponível, era possível que eles assimilassem vários conteúdos abordados durante o ano. Além desta missão educacional voltada para a parte profissional, o museu também tinha uma missão educacional cidadã, que permitia aos alunos, ao entrarem em contato com o espaço e a história mundial e de nosso país, adquirirem o sentimento de identidade, memória e pertencimento de uma nação".
A professora Ana Carolina explicava aos alunos sobre Luzia, fóssil humano mais antigo das Américas, seu crânio está entre as perdas irreparáveis do museu. Foto: Divulgação/CEL
Ela ainda conta que as visitas normalmente eram guiadas por um profissional específico da área e que isso prendia a atenção dos alunos diante das peças raras. "Eles normalmente mudavam seu aspecto. Ficavam surpresos, encantados. Muitos nunca tinham ido no espaço e muito menos visto dinossauros, mamíferos gigantes, homens das cavernas e múmias. Muitos não sabiam que existiam tantas espécies de borboletas e outros animais. Eles realmente saíam de lá com uma outra visão sobre a importância das ciências", salientou.
Havia outra excursão do colégio com outras turmas programada para esta quarta-feira agora, no entanto esses jovens infelizmente nunca terão a experiência de conhecer o Museu Nacional, não da mesma forma que seus colegas e outras diversas gerações de crianças e adolescentes tiveram. "Imensurável é a palavra que melhor explica essa grande perda para o público infantil. Crianças de várias gerações formaram memórias ali. Se encontraram ali dentro. Histórias foram escritas e desenvolvidas dentro e ao redor daquele museu. E infelizmente, esse lugar, que era uma grande "fábrica" de sonhos, realizações, transformações e desenvolvimentos, não será mais um local inspirador para as novas gerações", finaliza Ana Carolina.