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Decisão de Witzel de manter chefia dos Bombeiros desagrada corporação

Fontes afirmam que o comandante Robadey tem feito pressão nos oficiais para se manter no cargo

Por Claudia Freitas em 17/11/2018 às 09:45:15

Comandante dos Bombeiros vetou comunicação de oficiais com o novo governador. Foto: Reprodução / TV Globo

O governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) enfrenta a primeira crise da sua gestão, antes mesmo de tomar posse do cargo. Oficiais do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) estão contra a decisão de Witzel de manter o atual comando da corporação, representado pelo coronel Roberto Robadey. Segundo eles, Robadey fez uso do cargo para vetar a comunicação entre os bombeiros e o governador eleito, nas semanas que sucederam o segundo turno da eleição.  

Fontes ligadas à corporação, que pediram para não ser identificadas, afirmam que o comandante enviou um comunicado endereçado aos oficiais, através de e-mail, com ameaças de prisão, caso a sua determinação não fosse seguida. Eles revelam também que o comandante convocou os coronéis da ativa para uma reunião e deu ordens a eles para não entrarem em contato com políticos.

"Com a vitória do Wilson Witzel, o comandante Robadey está tentando de tudo para se manter no comando, por isso que ele vem fazendo pressão em nós, oficiais. O subcomandante Fabio Luiz, que foi contra estas ações do Robadey, foi exonerado na semana passada. No primeiro turno, o coronel Robadey mandou mensagens pedindo apoio para o Eduardo Paes [ex-prefeito do Rio] e deixou a opção para presidente em branco, justificando que o nosso voto seria a perpetuação de projetos da corporação", conta a fonte.

A pessoa aponta um caminho que pode esclarecer o interesse do atual comandante em permanecer no posto de comando. "O coronel Robadey apoia outros coronéis que são donos de brigada de incêndio e que estão envolvidos com corrupção, na máfia dos alvarás, que querem a continuidade deste esquema. Um deles é o coronel Marangoni, que é dono de uma brigada de incêndio", afirma o oficial do CBMERJ.

O coronel Toni Tazio Marangoni é proprietário da empresa Gemar Consultoria e Ensino Especializado, responsável pela formação de bombeiro civil. A companhia é credenciada ao CBMERJ. Na portaria da corporação, de número 785, de 15 de abril de 2014, o ex-comandante Sérgio Simões determina a habilitação de formandos do Gemar.

Incêndio nos quartéis: Witzel mantém Robadey

O anúncio feito por Wilson Witzel na terça-feira (13/11), de manter o coronel Robadey no comando do CBMERJ, gerou um enorme mal estar interno na corporação. Segundo os bombeiros entrevistados, havia uma grande expectativa de que o coronel da reserva Amaury Meyer assumisse a cadeira de comandante. 

"Ele traiu a tropa [se referindo a Wilson Witzel]. Porque nós tivemos mais de dois mil agentes da segurança que estavam presentes no Clube Municipal da Tijuca, antes do segundo turno, e ele deixou bem claro lá que ele iria ouvir a tropa, ele ia ouvir as classes, as associações, para fazer a decisão de qual seria o melhor comandantes. Infelizmente, ele veio com esta surpresa agora, nós estamos nos sentindo traídos, o clima não é bom dentro dos quartéis, as pessoas acreditaram, votaram no juiz na esperança de renovação, de que venha o novo, principalmente sabendo que o comandante atual fez campanha para o Eduardo Paes, agora vem esta continuidade. O clima é de desagrado, a gente não sabe os acordos que foram feitos para que houvesse esta continuidade que, para nós, não traz benefício nenhum, como não trouxe nos últimos anos", destaca uma das fontes.

Um dos oficiais do CBMERJ, que conversou com o Portal Eu Rio!, acredita que o pedido de manutenção do comando tenha sido feito a Witzel pelo juiz federal Ricarlos Almagro, que tem maior proximidade com o governador eleito e com o atual comandante da corporação.

Traição

O clima de tensão que envolve o gabinete de transição de Wilson Witzel não atinge somente o CBMERJ. Um grupo de aliados do governador eleito, que integrou a sua equipe de campanha no primeiro turno, conta que a aproximação de nomes indesejados de políticos vem causando insatisfações e afastando pessoas que esperavam compor os gabinetes palacianos.

Segundo ex- correligionários, Witzel conquistou muitos seguidores com o discurso de acabar com a corrupção no estado. "Este discurso atraiu uma legião de pessoas que trabalharam até de graça na campanha, às vezes, colocando dinheiro do próprio bolso para ajudar na eleição. A campanha dele [Wilson Witzel] foi de adesão popular, e não política. Mas a gente começou a estranhar quando observamos a chegada de políticos que não tinham nenhuma identidade com as nossas propostas, como, por exemplo, o deputado Felipe Bornier e Otávio Leite", contam as fontes.

Felipe Bornier é deputado federal pelo PROS. Na eleição de outubro, obteve 18.775 votos e não conseguiu se reeleger. Felipe é filho do ex-prefeito de Nova Iguaçu, Nelson Bornier (PROS), que teve a sua candidatura indeferida pela Justiça Eleitoral, em 2018. A justificativa do órgão tem base na decisão do Tribunal Regional Eleitoral, que condenou o político por abuso de poder político e conduta vedada a agente público.

No ano passado, os procuradores da Lava Jato no Rio detalharam um esquema que envolvia a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) com políticos do estado e empresários de empresas de ônibus. A denúncia destaca que o ex-presidente da Alerj, Jorge Picciani, preso na Operação Cadeia Velha, teria beneficiado, em 2010, Nelson Bornier, com o valor de R$ 88.084,78. Felipe Bornier teria recebido também mais de R$ 55 mil.

Além da família Bornier, os ex-aliados de Witzel contam que o governador eleito também teve grande aproximação com Maitê Proença, e que ele teria participado de jantar reservado na casa da atriz. Maitê tem sido destaque na última semana nas colunas sociais, como nome contado para assumir a pasta ministerial do Meio Ambiente, na gestão do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). 

Em nota, a assessoria de imprensa do governador eleito Wilson Witzel comentou que há muita "especulação" acerca dos nomes cotados para as secretarias. "Cada anúncio deste tipo será feito única e exclusivamente pelo governador eleito, em entrevista ou por meio de nota oficial", diz o comunicado. O comando do CBMERJ não retornou o nosso contato até o fechamento da reportagem.  


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