"Besouro Azul": a dose latina era o que a DC precisava

Ir à cabine de imprensa de filmes de super-heróis é a certeza que estarão mais cheias que a de outros filmes. Seja Marvel ou DC, os “esquemas de pirâmides” (como eu gosto de chamar) nos arrastam para os cinemas há anos. E aqui estamos nós, em mais uma estreia, para assistir a mais uma peça desse grande (e infinito?) quebra-cabeça.

Mas calma, porque essa aposta da vez deu certo. Já acompanhávamos que a DC estava tentando se reformular. Foi tempo em que nos decepcionamos com “Esquadrão Suicida”, após o trailer prometer tanto, ou enxergar apenas as luzes dos olhos brilhantes da armadura de Bruce Wayne em “Batman Vs Superman”. A produção decidiu acender as luzes, em todos os sentidos da palavra. Como diria Maurílio, do “Choque de Cultura”, a DC é uma violência mais madura, só que agora estão abraçando seus adolescentes interiores. A aposta, que não deu muito certo, de “Shazam!” para um filme mais família foi um início e sua sequência também. Além disso, outro grande exemplo foi “The Flash”, com mais um filme com forte viés cômico, sem abrir mão do drama e de fácil conexão com o público.

Então, eu posso confirmar que a DC conseguiu se encontrar aqui. O novo super-herói é jovem, é uma novidade, é animado e é cativante. “Besouro Azul” é um filme de origem que tem uma narrativa bem fechada, mesmo que já indique suas ramificações e consiga introduzi-lo no universo dos demais filmes. Funciona bem todo seu roteiro, desde a apresentação dos personagens até o embate com a vilã. A direção de Angel Manuel Soto (estreante em um projeto de grande orçamento) é enérgica como seu protagonista. Só que, claro, precisamos falar do seu elenco.

Saiba que você já precisa ir ao cinema só por conta dela: Bruna Marquezine. A atriz brasileira é um abraço quentinho no filme. Convenhamos, tem como não ficamos emocionados vendo ela na tela grande em uma produção dessas? Não só pela facilidade com a língua inglesa, Bruna está bem à vontade com sua personagem, que também é brasileira, e é uma ótima combinação com o elenco. Xolo Maridueña, por sua vez, é um protagonista que faz a gente torcer por ele com aquele toque de que gostaríamos de também ser seu amigo. A química entre os dois é ótima e dou muitos créditos por conta da amizade que criaram.

Os demais do elenco, majoritariamente latino-americanos, nos aproximam da família, muito graças às piadas e boas surpresas de detalhes nos alívios cômicos que são referências imediatas para o imaginário brasileiro. O filme conquista seu holofote por conta deles, porque nos divertimos com essa família e queremos que eles ganhem. Por outro lado, não poderia deixar de falar sobre Susan Sarandon, mais uma atriz (mais que) reconhecida que agora tem seu papel no universo de super-heróis. Sua vilã funciona, mas nada memorável. Cumpre bem seu objetivo só que, claro, por ser interpretado por ela, nós já criamos um respeito maior.

O roteiro, para além do bom ritmo de comédia e drama familiar, traz boas pinceladas críticas sobre a posição imperialista dos Estados Unidos. No entanto, não espere um grande discurso político ou sair da sala reflexivo por conta de alguma cena, mas há sequências com alfinetadas certeiras. Como comentei, a fotografia melhorou bastante se compararmos aos anteriores. Eu aprovo essa identidade neon, seguindo bem as características do protagonista, além de terem lembrado de arrumar o orçamento da pós-finalização. Chega de CGI mal acabado, né? E, por último, mas não menos importante: uma boa trilha sonora, que casa muito bem com o ritmo animado da narrativa.

É daqueles filmes que é uma boa programação do final de semana para se divertir por duas horas na sala escura porque vale, sim, seu ingresso. E, se puder, assista em IMAX. Mas já deixa anotado: são duas cenas pós créditos. Bom filme!