Estão abertas até o dia 5 de outubro, as inscrições para o concurso em forma de chamada artística promovida pela FLUP 2018 - Festa Literária da Periferia que homenageará este ano, escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira mulher negra a publicar um romance na América Latina. A ideia é que os artistas e ilustradores produzam um retrato da escritora que só tem como única imagem, um busto em São Luiz do Maranhão, onde ela aparece branqueada. A fim de fortalecer o contexto no qual Maria Firmina se inseria nas lutas contra o racismo e a desigualdade, o concurso é voltado para pessoas autodeclarados negras ou negros.
A banca será formada por um júri técnico, convidado pela FLUP e selecionará pelo menos 10 dos trabalhos para irem à votação popular pelo site e redes sociais do evento. A vencedora ou o vencedor receberá premiação de R$ 1.000,00 e terá crédito em sua imagem, amplamente divulgada nas redes sociais e impressa em diferentes suportes na cenografia do evento.
Quem foi Maria Firmina dos Reis
Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís do Maranhão, em 11 de março de 1822. Seu batismo ocorreu apenas em 21 de dezembro de 1825, constando na certidão sua condição de "filha natural" de Leonor Felippa dos Reis, sem o nome do pai. Vivia num contexto de segregação racial e social, aos cinco anos ficou órfã e foi criada por uma tia.
Formou-se professora e exerceu, por muitos anos, o magistério, chegando a receber o título de "Mestra Régia". Em 1847, vence um concurso público para a Cadeira de Instrução Primária na cidade de Guimarães-MA. Segundo seu biógrafo Nascimento Morais Filho, ao se aposentar, no início da década de 1880, funda, na localidade de Maçaricó, a primeira escola mista e gratuita do Maranhão e uma das primeiras do país. O que causou grande repercussão na época e por isso foi obrigada a suspender as atividades depois de dois anos e meio.
Atuou como folclorista, na preservação de textos da cultura e da literatura oral e também como compositora, sendo responsável, inclusive, pela composição de um hino em louvor à abolição da escravatura. Publicou em 1859, o romance Úrsula, considerado o primeiro romance publicado por uma mulher negra em toda a América Latina e primeiro romance abolicionista de autoria feminina da língua portuguesa no qual aborda a escravidão a partir do ponto de vista do negro. Maria Firmina dos Reis participou da vida intelectual maranhense, colaborou na imprensa local, publicou livros, participou de antologias. A autora abolicionista morreu aos 92 anos, na casa de uma ex-escrava, mãe de um dos seus filhos de criação. Maria Firmina dos Reis será a autora homenageada na FLUP 2018, que acontecerá de 6 a 11 de novembro no Cais do Valongo.
"Quando na ocasião da FLIP, que foi criticada pela ausência de autores negros. O nome de Maria Firmina foi muito lembrado juntamente com Maria Carolina de Jesus, como uma escritora negra importante para história do Brasil. E a partir daí começamos a ler mais sobre ela e isso nos levou a conhecer pessoas que pesquisam a sua obra, nos fez saber que a importância dela é maior do que se imaginava. Por que ela, no final das contas, pode ser a primeira mulher negra a escrever um romance na América Latina", respondeu Ecio Salles, fundador da FLUP, sobre a escolha de Maria Firmina.
Flup - Festa Literária das Periferias
Idealizada por Ecio Salles e Julio Ludemir, a FLUP foi criada em 2012 com o objetivo de ser um espaço de formação de novos leitores e autores na periferia das grandes cidades brasileiras. Em 2018, chega a sua 7ª edição com temas que vão pautar o nosso ano até a grande festa marcada para novembro, no Cais do Valongo: a negritude brasileira - com as imprescindíveis lembranças da Diáspora e o esperançoso olhar para o futuro proporcionado pela geração de negros a chegar ao mercado de trabalho, depois de ser qualificada pelas universidades.
Este ano a Festa Literária das Periferias iniciou suas atividades em maio, com uma sequência de encontros que se estenderá até setembro, visando à publicação de um livro de poesias que terá autor escolhido por concurso, uma coletânea de narrativas curtas e a repetição do vitorioso processo do Laboratório de Narrativas Negras para Audiovisual, dividido entre produção para ficção e documentário.
"A Flup sempre busca autores que têm a ver com suas práticas, suas ações e seus desejos. A relevância de Maria Firmina é enorme e a Flup pode dar uma contribuição, mesmo que pequena para que o nome de Maria Firmina seja mais conhecido no país. Foi isso que nos motivou a homenageá-la", ressaltou Ecio Salles.
Em 2012, a FLUP ganhou o Faz Diferença do jornal O Globo e, em 2016, o Excellence Awards da London Book Fair e Retratos da Leitura do Instituto Pró-Livro.
As informações e inscrições estão no link: https://www.molaa.co/flup2018