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Plebiscito em Petrópolis irá decidir o destino das charretes

Eleitores votarão domingo pelo fim ou pela manutenção da tração animal na cidade.

Por Marisa Dias em 05/10/2018 às 17:41:57

Parte da história de Petrópolis será votada também domingo (Foto: Reprodução redes sociais)

Quem nunca andou de charrete quando visitou Petrópolis, dando aquele ar de realeza? Apesar de toda sua importância na história da cidade, a permanência das charretes como opção turística, está dividindo opiniões e passou a ser uma questão polêmica na cidade. Como resultado dessa discussão, foi convocado um plebiscito para decidir sobre o futuro das Vitórias no município. Simultaneamente às eleições deste ano, no dia 7 de outubro, ocorrerá o plebiscito convocado pela Câmara de Vereadores de Petrópolis, onde os eleitores decidirão se são a favor ou contra as charretes na cidade. A consulta popular, que foi convocada de acordo com a Lei Orgânica pela Câmara Municipal e pelo TRE, será realizada juntamente com as eleições regulares no primeiro turno de 2018 com o tema sobre a permanência da tração animal no município.

Por gerar grande polêmica e divergências por parte dos charreteiros, ativistas, OAB-RJ, artistas, ONGs de proteção animal, moradores e autoridades, concluiu-se que seria necessária uma votação popular para resolver a questão.  

Na Ilha de Paquetá, também ocorreu uma situação parecida para banir a tração animal. A medida foi tomada pelo Prefeito Eduardo Paes, porém sem plebiscito. Os charreteiros da cidade criaram a Associação dos Proprietários e Condutores de Charretes da Ilha de Paquetá, a Charretur. e passaram a fazer o turismo na ilha com carrinhos de golfe, que receberam do Poder Público. Já para Petrópolis, algumas opções estão sendo sugeridas. Entre elas a de adquirir charretes elétricas que substituiriam os cavalos, gerando um menor custo. Esse movimento, que teve início em Paquetá, agora está movimentando a cidade imperial e levando a população às urnas para decidir o destino das charretes.

O Vereador Reinaldo Meirelles (PP), autor do projeto, acredita que o melhor caminho para resolver essa questão é ouvir as opiniões de forma democrática. "Durante anos essa questão foi objeto de intermináveis debates e impasses. Essa situação causa todo tipo de insegurança seja jurídica, social ou bem estar animal, tanto para as famílias que trabalham com o serviço quanto para os defensores dos animais", relata Meirelles.

Comparado a outras localidades onde o tema foi decidido por decreto ou por decisão judicial, em Petrópolis buscou-se uma solução justa. "Esse foi o caminho mais justo e democrático encontrado por mim para debatermos temas delicados, sem custo adicional para a sociedade. Eu sou a favor da opinião majoritária da população, mas me preocupo com o fim do serviço do serviço de vitórias e por consequência com o impacto no turismo.", ressalta o vereador.

Uma das maiores preocupações de Meirelles é o fato de que esse impasse pode gerar tanto insegurança na vida das pessoas como também no tocante aos maus tratos aos animais. Diante desse quadro o plebiscito é necessário para solucionar a problemática definindo a situação. Outro ponto preocupante é o destino dos charreteiros, que precisarão de um novo direcionamento no campo profissional. "Formaremos grupos de trabalho para reverter a situação, que usarão veículos substitutivos. Contaremos com a sociedade civil para manutenção dos animais que serão "aposentados", revela Meirelles.

Para ele, é fato que as Vitórias constituem uma herança cultural e histórica para a cidade que nos remete ao período colonial. Por isso é importante criar proposta visando essa nova realidade. "Seja o resultado que for, eu e minha equipe já trabalhamos na formulação de propostas para fiscalizar a manutenção do serviço ou viabilizar a mudança de forma gradual para meios alternativos de transporte e sua manutenção", conclui.

Desde a década de 1940, as charretes fazem parte da história da cidade de Petrópolis. Trazidas por comerciantes ingleses em 1846, as “Vitórias”, como são conhecidas as charretes na cidade imperial, são réplicas de carruagens que se assemelham ao veículo de nome Victoria (homenagem à Rainha do Reino Unido).

Após algumas décadas, as charretes começaram a ser usadas para passeios turísticos em Petrópolis, com o objetivo de conservar as tradições locais. Através de um “city tour”, turistas percorrem as principais construções históricas do Centro com roteiros que permitem visitação aos locais.

