O Museu Nacional recebeu, nesta segunda-feira (10), 180.800 euros (quase 810 mil reais), do governo alemão para ser utilizado na recuperação do acervo resgatado dos escombros do incêndio que destruiu o prédio, em setembro. A notícia foi dada por meio de entrevista coletiva, na Quinta da Boa Vista.
O Cônsul-geral da Alemanha no Rio de Janeiro, Klaus Zillikens, afirmou que a doação é apenas uma etapa inicial, já que o Museu Nacional receberá do governo da Alemanha um aporte de até 1 milhão de euros, que devem ser repassados de acordo com a demanda do Museu.
"Para nós zelar pela nossa cultura é um dever político e também social. Imediatamente após o incêndio, nós verificamos a possibilidade de ajudar o Museu no resgate e na restauração dos documentos. Nós temos um compromisso com o Museu Nacional e de acompanhá-lo de perto nas próximas etapas", ressalta Klaus.
De acordo com o diretor do Museu, Alexander Kellner, essa doação é extremamente importante, pois será usada na compra de materiais específicos de recuperação de acervo, como computadores e lupas especiais, um em particular para a reintegração de Luzia, o fóssil humano mais antigo do Brasil.
"Esse primeiro montante será usado apenas para a compra de computadores e equipamentos de conservação. Lembrando que as necessidades podem mudar de acordo com o avanço dos trabalhos. É um valor que entra para aquilo que a gente precisa. Nós estamos extremamente gratos pela sensibilidade do governo alemão", reforçou Kellner.
Apesar das dificuldades, até o dia 4 deste mês já foram encontrados mais de 1.500 itens, entre peças das coleções, equipamentos, objetos pessoais, fragmentos arquitetônicos e alguns objetos ainda não identificados. O trabalho de resgates está sendo realizado sob a coordenação de um núcleo com 10 pesquisadores, 47 servidores e três colaboradores.
Entre os objetos encontrados estão peças de cerâmica de origem tupi e marajoara, bonecas Karajá, registradas como patrimônio imaterial do Brasil.
"Aqui nós temos material da arqueologia, mineralogia e etnologia. Por exemplo, conseguimos recuperar as duas bonecas karajás, que foram registradas em 2012 como Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira pelo IPHAN, no Livro dos Saberes e no Livro das Celebrações", destacou Cláudia Carvalho, arqueóloga do Museu e coordenadora do núcleo de resgates.
O trabalho de resgate está seguindo conforme o previsto, de acordo com Kellner. O foco hoje é o escoramento das paredes mais frágeis para que os pesquisadores possam ter acesso ao prédio para procurar as peças. Já o trabalho de cobertura do palácio deve ser iniciado em janeiro.
"Essa etapa emergencial de resgate e registro só pode ser iniciada após o trabalho de escoramento da estrutura do Palácio e da criação de um sistema criado, em conjunto, pelas equipes do Museu Nacional, Unesco e governo alemão. Assim, foi possível criar uma rotina permanente de salvamento. Precisamos trabalhar de forma organizada, com muito cuidado e paciência. O trabalho efetivo de resgate está apenas começando", destacou Kellner.