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Indígenas e apoiadores convocam para vigilia na Aldeia Maracanã, na véspera de motociata

Preocupação levou organizações a oficiarem mais de uma dezena de autoridades, após evento favorável ao presidente da República ser instigado por deputado estadual bolsonarista

Por Anderson Madeira em 05/08/2022 às 18:28:05

Antigo Museu do Índio está em disputa desde que o ex-governador Sérgio Cabral tentou demolir imóvel para construção de estacionamento. Foto: Divulgação

Grupos de defesa da causa indígena estão convocando apoiadores para uma vigília nesta sexta-feira (5) e no sábado (6), em frente à Aldeia Maracanã, próximo ao Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet). Isso porque o local será o ponto final de uma “motociata” de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, convocada pelo deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB). Os ativistas temem novo ataque à Aldeia, que já foi alvo de ataques por parte de Amorim na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

“Depois das diversas declarações racistas pronunciadas por Amorim contra a comunidade indígena do Maracanã nas redes sociais, das ameaças públicas que fez contra a Aldeia, chamada por ele de 'lixo urbano', das tentativas de intimidação dos indígenas nos arredores do local habitado por eles, sempre acompanhado de seguranças, além de não sofrer qualquer sanção ou processo contra seu mandato pela Alerj, desta vez ele convocou todos os seus apoiadores e os do próprio Bolsonaro para tocar o terror na Aldeia”, disse um trecho da convocação assinada pelo movimento “Aldeia Rexiste”.

“E diante das inúmeras manifestações de solidariedade, estamos convocando todos os seus apoiadores para uma VIGÍLIA em DEFESA da ALDEIA, que vai começar nesta próxima sexta, dia 5, a noite, e só deverá terminar no sábado, 6, depois que o último bolsonarista deixar o local”, convoca o movimento.

O Conselho Indígena Fluminense notificou por ofício, nesta sexta-feira, o governador Cláudio Castro, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o secretário estadual de Direitos Humanos, Júlio Saraiva, entre outras autoridades, alertando e pedindo providências para evitar violência física, atos de racismo e discriminação em função da “motociata”, lembrando de outras ocasiões em que teriam ocorrido por parte de Amorim contra os ocupantes da Aldeia Maracanã.

"O Pindorama (Brasil) e a cidade do Rio de Janeiro são reconhecidamente territórios ancestrais indígenas e é inadmissível que prevaleçam atos de fascismo explícitos em nossa cidade. Somos um Conselho de políticas públicas fundado em 2018 e atuamos na defesa dos Povos Indígena?s de 8 aldeias situadas nos municípios de Maricá, Angra dos Reis e Paraty, assim como dos mais de 15 mil indígenas que vivem nos contextos urbano e rural. Desse total, segundo o Censo Demográfico do IBGE (2010), mais de 7 mil indígenas vivem no contexto urbano da cidade do Rio de Janeiro", afirma Sérgio Ricardo Potiguara, representante da Rede GRUMIN no CEDIND-RJ e cofundador do Movimento Baía Viva.

A motociata convocada nas redes sociais por Amorim é para mostrar apoio a Bolsonaro, um "esquenta" para os atos de 7 de Setembro. Ele recomenda aos apoiadores irem de carro, moto ou bicicleta e vestidos com as cores do Brasil. A concentração será às 8h30, na Praça Afonso Viseu, no Alto da Boa Vista, com partida às 9 horas. O trajeto inclui a Tijuca, Andaraí, Vila Isabel, Praça Saens Pena e o Maracanã.

O ofício também foi enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ), Defensoria Pública da União, Defensoria Pública do Estado, Presidência da Alerj, Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Comissão de Direitos Humanos da Alerj, Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, Tribunal Regional Eleitoral do Rio e Tribunal Superior Eleitoral.

Histórico

Antiga residência do militar e indigenista Cândido Rondon, que em 1912 ajudou a criar o Serviço de Proteção do Índio (SPI) - que na década de 1970 daria lugar à Funai -, a Aldeia Maracanã é um território indígena e tem realizado uma série de atividades pela preservação dessa memória.

No período dos megaeventos, o Batalhão de Choque realizou a reintegração de posse do imóvel, que pertence à União e já abrigou a sede da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Museu do Índio. Na ocasião, o governador Sérgio Cabral (PMDB), atendendo a interesses de empresários que viam na Copa do Mundo e Olimpíadas a oportunidade de lucrar com os eventos, tentou expulsar os indígenas para derrubar o imóvel e construir um estacionamento.

A Defensoria Pública da União interviu e conseguiu impedir o prosseguimento da ação de despejo na Justiça Federal.

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