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Quatro exposições agitam o Centro de Artes da UFF em janeiro

Até o fim do mês as obras podem ser vistas em Icaraí

Por Caroline Carvalho em 03/01/2019 às 13:11:45

Exposição negativa Luz Negra é uma das atrações da UFF (Foto: Divulgação)

Janeiro começou cultural em Niterói. Até o dia 27 a Galeria de Arte da UFF e o Espaço UFF de Fotografia recebem quatro exposições, com entrada franca e visitação até às 21h, de segunda a domingo, em Icaraí, Niterói. As três primeiras, que ficarão na Galeria, são "Nonada", de Juliana Pessoa, cujos desenhos foram baseados em um acervo de fotografias que retratam as sagas da Guerra de Canudos e do grupo do cangaceiro Lampião; "Memória de um corpo naturalista", de Luisa Alexandre, que tem como tema o processo de tomada de consciência acerca da sabedoria inerente ao próprio corpo; e "Ibás", de Jean Araújo, onde o artista pesquisou e recriou os elementos que compõem os assentamentos dos orixás femininos, as Iyabás. No Espaço de Fotografia fica a  exposição "Negativa luz negra", de Lívia Uchôa, que propõe uma reflexão sobre a memória e sobre o lugar que as pessoas negras ocupam na sociedade e na arte brasileira.

A artista Juliana Pessoa, da mostra "Nonada", que trata de desenhos feitos à mão com materiais elementares como grafite, carvão, argila, gesso, pólvora, água, óleo de linhaça, papel e lixa, quis retratar justamente o que muitas pessoas acreditam que sejam apenas rabiscos.

"Diante da abundante proliferação de tecnologias de produção de imagem, o desenho guarda bem essa condição nonada de ser uma coisinha à toa, miserável, mas capaz de concentrar uma grande potência visual. E nesse embate de um fazer, que se faz, desfazendo-se, o desenho nunca é o resultado de uma ação controlada, nem tampouco é fruto exclusivo do acaso, mas está em um lugar entre o acaso e o planejamento; uma dimensão que William Kentridge denomina de fortuna. Faço, desfaço, refaço, dando forma, assim, a uma imagem simultaneamente corroída e resistente, fraca e forte, indo bem ao encontro do conceito do trabalho", analisa a artista.

A expressão "Nonada" é a frase inaugural da narrativa de Riobaldo, retirada do romance "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa. Nonada diz, a princípio, é uma coisa sem valor, de pouca importância, uma insignificância. Porém, à medida que o romance se desenrola, é possível enxergar uma outra dimensão do sentido de nonada. Algo mais se esconde por trás da aparente ignorância de Riobaldo. Os desenhos foram baseados em um vasto acervo de fotografias, que retratam as sagas do arraial de Belo Monte (Guerra de Canudos) e do grupo do cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião.

Já em "Ibás" o artista Jean Araújo reúne elementos das religiões de matriz africana em 32 obras. Ibá (igbá) é o termo iorubá que designa os elementos simbólicos nos altares das religiões de matriz africana. Ibá quer dizer cabaça, continente primeiro na criação do universo na cosmogonia nagô. A exposição procura apresentar a série inédita, onde o artista pesquisou e recriou os elementos que compõem os assentamentos dos orixás femininos, as Iyabás. Com isso, Araújo retirou referências do trabalho de campo em lojas de artigos religiosos, fotografias dos pejis (altares) afro-brasileiros, escritos onde se descreviam os materiais e elementos utilizados na sacralização dos Ibás.

O curador da exposição, Marcelo Campos acredita que a exposição lide com partes visíveis tentando extrair o que é invisível no culto nagô.

"Tal qual a tarefa da pintura na história da arte, muitas vezes, essa representação serve também como invocação de forças sobrenaturais, onde tudo recomeça", afirma o curador

Jean Araújo vem, ao longo dos anos recentes, se dedicando ao universo dos mitos, lendas e características dos orixás do candomblé. Para esta proposta, além dos Ibás, Jean apresentará a séries das folhas sagradas, na qual pesquisa diversas ervas (ewé) que constituem uma prática brasileira de associação à fé, à sacralização, e aos pedidos de boa fortuna.

