O mundo, em 2004, era bem diferente, e os brasileiros também. O Orkut dava seus primeiros passos, o Facebook estava nascendo e as notícias sobre o tsunami que varreu o Sudeste Asiático, deixando mais de 200 mil mortos, chegavam pelas telas da televisão e jornais impressos. De lá para cá, muita coisa mudou, assim como as metas, os valores e até mesmo os adjetivos para descrever quem nasceu no país. Para entender quais foram essas transformações, e como elas impactam o padrão de consumo, a HSR Specialist Researchers entrevistou 2.786 pessoas de todas as idades, raças, religiões, gêneros e orientações sexuais e comparou com um levantamento semelhante que realizou há duas décadas.
O retrato que a pesquisa inédita “Brasil Brasileiro” revelou mostra que é preciso esquecer os estereótipos e saber que, embora a população siga gostando de música e futebol, vai muito além disso. Hoje, ela se enxerga como mais criativa e inovadora (23%, contra 16% há 20 anos) e também como mais batalhadora (27% contra 20%).
O brasileiro está mais solidário (21%,contra 16%), mas também parece ter deixado para trás um pouco da alegria que o caracterizava. Hoje, apenas 35% dos entrevistados disseram que o povo é feliz, uma queda em relação à percepção de 2004, de 44%. A descontração também está em baixa, foi citada por 8%, contra 14% de duas décadas antes. O brasileiro agora também se vê com um povo sofrido (20%, contra 15%), mas continua se sentindo inteligente (15% nos dois recortes).
Embora o brasileiro não seja mais o mesmo de 20 anos atrás, ele ainda pode ser reconhecido em muitos aspectos quando olhamos para o passado. Ele continua valorizando o “combo” família, casa e trabalho, mas passou a prestar atenção a outros itens que antes não considerava tão relevantes.
A qualidade de vida, por exemplo, virou preocupação para 79% dos entrevistados, um aumento de 30% em relação à pesquisa realizada pela HSR em 2004. O brasileiro hoje quer hoje se alimentar melhor, praticar exercícios físicos regularmente e cuidar do seu bem-estar, sem deixar de lado a saúde mental, outro item que despontou (71%, contra 65%).
A maior alta foi no quesito segurança financeira, que, se antes era valorizada por 48%, hoje alcança 66% (crescimento de 37%). Embora esteja muito preocupado com esta estabilidade, talvez impactado por sucessivas crises financeiras e pela alta no desemprego ocorrida na pandemia, o brasileiro também não deixa dúvidas de que quer se divertir. O lazer foi citado como valor para 54% dos entrevistados, contra 49% em 2004.
O hedonismo está a toda e isso se reflete nas metas do brasileiro. O segundo desejo mais lembrado pelos entrevistados foi viajar pelo país (sonho de 58%), atrás apenas de ter segurança financeira, primordial para 61%.
A pesquisa também destrinchou as prioridades de vida de acordo com cada classe social. A estabilidade profissional/no emprego despontou como a mais importante para 41% dos entrevistados, sendo a preocupação maior entre a classe B (42%) e menor entre a A (35%). O desejo de autorrealização apareceu como prioridade para 25% dos entrevistados, com predominância nas classes A e B (28% e 27%, respectivamente) e 23% na classe C.
“Nos últimos 20 anos, o Brasil enfrentou desafios persistentes, incluindo crises econômicas e políticas. No entanto, durante esse período, a população demonstrou notável resiliência, amadurecendo na avaliação dos problemas do país. As pessoas agora estabelecem metas além da sobrevivência, são mais críticas, preocupadas com a saúde, solidárias, engajadas em causas ambientais e coletivas, e aproveitam as vantagens da tecnologia. Como empresas, é importante questionarmos que oportunidades estamos proporcionando aos nossos consumidores para que possam utilizar seu conhecimento, vontade e compromisso na transformação não apenas de suas próprias vidas, mas também na melhoria das comunidades onde vivem”, finaliza Karina Milaré, sócia diretora da REDS, member da HSR Specialist Researchers.