Quando entrei no teatro da Laura Alvim, quase caí para trás, diante do que meus olhos contemplaram. Eu não sabia se um quadro estava à minha frente, ou se realmente aquilo era um cenário. A beleza pairou ali, diante dos meus olhos, me encantando, me fazendo acreditar que o teatro realmente é um lugar de sonhos também, além de me permitir entender um pouco do outro, da humanidade.
Como se não bastasse, ao entrar de cada artista/personagem no palco, a obra de arte ainda ficava mais bela, mais incandescente aos olhos, pois os figurinos ampliavam mais a estética belíssima do que eu estava assistindo. As indumentárias falavam tanto nessa obra que eu podia me acolher nelas, e isso seria suficiente. Como eu disse: era um quadro!
Marcelo Marques é o nome do responsável por toda essa bela obra mencionada!
A iluminação é da querida Ana Luzia de Simoni. Ela criou um desenho de luz belíssimo, que enquadra a noite e o dia. Há poesia no trabalho da profissional, ela acolhe a obra com graça através da sua luz. Raro eu ter esse sentimento, pois muitas vezes a iluminação presenteia a obra com dinamismo e também revela os personagens, mas poesia é mais difícil. E Ana conseguiu chegar no ponto certo!
Em parceria com Ana Luzia, a trilha sonora alimenta ainda mais essa poesia. Marcelo Alonso Neves apresentou o erudito certo, que mexe com nossas emoções. Lindo mesmo!
Na verdade, este espetáculo tem uma estética visual encantadora. Incrível o trabalho desses profissionais, parece que se casaram e estão felizes, algo raro...
O texto de Rômulo Pacheco é uma graça, de fácil entendimento, uma verdadeira reflexão da vida, do mundo, questões que até os dias atuais nos envolve. Atitude vil de alguns e verdade de outros. A vida como ela é. E que, infelizmente, lembram a vida do artista Van Gogh e algumas de suas vivências.
A atuação de Daniel Ericsson é afinada, além de poética. Chamou a minha atenção. O artista atua o tempo inteiro no palco, enquanto os demais artistas entram e saem. Xando Graça encarna o mecenas e o faz muito bem feito. Ele consegue nutrir um sentimento de ira em nós. Afinal, ele é um personagem sem escrúpulos.
Já a atriz Vitória Furtado, que me desculpem os belos e recatados, a puta que presta serviços ao Thuja, é uma personagem que irradia o palco e a plateia. Ela consegue nos levar.
A atriz vem despudorada, solta, rampeira mesmo! A melhor putana do mundo! Seu trabalho é forte e floresce diante dos nossos olhos.
Enquanto isso, a atriz Renata Gasparim encarna o “grande amor” de Thuja, mas que não vale nada.
"Coração de Van Gogh" é uma daquelas peças que provoca encanto. Fala sobre o amor, sentimento que nos restringimos. São tantos percalços que desistimos dele. Se pararmos para pensar, são poucos os espetáculos que trazem o tema atualmente. Um reflexo vivo da sociedade. Falamos de política, histórias africanas, mas o amor…
Quando temos a oportunidade de assistir uma obra como essa, ficamos a nos questionar: será que o amor tornou-se algo mais distante de nós? Ele realmente esfriou? Como diziam os profetas, cabe mesmo uma reflexão, enquanto há tempo?
O espetáculo também me levou a entender o quanto a ciência avançou no aspecto da saúde mental. Como eram os tratamentos e como hoje conseguimos ampliá-los e torná-los um pouco melhores. Seja esse médico ou até mesmo nossa forma de olhar para o outro.
Uma obra bela, diferente, com desdobramentos não esperados.
Um texto bem elaborado, uma direção cuidadosa.
Da minha poltrona eu gritei, ao final da peça: lindo!
Porque é lindo e é uma obra viajante. Há nela um intimismo, uma poesia e algo bucólico, que não transgride.
Roubam risos da plateia e defendemos o protagonista!
Uma graça de espetáculo, que deveria seguir ocupando os palcos.
Sinopse
A peça acompanha a vida de Thuja (Daniel Ericsson), pintor francês da belle époque, miserável, maníaco-depressivo e que ama demais. Um gênio que vive à margem da sociedade. Faz uso abusivo de álcool e drogas. Está em crise, às voltas com o tratamento psiquiátrico da época. Falta-lhe tudo: inspiração, amor, equilíbrio emocional e dinheiro. Só não lhe falta sexo, que consegue pagando prostitutas com o dinheiro de Otto (Xando Graça), um célebre homem das artes que, encantado com a sua obra, decide ser seu mecenas. Vive em um apartamento alugado por Otto, de quem depende financeiramente e em quem deposita a esperança de alcançar visibilidade e, principalmente, o dinheiro necessário para abandonar a vida miserável. Mas Thuja põe tudo a perder quando cisma com Sylvie (Renata Gasparim), uma moça leviana e ambiciosa, e se envolve com Lua (Vitória Furtado), uma prostituta.
Ficha Técnica
Texto: Rômulo Pacheco
Direção: Ticiana Studart
Elenco: Daniel Ericsson, Xando Graça, Vitória Furtado e Renata Gasparim
Cenografia e Figurinos: Marcelo Marques
Trilha Sonora: Marcelo Alonso Neves
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Visagismo: Ulysses Rabelo e Regina Guimarães
Direção de Movimento: Bianca Andreoli
Diretor Assistente: Francisco Paz
Coordenação Geral: Maria Vitória Furtado
Direção de Produção: Juliana Cabral
Produção Executiva: Luiza Toré
Assistência de Produção: PV Israel
Realização: Vitória Produções
Serviço
Temporada: Até amanhã (20/08)
Teatro Laura Alvim: Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema.
Dias e horários: sexta e sábado, às 20h e domingo, às 19h.
Classificação: 16 anos
Venda de ingressos: bilheteria do teatro ou no site https://funarj.eleventickets.com