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Brasileira que mora na Austrália, sobre Djokovic: "A lei deve ser a mesma para ele"

Repórter da imprensa local revelou que tenista teria justificado "reação anafilática" para não se vacinar

Por Daniel Israel em 15/01/2022 às 05:50:00

Tenista sérvio busca recorde, mas pode sair de Melbourne sem estrear no primeiro torneio em disputa, no ano. Foto: Reprodução/Facebook

Após uma semana de disputas nas fases preliminares, terá início neste domingo (16) a chave principal do Aberto da Austrália, realizado em Melbourne, que conta com 128 tenistas classificados. Mas um deles, justamente o atual melhor do mundo, o sérvio Novak Djokovic, tem chamado a atenção mais por suas posturas negacionistas durante a pandemia do que a reconhecida excelencia dele na prática do esporte.

De tenistas a pessoas comuns, há quem defenda que o governo australiano não deveria ter permitido a entrada dele no país, como uma brasileira que mora na cidade há 20 anos e conversou dias atrás com a reportagem do Portal Eu, Rio!, 24 horas após (horário local) o desembarque do atleta na cidade, na terça-feira (4).

Carioca, a tradutora Mara Reifman, antes de se mudar com um dos filhos literalmente para o outro lado do mundo, trabalhava como professora de inglês no Rio de Janeiro.

"Concordo que uma pessoa que não tem motivo para não se vacinar, e que é tão saudável, que ganhe medalhas em tênis, há tantos anos, eu acho que a lei deve ser a mesma para ele. Se não está vacinado, acho que ele não deve entrar na Austrália", protesta. "Se outra pessoa fosse entrar no país, não vacinada, eles [as autoridades locais] iam recusar, cancelar o visto e ficar por isso mesmo. Não entendo por que ele não foi vacinado ainda, se o mundo inteiro está 'careca' de saber que sem vacinação a gente não fica protegido".

O rechaço de Mara à atitude de Djokovic é reforçado pelo quadro da pandemia, que se alastra no país.

"Estão tendo muitos casos de Ômicron. Eu, pela primeira vez, conheço pessoas com covid. Antes, era só uma notícia no jornal, agora meu enteado tem, o filho da minha vizinha de porta, a família a duas casas da minha, uma amiga brasileira, o marido dela. Então, um[a] em cada 50 pessoas que moram no estado de Victoria estão com covid, sendo que 40% está[ão] na faixa dos 20 anos", detalha ela. Mara lamenta que, ao mesmo tempo, as filas nas unidades públicas de saúde sejam extensas e o preço dos testes de antígeno - com resultados mais rápidos do que os de RT-PCR - custem o equivalente a R$ 60.

"A procura é tão grande, que não se encontra nas farmácias para vender. Se der positivo, não precisa fazer o PCR, porque o Sistema de Saúde está superlotado", conta.


Gráficos exibem médias móveis de mortes e casos na Austrália: comparação entre ontem (14) e os sete dias anteriores mostra leves quedas nas duas medições. Imagem: Reprodução/Google


Melbourne é a capital do estado de Victoria, um dos oito da Austrália. De acordo com a plataforma "Our World In Data", desenvolvida pela Universidade de Oxford, a região lidera no número de mortes (1.657) e apresenta a segunda maior quantidade de casos (589.546).

Até a publicação desta reportagem, a ilha situada entre os oceanos Índico e Pacífico, com uma população total de cerca de 25 milhões de habitantes, computava 1,5 milhão de casos e 2.572 mortes.

Justificativa

Enquanto isso, nas últimas horas, Novak Djokovic voltou a ser detido no hotel onde ficará hospedado até a decisão se poderá participar do torneio e teve o visto de entrada na Austrália cancelado.

Segundo a jornalista Mimi Becker, que trabalha no Canal 9 local, o tenista teria alegado risco anafilático para não tomar a vacina. Não se sabe se o atleta teria alguma restrição ao imunizante, mas uma proteção ele tentou emplacar frente às autoridades australianas.

Desde 2011, o sérvio possui um passaporte diplomático, além do comum, emitido pelas autoridades de seu país, justificado pelas conquistas no esporte. No entanto, ele não está imune a burlar as regras de outra nação. A atitude reiterada dele, que, por exemplo, o levou a organizar um torneio de tênis em meados do ano passado, em meio à situação crítica da covid-19, rendeu uma hashtag à altura nas redes sociais: #NoVaxDjoCovid. O atleta contou que foi infectado pelo vírus, durante a competição.

Caso seja autorizado a permanecer e jogar, ele vai em busca do décimo título no Aberto da Austrália; se conquistá-lo, passará à frente do espanhol Rafael Nadal e o suíço Roger Federer, ficando com 21 taças da série Grand Slam.

Sua estreia está marcada para amanhã ou segunda-feira (17) e será diante do compatriota Miomir Kecmanovi, atualmente 78? colocado no ranking da ATP. Os dois fizeram parte da equipe sérvia que jogou a Copa Davis e foi eliminada pela Croácia, nas semifinais. A Rússia se sagrou campeã.

Melbourne sedia, desde 1972, um dos quatro Slams do calendário anual organizado pela Associação de Tenistas Profissionais (ATP). Os outros são, pela ordem, Roland Garros, na Franca; Wimbledon, na Inglaterra; e o Aberto dos Estados Unidos.

Posicionamentos

A reportagem entrou em contato com a Confederação Brasileira de Tênis (CBT), perguntando se a entidade vai exigir o cumprimento das regras sanitárias contra a covid-19, e a entidade não nos respondeu. Até o momento, de acordo com o site da CBT, o calendário de torneios organizados pela Confederação em 2022 inclui apenas dois em janeiro: a São Paulo Tennis Cup (prevista para começar depois de amanhã) e o São Paulo Open (em 24/1).

Sobre a alegação atribuída a Novak Djokovic, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) não quis se pronunciar. Já a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), convidada a participar de audiência pública sobre a anafilaxia relacionada à vacina para covid-19, em maio de 2021, na Câmara dos Deputados, não retornou nossas mensagens até o fechamento desta matéria.

Ouça, no Podcast do Portal Eu, Rio!, o que pensa a brasileira Mara Reifman, que mora na Austrália há 20 anos, sobre a atitude do tenista Novak Djokovic.

Por Daniel Israel
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