Quem não gostaria de mudar algo em sua aparência? Pesquisa recente com 7.900 pessoas apontou que 61% dos adultos entrevistados possuem uma imagem corporal negativa de si mesmo, sendo que 53% acredita ter ficado pior ou muito pior durante o isolamento social. Outro estudo com mais de 18 mil mulheres de 40 países – inclusive o Brasil – apontou que apenas 29% delas estavam satisfeitas com o tamanho dos seios: a maioria preferia que fossem maiores. A busca pela satisfação com o que vemos no espelho é mais do que normal e os avanços da medicina permitem à cirurgia plástica auxiliar com grande êxito. O problema começa quando esse não é um desejo baseado em seu próprio bem-estar e se agrava quando entram em cena outras influências, muitas vezes dissociadas da realidade, misturadas ao caldeirão de informação nem sempre confiável das redes sociais.
“Os padrões de beleza definidos e expostos pela mídia, na TV e no cinema sempre influenciaram a sociedade, era muito comum receber no consultório um paciente com uma foto de um famoso ou famosa, com a expectativa de que as intervenções plásticas o tornassem mais parecido com aquele ideal particular de beleza no momento”, destaca o cirurgião plástico e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Leandro Faustino. “Nos últimos anos, com a evolução dos valores e costumes, se abriu espaço para o debate em torno da diversidade, da beleza natural e suas diferentes manifestações”, acrescenta. “Contudo, as redes sociais, com a superexposição e recursos como filtros e outras edições, continuam estimulando a busca por resultados irreais”.
De acordo com o especialista, o que se percebe hoje é um anseio por procedimentos que tornem a pessoa mais parecida na vida real com a foto “perfeita” editada pelo filtro ou por aplicativo – o que é tão improvável quanto se tornar um irmão gêmeo do famoso da foto nas décadas passadas. “Para complicar esse quadro, com o maior uso da internet e redes sociais na pandemia, se alastrou a divulgação de procedimentos inadequados, tidos como milagrosos, e que além de não ter efeito, ainda colocam a saúde em risco”, diz Faustino. “Em geral usam imagens manipuladas para simular resultados inexistentes, criando uma ilusão e aumentando o nível de frustração”.
Leandro Faustino enumera abaixo os cinco passos que considera essenciais para a realização de uma cirurgia consciente e que faz questão de percorrer com cada paciente em seu consultório – de anônimos a famosos e influencers:
Identifique a real motivação: “Pense na razão pela qual está buscando este procedimento estético. Se for para agradar a si mesmo, ótimo! Se for para agradar a qualquer outra pessoa, se sentir parte de um grupo ou se adequar a um padrão estético, não faça. Sua única motivação deve ser o seu bem estar!”
Garanta a segurança: “Existem procedimentos que podem ser feitos tanto nas clínicas como nos hospitais, mas questione se o local onde pretende fazer a cirurgia possui estrutura e as autorizações pertinentes. Verifique também se tem todas as condições de partir para um plano B, no caso de alguma intercorrência. Não se deixe levar apenas por motivações financeiras, é preciso assegurar sua tranquilidade e não colocar sua vida em risco”.
Tenha acesso à informação correta: “Converse com seu médico, ele é a pessoa mais indicada para tirar todas as dúvidas. Pesquise, questione, esclareça. Na internet há muita informação equivocada, falsa ou mesmo manipulada por jogos de interesses comerciais, é preciso saber interpretar e filtrar o que é relevante”.
Equilibre as expectativas: “De posse das informações corretas, o paciente pode criar uma expectativa realista do resultado, de acordo com seu biotipo. Os resultados são diferentes para cada pessoa, não adianta se basear no que o outro fez ou em fotos das redes sociais e revistas, que são manipuladas. Pergunte a seu médico o que esperar exatamente do seu procedimento”.
Cuidado com marketing inadequado e mídias sociais: “O marketing médico exige uma regra para ser seguida, uma ética correta e séria, pois estamos falando de cirurgias. Por esse motivo, inclusive, não se deve divulgar fotos de antes e depois, não podemos expor os pacientes e sua privacidade. A falta de seriedade no marketing das cirurgias plásticas é que está causando essa ilusão e distorção nas redes sociais. Consulte sempre um cirurgião plástico filiado à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica”.