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"Um coração de Van Gogh": uma daquelas peças que nos provoca encanto

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 19/08/2023 às 16:13:32

Quando entrei no teatro da Laura Alvim, quase caí para trás, diante do que meus olhos contemplaram. Eu não sabia se um quadro estava à minha frente, ou se realmente aquilo era um cenário. A beleza pairou ali, diante dos meus olhos, me encantando, me fazendo acreditar que o teatro realmente é um lugar de sonhos também, além de me permitir entender um pouco do outro, da humanidade.

Como se não bastasse, ao entrar de cada artista/personagem no palco, a obra de arte ainda ficava mais bela, mais incandescente aos olhos, pois os figurinos ampliavam mais a estética belíssima do que eu estava assistindo. As indumentárias falavam tanto nessa obra que eu podia me acolher nelas, e isso seria suficiente. Como eu disse: era um quadro!

Marcelo Marques é o nome do responsável por toda essa bela obra mencionada!

A iluminação é da querida Ana Luzia de Simoni. Ela criou um desenho de luz belíssimo, que enquadra a noite e o dia. Há poesia no trabalho da profissional, ela acolhe a obra com graça através da sua luz. Raro eu ter esse sentimento, pois muitas vezes a iluminação presenteia a obra com dinamismo e também revela os personagens, mas poesia é mais difícil. E Ana conseguiu chegar no ponto certo!

Em parceria com Ana Luzia, a trilha sonora alimenta ainda mais essa poesia. Marcelo Alonso Neves apresentou o erudito certo, que mexe com nossas emoções. Lindo mesmo!

Na verdade, este espetáculo tem uma estética visual encantadora. Incrível o trabalho desses profissionais, parece que se casaram e estão felizes, algo raro...

O texto de Rômulo Pacheco é uma graça, de fácil entendimento, uma verdadeira reflexão da vida, do mundo, questões que até os dias atuais nos envolve. Atitude vil de alguns e verdade de outros. A vida como ela é. E que, infelizmente, lembram a vida do artista Van Gogh e algumas de suas vivências.

A atuação de Daniel Ericsson é afinada, além de poética. Chamou a minha atenção. O artista atua o tempo inteiro no palco, enquanto os demais artistas entram e saem. Xando Graça encarna o mecenas e o faz muito bem feito. Ele consegue nutrir um sentimento de ira em nós. Afinal, ele é um personagem sem escrúpulos.

Já a atriz Vitória Furtado, que me desculpem os belos e recatados, a puta que presta serviços ao Thuja, é uma personagem que irradia o palco e a plateia. Ela consegue nos levar.

A atriz vem despudorada, solta, rampeira mesmo! A melhor putana do mundo! Seu trabalho é forte e floresce diante dos nossos olhos.

Enquanto isso, a atriz Renata Gasparim encarna o “grande amor” de Thuja, mas que não vale nada.

"Coração de Van Gogh" é uma daquelas peças que provoca encanto. Fala sobre o amor, sentimento que nos restringimos. São tantos percalços que desistimos dele. Se pararmos para pensar, são poucos os espetáculos que trazem o tema atualmente. Um reflexo vivo da sociedade. Falamos de política, histórias africanas, mas o amor…

Quando temos a oportunidade de assistir uma obra como essa, ficamos a nos questionar: será que o amor tornou-se algo mais distante de nós? Ele realmente esfriou? Como diziam os profetas, cabe mesmo uma reflexão, enquanto há tempo?

O espetáculo também me levou a entender o quanto a ciência avançou no aspecto da saúde mental. Como eram os tratamentos e como hoje conseguimos ampliá-los e torná-los um pouco melhores. Seja esse médico ou até mesmo nossa forma de olhar para o outro.

Uma obra bela, diferente, com desdobramentos não esperados.

Um texto bem elaborado, uma direção cuidadosa.

Da minha poltrona eu gritei, ao final da peça: lindo!

Porque é lindo e é uma obra viajante. Há nela um intimismo, uma poesia e algo bucólico, que não transgride.

Roubam risos da plateia e defendemos o protagonista!

Uma graça de espetáculo, que deveria seguir ocupando os palcos.

Sinopse

A peça acompanha a vida de Thuja (Daniel Ericsson), pintor francês da belle époque, miserável, maníaco-depressivo e que ama demais. Um gênio que vive à margem da sociedade. Faz uso abusivo de álcool e drogas. Está em crise, às voltas com o tratamento psiquiátrico da época. Falta-lhe tudo: inspiração, amor, equilíbrio emocional e dinheiro. Só não lhe falta sexo, que consegue pagando prostitutas com o dinheiro de Otto (Xando Graça), um célebre homem das artes que, encantado com a sua obra, decide ser seu mecenas. Vive em um apartamento alugado por Otto, de quem depende financeiramente e em quem deposita a esperança de alcançar visibilidade e, principalmente, o dinheiro necessário para abandonar a vida miserável. Mas Thuja põe tudo a perder quando cisma com Sylvie (Renata Gasparim), uma moça leviana e ambiciosa, e se envolve com Lua (Vitória Furtado), uma prostituta.

Ficha Técnica

Texto: Rômulo Pacheco

Direção: Ticiana Studart

Elenco: Daniel Ericsson, Xando Graça, Vitória Furtado e Renata Gasparim

Cenografia e Figurinos: Marcelo Marques

Trilha Sonora: Marcelo Alonso Neves

Iluminação: Ana Luzia de Simoni

Visagismo: Ulysses Rabelo e Regina Guimarães

Direção de Movimento: Bianca Andreoli

Diretor Assistente: Francisco Paz

Coordenação Geral: Maria Vitória Furtado

Direção de Produção: Juliana Cabral

Produção Executiva: Luiza Toré

Assistência de Produção: PV Israel

Realização: Vitória Produções

Serviço

Temporada: Até amanhã (20/08)

Teatro Laura Alvim: Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema.

Dias e horários: sexta e sábado, às 20h e domingo, às 19h.

Classificação: 16 anos

Venda de ingressos: bilheteria do teatro ou no site https://funarj.eleventickets.com



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