O documentário “Nosso Sagrado”, lançado em 2017, sobre a perseguição contra o Candomblé e a Umbanda, religiões criminalizadas na Primeira República e na Era Vargas, vai ganhar uma sequência. O novo filme é uma produção da Quiprocó Filmes, que produziu o anterior, em parceria com a campanha “Liberte Nosso Sagrado”. O documentário começa a ser produzido no segundo semestre deste ano e terá como diretor o cineasta Fernando Sousa, o mesmo do anterior, juntamente com Gabriel Barbosa. A sequência se chamará “Acervo Nosso Sagrado”. Na última sexta-feira (21) foi o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
O documentário "Acervo Nosso Sagrado" vai acompanhar o processo de acondicionamento, preservação, pesquisa, documentação histórica e museológica dos 519 objetos sagrados da umbanda e do candomblé doados ao Museu da República em 2020. As peças foram apreendidas durante a República Velha e a Era Vargas, entre 1889 e 1945, quando as religiões eram marginalizadas. Estavam em poder da Polícia Civil do Rio de Janeiro até o ano passado. Os objetos eram expostos no museu da corporação, na coleção Magia Negra, mas foram transferidos ao acervo do Museu da República e, depois, doados em definitivo pelo governo do Rio à instituição. O achado das peças já tinha sido mostrado no filme anterior.
Segundo Fernando Sousa, o filme foi aprovado para captação de recursos via Lei do Audiovisual. “O projeto está com tudo encaminhado para sair do papel, já conta com a parceria e um contrato de patrocínio com o tradicional escritório de advocacia Daniel Advogados e encontra-se cadastrado para novos patrocinadores na plataforma da Simbiose Social, startup que conecta empresas com projetos culturais e sociais”, informa Fernando.
“A reconquista desse acervo sagrado é um exemplo de cidadania, os afro-religiosos em sua luta estão proporcionando a todos nós conhecer um aspecto fundamental da cultura afro-brasileira, que é patrimônio material das religiões de matriz africana”, afirma Isabella Cardozo, da Daniel Advogados.
Fruto de mobilização e sob a liderança religiosa e política de Mãe Meninazinha de Oxum, o movimento “Liberte Nosso Sagrado”, em agosto de 2020, alcançou vitória com a assinatura do termo que garantiu a transferência do acervo da Polícia Civil ao Museu da República.
Os objetos apreendidos a partir de invasões por parte do Estado foram depositados no Museu da Polícia Civil do Rio de Janeiro, compondo, ao lado de outros materiais apreendidos por forças policiais, exposições organizadas na instituição. Em 1999, quando a sede desse museu é transferida para o prédio histórico da Rua da Relação, nº 40, no centro carioca, todos os objetos da então denominada 'Coleção Museu de Magia Negra' foram guardados em caixas e assim permaneceram até setembro de 2020, com acesso vetado à pesquisadores e aos integrantes das comunidades tradicionais de terreiro.
“A transferência do Acervo Nosso Sagrado é uma conquista fundamental para as comunidades de terreiro e com enorme interesse público. Trata-se de um processo forjado como um ato de reparação histórica, na medida em que a transferência possibilita uma gestão compartilhada com os terreiros, o tratamento adequado e a realização de estudos e pesquisas nos diferentes campos de conhecimento das Ciências Sociais e Humanas. Particularmente, permite-nos concretizar um antigo desejo, que consiste em uma produção cinematográfica que contribua com a memória e a história das religiões afro cariocas a partir do rico conjunto de 519 objetos sagrados do Candomblé e Umbanda, considerando a pesquisa histórica e museológica já em curso no Museu da República, conclui Fernando Sousa, diretor executivo da Quiprocó Filmes.