Filha da atriz Lupe Gigliotti; mãe da atriz Maria Maya, de seu casamento com o diretor e ator Wolf Maya; sobrinha do humorista Chico Anysio e do cineasta Zelito Viana; e prima dos atores Marcos Palmeira, Bruno Mazzeo e do comediante Nizo Neto, a diretora de TV e cinema Cininha de Paula soltou o verbo durante talk-show realizado no Festival de Cinema de Vassouras – No Vale do Café. Fora da TV Globo há quatro anos, onde trabalhou por mais de 30, ela revelou que, durante toda a sua carreira na televisão, sofreu diversos assédios morais e sexuais. “Muitos, a todo momento! Os assédios sexuais somente pararam quando me tornei avó. Agora na idade em que estou, sofro apenas os morais”, contou, aos risos.
Apesar dos percalços profissionais, Cininha disse que dois diretores a ajudaram muito na caminhada: Roberto Talma e Daniel Filho. “O primeiro era mais duro, brigava se um objeto estivesse fora do lugar na cena, eu chorava muito. O segundo era mais doce, mas também bastante exigente. Foi uma escola!”, disse.
A diretora observou que houve uma época em que havia somente três diretoras de TV na Rede Globo. “Eu, Denise Saraceni e Marlene Mattos, que depois saiu ao brigar com a Xuxa. Era um ambiente difícil, mas a direção requer de você uma transformação. O Daniel falava que o figurino estava errado, mas não era o do ator, era o meu! ‘Se vista bem, se faça respeitar’, ele pedia. E estava certo!”, afirmou.
Ela lembra que começou a carreira como atriz, mas queria galgar degraus. “Pedi para ser assistente de direção, mas recebi a resposta que não tinha nenhuma oportunidade naquele momento e, ainda por cima, ‘eu era mulher’. Naquela época, essa profissão era realizada apenas por homens, uma área completamente machista”, observou.
Mas o sonho era a direção e Cininha não desistiu. “Resolvi montar um espetáculo teatral que fez sucesso. Um dia, Roberto Talma foi assistir a peça e me convidou para ser assistente de direção da novela ‘Mandala’, de 1987. Vera Fischer e Felipe Camargo eram casados, não eram fáceis no set... Mas a partir dali passei a auxiliar os principais diretores da emissora e esta foi minha verdadeira formação”, contou.
Durante a carreira, Cininha diz que sabia se impor. “Tenho apenas 1,56 de altura, mas sou cascuda e falo grosso, com isso me fiz respeitar”, revelou. Apesar disso, ela diz que o sofrimento foi inenarrável. “Se eu estivesse de TPM, por exemplo, tristonha ou no período pré-menstrual, teu chefe falava: ‘Eu não te disse pra você encostar a barriga no fogão e fazer uma comida? Lavar uma louça? O que eu tenho a ver com isso? Eu não mandei você estar aqui!'
Mas esse tempo passou e a diretora, atualmente, ministra aula para crianças. “Gente, elas não sabem quem foi Chico Anysio, mas reputo isso muito aos pais, que não repassaram as informações. Mesmo assim montei uma comédia musical com elas sobre meu tio, a ‘Escolinhazinha do Professor Raimundo’, na qual dirijo essa galera infanto-juvenil”, afirmou.
Sobre a nova geração de diretoras de TV, Cininha cita duas que “adora”. “Luisa Lima, da série ‘Os Outros’, e Anna Muylaert, de ‘Que horas ela volta?’. Essa última eu amo, queria ser ela!”, brincou.