Preso desde o último dia 30 de julho, sob a acusação de portar um radiotransmissor do tráfico, o jovem Weslley Rodrigues, de 21 anos, vai responder ao processo em liberdade, até o julgamento. Não há data definida oficialmente, mas acusações como as que foram feitas contra Weslley costumam ser julgadas em três meses, no mínimo. A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) obteve, na tarde de terça (6), um alvará de soltura em favor do rapaz, que é réu primário, tem emprego comprovado e é estudante da rede pública de ensino.
O estudante foi preso durante uma operação da polícia no Complexo do Alemão, no subúrbio da Leopoldina onde mora. Segundo testemunhas, o jovem estava conversando com um amigo da loja ao lado da que ele trabalha, quando começou o tiroteio. Eles entraram para se refugiar. Na sequência, policiais entraram no estabelecimento e atribuíram a Wesley a posse de um radiotransmissor. O jovem teria sido agredido com um tapa na cara no momento da prisão, sempre de acordo com o relato do site da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.
Levado à audiência de custódia, no dia 1º de agosto, o jovem teve a prisão em flagrante convertida para preventiva. Diante do fato, a família procurou a DPRJ e foi atendida na manhã de terça pela defensora Carla Vianna, do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (DPRJ). Após coletar todas as informações necessárias, a defensora ingressou com pedido de liberdade para o jovem, que foi acolhido pela juíza Simone Rolim, da 29ª Vara Criminal da Capital do Rio.
"Conseguimos restabelecer a justiça. Diante dos documentos que comprovam o trabalho e a matrícula na escola, a juíza entendeu que a prisão não era necessária. Pelo contrário, trata-se até de uma medida desproporcional a conduta imputada", afirmou Carla, destacando que casos assim, infelizmente, não são tão raros.
Pela decisão, Wesley terá que comparecer mensalmente à Justiça. Também não poderá sair do Rio sem autorização judicial. O jovem estava no presídio Ary Franco, em Água Santa, Zona Norte do Rio e foi solto na noite de terça.
Durante o atendimento no Nudedh, Alexandrina da Cunha Rodrigues, mãe do jovem, destacou que o filho estuda e foi indiciado por ser morador de comunidade e negro.
"Se eu estou agora gritando, é porque tenho certeza: meu filho não estava com rádio nenhum. Eu sei quem é meu filho, por isso estou aqui. Ele é inocente, não é traficante. Nenhuma mãe mostraria o rosto para mentir", afirmou.
Auxiliar de serviços gerais Alexandrina, de 42 anos, luta para conseguir provar a inocência do filho Weslley Rodrigues Jacob de 21 anos. O estudante do 3° ano do Ensino Médio da escola CAIC Theóphilo de Souza Pinto foi levado na tarde da terça, dia 30 de julho, por policiais da UPP do Alemão, no Complexo do Alemão. De acordo com testemunhas, citadas em matéria do jornal Voz da Comunidade, editado no Complexo, Weslley estava dentro de uma loja na rua Joaquim de Queiroz, na Grota, onde se protegia de uma troca de tiros que acontecia na vizinhança, quando foi abordado por PM's e levado para a 21 DP Bonsucesso.
Alexandrina contou ao Voz da Comunidade que o filho vinha sendo ameaçado pelo batalhão há meses e que temia que algo ruim acontecesse. "Meu filho leva dura da polícia todos os dias na porta de casa e nunca encontraram nada com ele. Meu filho é honrado, nunca me deu problema e é um bom aluno. Estava desempregado e enquanto isso está trabalhando nessa loja de eletrônico, de onde foi levado. Todo mundo na rua sabe que ele é um garoto honesto e que estava sendo perseguido por ser preto, favelado".
Ainda de acordo com testemunhas ouvidas pelo Voz da Comunidade, antes de ser detido, Weslley foi agredido e ameaçado com uma faca, e teve um rádio transmissor implantado como pertence. "Viram os militares achando um rádio no lixo e logo depois entraram na loja onde estava o meu filho. O amigo que trabalha na loja e estava com ele na hora da abordagem disse que obrigaram o Weslley a fazer uma chamada nesse rádio enquanto seguravam uma faca no pescoço do meu filho", argumenta a mãe do rapaz.
Durante a semana, Weslley foi transferido para a Cadeia Pública de Benfica e depois para o presídio de Água Santa, onde aguardava audiência. "Meu filho é inocente, como podem fazer isso com ele? Como podem fazer isso com uma mãe? Esses policiais tem filhos? Como eles chegam em casa e conseguem conviver com a família deles sabendo que armaram para prender alguém? Que estão destruindo outra família? Como vai ficar a cabeça do meu filho quando sair de lá? Ele não vai ser o mesmo", questionava Alexandrina, aos prantos, durante entrevista transmitida ao vivo nas redes do Voz das Comunidades.
OUTRO LADO - A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informou ao Voz da Comunidade que na noite de terça-feira (30/7), equipes da Unidade Polícia Pacificadora (UPP) Alemão realizavam policiamento pela Rua Joaquim de Queiroz quando criminosos atiraram contra os policiais. Houve confronto e os marginais fugiram. Em ação de varredura, os policiais encontraram um suspeito com um rádio comunicador. O jovem foi conduzido à 21ª DP (Bonsucesso).