No início, as Vitórias ficavam em frente ao Palácio de Cristal, mas depois passaram a ficar próximo ao Museu Imperial por ser um local mais propício para o serviço, já que é um dos pontos mais procurado pelos visitantes. Com o passar do tempo, foi necessário fazer algumas modificações nas charretes.  Foram colocadas borrachas nas rodas, para que se adaptassem as circunstâncias necessárias para as atividades.

Para alguns a preocupação com os animais deve ser prioridade. Segundo a Dra. Renata Castro, da Clínica Animalle, é preciso ter um olhar mais atento e mais cuidadoso com os animais. “O mundo está diferente, temos muito mais cuidado e preocupação com os animais. Sejam eles pet, tração ou animais destinados ao consumo. Os cavalos em Petrópolis também precisam dessa proteção e acho que a população está cansada de ver esses animais sofrendo.”, analisa.

Segundo o acordo assinado pela ONG Fórum Nacional de Defesa Animal e pela OAB-RJ, os condutores das charretes poderão optar por doar os cavalos para a ONG, que será responsável por receber os animais em seu santuário disponibilizando acompanhamento veterinário e alimentação. Uma comissão da OAB irá supervisionar as atividades da organização.

Para a doutora, seria viável oferecer outros serviços aos turistas e poupar os animais. “Sou contra o uso de cavalo na tração das charretes. O piso que eles trabalham não é adequado e temos outras maneiras de fornecer esse serviço aos turistas, sem ser com cavalos.” Renata aponta outras opções para a situação, como as Vitórias elétricas que, segundo ela,  atenderiam os turistas da mesma forma e ainda o trenzinho da cidade que faz passeios turísticos.

A favor da permanência das charretes, o vereador Wanderley Taboada (PTB) da chapa 1, considera que preservar as tradições é algo muito valioso para uma cidade, e explica o porquê de sua escolha. “Primeiramente pela nossa história, por ser a nossa cidade a única imperial das Américas e também por ter sido escolhida por Dom Pedro quando adquiriu a Fazenda do Córrego Seco que hoje é Petrópolis. Mantemos ainda a tradição das nossas Vitórias onde os turistas vem nos finais de semana para fazer o passeio com os condutores passando informações históricas. Este serviço prestado pelas Vitórias há mais de 100 anos é o que mantém o sustento de trinta famílias”.

Para ele, um dos motivos que gerou essa polêmica é o fato dos protetores de animais acharem que esses cavalos não são bem tratados por ficarem horas prestando serviço, sendo que estes são chipados e não é uma mesma parelha que trabalha todos os dias. “Há ainda o veterinário particular que faz os exames de AIE (anemia infecciosa equina) e Mormo (doença infecciosa causada pela bactéria Burkholderia mallei) a cada 60 dias. Além disso, tem o Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) que fiscaliza os animais e confere os exames”, esclarece Taboada.

Confiante na vitória de sua chapa, o vereador diz que acredita que ganharão. “A maioria do povo petropolitano não quer ver esta maravilha sair do cenário histórico da cidade.”, revela.

A vereadora Gilda Beatriz (MDB), faz parte da chapa 2, contra a permanência das charretes na cidade. Depois do caso de um cavalo que sofreu uma queda e se machucou, começou a defender a causa a favor dos animais. “Em 2013, com a queda do cavalo Falcão, me engajei na causa animal, realizei diversas reuniões, por não querer ver mais os cavalos sofrendo puxando as charretes.”, revela Gilda que alerta para o fato de que esses problemas não são recentes. “Desde 2008, isso vem acontecendo desde 2008. O local onde os cavalos são alojados é muito distante do Centro Histórico”.

Para ela, o sofrimento do animal tem que ser levado em consideração. “O cavalo é capaz de sentir dores e traumas, mesmo sendo considerado irracional. O paralelepípedo, o trânsito, calor, sol e chuva, são condições que maltratam sim os animais.”, observa Gilda. Devido a esses fatos, afirma sua posição contrária a manter as charretes na cidade. “Sempre fui muito clara em posição contrária à tração animal e que o ideal seria que o município oferecesse uma outra opção turística sem o uso da tração animal, como as charretes elétrica. Eu não sou contra as charretes e sim contra a tração animal”.

