Hoje (18), às 14h, será realizado um protesto na favela do Mandela 2, dentro do Complexo de Manguinhos, contra mais uma prisão de jovem negro baseada em reconhecimento fotográfico. Mãe de André Augusto Caetano Siqueira, 24 anos, Izabel Cristina alimenta a esperança de não ver o filho preso por mais um dia. "Eu creio em deus que essa semana ele sai de lá", esperança ela. Nesta manhã, Izabel se deslocou por cerca de 40km, até o Presídio ISAP Tiago Teles de Castro Domingues, em São Gonçalo.
Às 19h42 da primeira quinta-feira de junho de 2019, André Augusto Ferreira, filho do meio de três irmãos e auxiliar operacional dos Correios (ECT), estava na academia onde faz musculação. A prova é o registro da biometria, obrigatória para todos os matriculados entrarem no local. Mas naquele 6/6, às 20h, ocorreu um assalto a residência em Araruama, na Região dos Lagos, cuja investigação mudaria os últimos 25 dias de sua vida. Pelo que não fez, ele foi detido durante o expediente e está preso desde o último 23/9.
Bastou uma foto em seu perfil no Facebook (veja na galeria abaixo), em que aparece ao lado de amigo conhecido como Gabriel da VG, primeiro preso pelo assalto na cidade costeira, para o morador do Mandela se tornar cúmplice no caso. O testemunho foi feito por uma das vítimas, de nome Evandro, porém os assaltantes não podiam ser identificados porque usavam capuz.
Esta foi a versão relatada por outra vítima, chamada Oséas, que atestou o fato ao PM Edimilson do Nascimento. O trecho consta de documento elaborado pela Defensoria Pública (DPRJ) para a audiência de custódia de Gabriel e será incluído no pedido de habeas corpus que a advogada Sheila Botelho vai impetrar amanhã, terça-feira (19), no Tribunal de Justiça (TJRJ), solicitando a soltura de André.
"Na defesa do Gabriel, já tem como soltar o André, porque o Oséas disse que tem quase certeza que conhecia os meliantes que são de Araruama. Inclusive, o magro, alto, escuro é Léo, ou seja, tem nada a ver com André", explica a advogada, que recém-assumiu o caso.
Ato contínuo ao primeiro erro, um oficial de justiça se deslocou até a favela, porém não conseguiu entregar a intimação ao rapaz. Pela presença de traficantes, ele alegou que não poderia garantir a própria integridade física, e os policiais militares baseados nas imediações também disseram temer um confronto para não acompanhá-lo até a sede da Associação de Moradores. O local é responsável pela coleta e guarda de todo tipo documentos e encomendas remetidos para os residentes na favela. Como ele saiu da favela com a intimação debaixo do braço, a juíza Alessandra de Souza Araújo, da Vara Criminal de Araruama, decretou a prisão de André Augusto Caetano Ferreira, que chegou a aparecer em telejornal sendo detido pela Polícia Civil antes de ser transferido para o presídio na Região Metropolitana do Rio.
"Essa é mais uma incoerência. Como o André ia ter essa informação? Ele não sabia que tinha que comparecer porque o oficial de justiça resolveu não entregar, inclusive isso está nos autos do processo", justifica Fabio Britto, que mora no Mandela há cerca de um ano. "Medo de entrar na comunidade, assim como vários outros moradores que não têm acesso às suas correspondências por causa dos serviços do governo".
Ator e estudante de Direito, Britto lamenta a falta de solidariedade prestada pela empresa onde o amigo trabalha. Objetivo, ele se despede com uma reflexão. "Eu até entendo que ele tenha ficado com medo, mas aí o André não pode pagar pelo medo dele. O André não se recusou a comparecer, foi a intimação que não chegou até ele".
Veja, na Galeria de Fotos, alguns registros que atestam a inocência do auxiliar operacional dos Correios, André Augusto Caetano Ferreira, 24 anos.