Com a virada da folha no calendário, vem a esperança por períodos melhores. São mais 365 novos dias para conquistar sonhos e alcançar metas. Depois de quase dois anos de pandemia, o brasileiro começa a abrir os olhos para novos tempos, ao mesmo tempo que sente-se inseguro com o que vem pela frente, foi o que mostrou as pessoas que a Agência Brasil ouviu numa das estações de trem e metrô mais movimentadas de São Paulo: a Estação Brás, localizada no bairro de mesmo nome na região central da capital paulista.
Nos dias que antecederam o Natal, a reportagem ouviu quatro brasileiros que falaram sobre as dificuldades da pandemia, e as esperanças para 2022.
O jovem Alexssandro Gonçalves, de 21 anos, trabalha há seis meses em obra, mas antes da pandemia era funcionário em um mercado e foi demitido durante a quarentena. Ele tem boas expectativas para 2022. “Espero que a pandemia acabe principalmente, vai dar tudo certo!”. Ele também espera manter o trabalho. “Quero continuar na obra, gostei, quero assim”. Um pouco tímido, ele diz que também tem muitos sonhos, mas é supersticioso.
Alex pretende estudar. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
"Ah, eu tenho muitos sonhos, mas eu não posso falar se não posso realizar, né?”, sorri, mas entrega que pretende estudar. Quanto à expectativa para 2022, ele se diz esperançoso. “Ah, vai melhorar sim, vai ser difícil, mas vai melhorar sim”. Ele conta que a se vacinou e que a família toda também está vacinada. “Espero que o mundo melhore, que a pandemia acabe!”.
Com mais experiência de vida, a autônoma Maria Rosiene Nascimento Silva, de 46 anos, afirma que pensa sempre positivo e não desanima. Apesar de ter perdido o emprego no começo da pandemia, ela se reinventou, e hoje revende as lingeries que compra no comércio do Brás para suas clientes. “Já tem um ano mais ou menos, porque a gente não pode esperar, né? E está rendendo bem, melhor que antes!”, comemora Maria Rosiene, que pretende continuar sendo autônoma.
Rosiene deseja que o pais melhore. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Ela também deseja que a economia do país melhore. “Está horrível! Tudo caro, custo de vida está cada dia pior, tudo um absurdo. Porque não adianta o salário aumentar, porque depois que o salário aumenta, aí vem aumento de combustível, do gás, da energia, e o salário fica aonde?”, reflete Rosiene.
Entre os sonhos estacionados durante a pandemia, o que ela mais quer é botar o pé na estrada e ir para a terra natal, Garanhuns, em Pernambuco. “Preciso me distrair. Antes da pandemia fui ver a minha família que está toda lá, então o que espero é poder voltar logo!”
Para 2022, ela acredita que o ano será melhor do que este que passou. “Espero melhoria, por isso tem que pensar positivo, não desanimar e seguir em frente”. Ela diz que quer muito que a vacinação avance no país. “Espero que as pessoas se conscientizem, continuem tomando as vacinas certinho, né? Para essa "peste" ir embora, para que a nossa vida continue normalmente igual antes, porque não está fácil!”.
"Nossa expectativa para 2022 é um mundo melhor com menos violência, tem que ter esperança, não é porque está essa bagunça toda que a gente pode desanimar 100%, não vamos desanimar!”
Reinventando o presente
Assim como Maria Rosiene, a pedagoga Patrícia Nogueira, de 35 anos, agora é autônoma: atualmente ela vende roupas pela internet. Ela tinha uma empresa de acabamento gráfico que faliu durante a pandemia e se formou em pedagogia no período, mas ainda não trabalha na área.
"Foi difícil, mas hoje com as vendas eu consigo ganhar mais do que eu ganhava antes com a gráfica. Então, me tirou da minha zona de conforto, porém foi melhor do que ficar com a gráfica, então eu pretendo continuar com as vendas. Mas, se eu conseguir como pedagoga eu pretendo exercer sim”.
Patrícia não está animada com eleições presidenciais. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Quanto à pandemia, ela espera que a vacinação avance pelo mundo, mas ainda não vê um ponto final. “Sou bem esperançosa, eu sempre acho que vai melhorar, eu nunca espero pelo pior”.
Essa confiança em um ano melhor é característico do período, explica a psicóloga do Hospital Anchieta de Brasília, Stela de Lemos. “O ano-novo representa o começo de um ciclo. O encerramento de um ano é o fechamento de um período de 365 dias nos quais as pessoas se organizam em função de eventos, ritos e tradições que acreditam e dão ritmo à nossa história e estilo de vida atuais. O término de um ano fomenta reflexões e (re)planejamentos na busca pessoal, e até mesmo social, do aprimoramento dos processos e das relações”.
Mas, depois de quase dois anos de pandemia, a relação das pessoas com as expectativas podem estar até superestimadas, completa a psicóloga. “Em tempos comuns, as expectativas para o novo ano são predominantemente positivas. Em época de pandemia, não seria diferente. A expectativa continua a girar em torno do aprimoramento e da melhoria dos processos e das relações humanas. A maioria das pessoas anseiam, de modo até visceral, que esse período de calamidade publica e adoecimento físico e mental passe e que possamos voltar a prosperar. A esperança de dias melhores é reforçada no período de transição de um ano para o outro, potencializando a perseverança para seguirmos em nossas lutas”.
O pintor de parede Fabrício Ferreira, de 40 anos, segue sua luta para conseguir um emprego. Antes da pandemia ele trabalhava como autônomo. "Hoje, para me manter tento trabalhar aqui no no Brás, fazer alguma coisa, vender alguma água, às vezes venho aqui peço algum dinheiro para o pessoal para me ajudar", conta Fabrício, que está em situação de rua. Ele contou que dorme em albergues, mas não é todo dia que tem vaga.
Para o próximo ano, ele tem poucas esperanças: “A pandemia está dando sinais de que está melhorando. Mas, nem sei como vai ser esse 2022. Vai ter bastante emprego? Não sei, estou aqui, pensando, o que vou fazer, nem sei o que fazer. Mas, espero que tenha bastante trabalho. Para ele, a pandemia ainda não acaba em 2022. ”Acredito que não, está aparecendo algumas variantes, acho que ainda não tem ponto final”, lamenta Fabrício.
A crise econômica, a inflação alta e o ano eleitoral certamente influenciam no estado emocional do brasileiro, pontua a psicóloga Stela de Lemos.
“Certamente os fenômenos sociais exercem influência sobre o estado emocional da população. Grande parte do povo brasileiro não tem desfrutado de prosperidade e abundância, principalmente após o início da pandemia pelo novo coronavírus, o que traz diversas, e muitas vezes severas, consequências à saúde emocional das pessoas”.
Para a psicóloga, o momento, porém, é de vencer o medo. “Temos vivido uma época em que o amor precisou, mais do que nunca, fazer oposição ferrenha ao medo. Que neste ano-novo, sigamos juntos na luta contra a desesperança, movidos sempre pelo anseio e pela crença em dias melhores”, finaliza.
Agência Brasil