A exposição "Memória de um corpo naturalista", da artista Luisa Alexandre, traz como tema o processo de tomada de consciência acerca da sabedoria inerente ao próprio corpo, através do contato com a memória, em um processo de busca e autoconhecimento. Através de uma narrativa que conta com 15 obras, em sua maioria, aquarelas e colagens, é possível analisar e comparar formas anatomia de diferentes organismos em diferentes escalas. É através da memória da própria artista que também é bióloga, que os espectadores são convidados a olhar para as relações entre o homem e a natureza, entre as emoções e a anatomia do corpo, entre a terra e o que há além do céu.

"Com a minha formação em zoologia, trago na memória a influência estética da ciência, da ilustração cientifica, dos materiais laboratoriais e da visão de morfologia comparada, mas com a leveza das pesquisas artísticas sobre terapias e transcendentalidades. A narrativa passeia pelas associações em diferentes níveis das partes que compõem um corpo. Esse corpo une o físico - anatomia - ao mental - memória - e ao emocional - sensação-sentimento. E é nesse encontro que se percebe o quão pertencente à natureza é o ser humano e como tudo que observamos no meio ambiente está também contido em nós", afirma a artista.

E a mostra fotográfica "Negativa Luz Negra" é composta por dez fotografias e uma videoarte de Lívia Uchôa. As fotos, que medem 1,60m de altura, retratam pessoas negras da Bahia e do Rio de Janeiro. Coladas em papel adesivo na parede e recortados na silhueta, os corpos inteiros desses homens e mulheres em negativo, brilham, iluminados por uma luz negra dentro de um quarto escuro, hermeticamente fechado. Para chegar lá, é preciso percorrer um curto labirinto em zig-zag. Ao lado de cada fotografia, é possível observar a árvore genealógica de cada um deles, até onde eles lembram: a maioria só conhece os pais, alguns os avós, mas ninguém vai muito longe na lembrança dos antepassados. O objetivo do trabalho é gerar uma reflexão sobre a memória e sobre o lugar que as pessoas negras ocupam na sociedade e na arte brasileira.

"As fotos de Lívia Uchoa nos convidam a adentrar a câmara escura do passado afro-brasileiro, são imagens que buscam resgatar a vitalidade anônima, a ancestral força, a inquebrantável alma que quase trezentos séculos de escravidão não puderam fazer curvar homens e mulheres negras, que tanto contribuíram culturalmente para a formação do povo brasileiro, mas que tão poucas vezes foram dado voz como protagonistas", afirma o curador Glauber Lauria.

SERVIÇO

Nonada

De Juliana Pessoa
Galeria de Arte UFF Leuna Guimarães dos Santos

Visitação: Até 27 de janeiro
Entrada Franca

Segunda a 6ª feira, das 10h às 21h

Sábados e Domingos das 13h às 21h 

Ibás

De Jean Araújo

Curadoria de Marcelo Campos
Galeria de Arte UFF Leuna Guimarães dos Santos

Visitação: Até 27 de janeiro
Entrada Franca

Segunda a 6ª feira, das 10h às 21h

Sábados e Domingos das 13h às 21h 

Memória de um corpo naturalista

De Luisa Alexandre
Galeria de Arte UFF Leuna Guimarães dos Santos

Visitação: Até 27 de janeiro
Entrada Franca

Segunda a 6ª feira, das 10h às 21h

Sábados e Domingos das 13h às 21h

Negativa Luz Negra

De Lívia Uchôa Curadoria de Glauber Lauria

Espaço UFF de Fotografia Paulo Duque Estrada

Visitação: Até 27 de janeiro
Entrada Franca

Segunda a 6ª feira, das 10h às 21h

Sábados e Domingos das 13h às 21h



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