Em 2017, início do mandato do atual prefeito, a vereadora já mantinha contato com diversos segmentos desta gestão com o propósito de articular possibilidades para a substituição gradativa das charretes por carros elétricos. Várias reuniões com a presença dos charreteiros foram realizadas e, ao tomarem ciência de como seria o trâmite, assinaram um “termo de intenção”. Ao todo, foram nove assinaturas. Foi a partir desse termo que foi dada entrada em Brasília, em um projeto para angariar recursos para a aquisição de charretes elétricas.

Segundo Gilda que acompanhou o processo, relata que o projeto foi substituído por pedido de asfalto. Diante disso, a vereadora continuou na defesa pelo fim das Vitórias na cidade. “Porém, como Presidente da Frente Contrária à Tração Animal no Município, temos duas comissões: Uma que estuda a recolocação profissional dos charreteiros e outra que estuda o destino dos animais”, explica justificando sua posição a favor da substituição das charretes por veículos elétricos.

Perguntado sobre o destino dos animais, a vereadora esclarece que há uma comissão que estuda o destino dos animais caso o serviço seja extinto. “Porém, precisamos entender que os cavalos, por lei, são de propriedade dos charreteiros.

Informa também que mantiveram contato com militantes da causa animal, o Fórum Nacional de Proteção Animal (Diretora – Elizabet MacGregor), que poderão abrigar os animais no Santuário do Fórum, localizado em São Paulo. Mas ratifica, “Esta é apenas uma proposta que será feita aos charreteiros e que cabe a eles decidirem o que vão fazer com os animais”.

Como será a votação

Após a votação para Presidente aparecerá na urna o questionamento contra ou a favor da tração animal. Caso o eleitor seja a favor votará 1 e caso seja contra votará 2. O resultado sairá no mesmo dia, 07 de outubro. Após a votação e a contagem dos votos, o Presidente do Tribunal regional Eleitoral levará a Ata Geral da Consulta Popular ao Plenário para aprovação e será feita a proclamação do resultado definitivo. Após, caberá ao Presidente a publicação e o encaminhamento da decisão ao Tribunal Superior Eleitoral para homologação do resultado, que dará ciência a Câmara Municipal de Petrópolis.

Serviço:

Diariamente as Vitórias oferecem passeios das 8h às 17h, saindo do Museu Imperial. Divididos em três roteiros o turista pode escolher entre o que dura até uma hora e segue o seguinte itinerário: leva os visitantes à Catedral Sao Pedro de Alcântara (onde estão os restos mortais de Dom Pedro II e Princesa Isabel), ao Monumento em homenagem ao Major Júlio Frederico Koeler, ao Centro de Cultura Raul de Leoni (com galerias de arte, teatro e cinema), e ao Museu Casa de Santos Dumont (casa conhecida como "A Encantada"), entre outras praças e ruas históricas.

Em menor tempo, tem o que leva 30 minutos de duração, e transita pelos mesmos locais que o trajeto de 1 hora, mas sem paradas para visitas. Ainda tem o de apenas 20 minutos, que faz um percurso bem menor em relação aos outros. Outra opção, é o Circuito das Capelas e Igrejas que passa por mais de 100 construções que fazem parte da história da Cidade Imperial.

Como surgiram as charretes?

Desde a década de 1940, as charretes fazem parte da história da cidade de Petrópolis. Trazidas por comerciantes ingleses em 1846, as "Vitórias", como são conhecidas as charretes na cidade imperial, são réplicas de carruagens que se assemelham ao veículo de nome Victoria (homenagem à Rainha do Reino Unido).

Após algumas décadas, as charretes começaram a ser usadas para passeios turísticos em Petrópolis, com o objetivo de conservar as tradições locais. Através de um "city tour", turistas percorrem as principais construções históricas do Centro com roteiros que permitem visitação aos locais.

No início, as Vitórias ficavam em frente ao Palácio de Cristal, mas depois passaram a ficar próximo ao Museu Imperial por ser um local mais propício para o serviço, já que é um dos pontos mais procurado pelos visitantes. Com o passar do tempo, foi necessário fazer algumas modificações nas charretes.  Foram colocadas borrachas nas rodas, para que se adaptassem as circunstâncias necessárias para as atividades.

A cidade imperial é uma das poucas cidades brasileiras que ainda mantém esse tipo de atividade turística. Um dos maiores atrativos na cidade, as Vitórias continuam encantando e proporcionando aos visitantes um passeio único com gosto de passado.

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