A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj e a Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ vão encaminhar ao Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas do Estado (Provita-RJ) Camily Apolinário, de 18 anos, ferida em ação policial na comunidade do Chapadão, favela de Anchieta, bairro da Zona Norte da capital e parentes de William Vasconcellos da Silva e de Samuel Vicente, mortos na operação. Camily foi ouvida nesta quarta-feira (29) pelos órgãos. A oitiva foi novo prédio da Alerj, no Centro do Rio.
Segundo a presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Alerj, deputada Dani Monteiro (PSol), aos relatos ouvidos durante o atendimento ajudaram a compreender a dinâmica dos fatos. Ela cobrou rigor na apuração do caso. “Ouvimos os relatos de Camily, que foi atingida pela polícia enquanto era socorrida pelo seu companheiro Samuel e o padrasto dele, William. Ambos que também foram alvejados e faleceram.
Camily é uma sobrevivente. Uma jovem de 18 anos que viu a sua família ser ceifada diante dela enquanto sofria diversas outras violências e violações. Além de Camily, acompanhamos também o caso do Raoni, um pesquisador de dados que foi preso injustamente, sendo "confundido" com um miliciano de uma região a qual ele jamais esteve. Para a juventude preta, favelada e periférica a pista está muito salgada. Seguimos desse lugar da institucionalidade tentando conter os danos que essa lógica da segurança pública perversa e cruel provoca. Saibam que a luta por justiça, que é o mínimo para todas essas vítimas, jamais cessará. E no final das contas, sabemos que agem dessa forma porque têm medo do nosso movimento organizado”, afirmou Dani.
“É inadmissível que o Estado autorize o assassinato de pessoas negras, apenas por estarem em uma moto. Os policiais atiram primeiro e perguntam depois. Favelado não pode andar de moto? Os policiais precisam ser afastados e julgados. Não há fé pública nesse caso. Testemunhas relataram da mesma forma, não houve nem tiro para o alto”, disse a deputada durante a coletiva de imprensa.
Sônia Bonfim Vicente negou que tenha havido baile funk na comunidade no dia da ação. “Levaram meu coração e meu útero. Quero os pertences do meu marido e do meu filho. Onde estão a chave do carro, as identidades, o documento da moto e o celular do meu filho? Que bandido compra moto no próprio nome? Perdi meu marido provedor, fiquei com duas filhas, uma de quatro e uma de oito anos”, afirmou.
O caso foi registrado e está sob investigação na 27ª Delegacia de Polícia (Vicente de Carvalho). Segundo informações divulgadas pela Polícia Militar, os agentes estavam em patrulhamento na Rua Alcobaça, em Anchieta, quando foram atacados a tiros. O objetivo do patrulhamento seria coibir o roubo de carga e de veículos. A corregedoria da corporação também abriu processo administrativo para apurar os fatos.