É fácil fazer o que precisa ser feito nos dias bons. O desafio se concentra em concluir tarefas quando tudo parece estar desmoronando.
Sabe quando o ônibus está lotado e vai se aproximando do ponto o qual você precisa descer, mas você sequer está próximo à porta da saída? Ou quando você é criança e sua mãe pede para que fique na fila do supermercado enquanto ela vai buscar uma caixa de leite que havia esquecido, mas aí vai chegando a sua vez e nada de ela retornar? Ou até mesmo quando, apesar de não saber nadar, você está na praia e a cada tentativa de sair do mar surgem diversas ondas e você simplesmente não consegue sair?
Esse acoplado de ansiedade e sensação de incapacidade atrelada à necessidade de pensar rápido e solucionar tudo o mais depressa possível faz parte da rotina de muitos de nós e, infelizmente, quase nunca nos lembramos que não podemos controlar as circunstâncias, por mais que queiramos. Certamente, a gente só precisa cumprir com nossas obrigações, fazer o que precisa ser feito estando feliz ou não. Cruel, né?
Às vezes tenho a impressão de que todos os dias começam e terminam iguais. Me sinto tão sem assunto… Só existindo, no automático. Parece que há um não-sei-o-quê faltando… Quem não se sente assim? Parece que todo mundo ao redor está vivendo de verdade. Que terrível mania de nos compararmos, não?
Eu, por exemplo, não suporto abrir as redes sociais nas sextas e sábados. Ao longo da semana, eu até compartilho um pouco da minha rotina na faculdade, no trabalho, na academia, posto a minha leitura atual ou uma comida bonita, uma música ou até mesmo compartilho um post legal, assim como as outras pessoas. Tem uma dose de vida real também: posto até mesmo as frustrações com o transporte público. Mas quando o fim de semana chega, parece que todo mundo tem uma vida social para mostrar, enquanto eu não tenho assunto.
Às vezes, tenho a impressão de que o mundo lá fora é uma grande festa para a qual eu não fui convidada. Ou até fui, mas estou exausta demais para aceitar o convite. Será que essa festa está tão animada assim? Será que os stories são projeção de uma sincera felicidade?
Talvez eu prefira passar a noite de sábado, depois de um longo dia de trabalho, em casa e fazer uma skin care, abrir um vinho, assistir a uma série com os meus gatos. Mas, ainda assim, ao abrir uns oito stories consecutivos e ver todo mundo curtindo baladas, me provoca uma sensação de estar vivendo errado e me causa até dúvidas sobre o que eu realmente gosto. E se eu deveria gostar do que gosto. Mas quem disse que tem certo ou errado? Eu posso querer curtir um barzinho um outro dia qualquer. Por favor, não pense que desprezo a socialização. Claro que gosto de sair e ver gente, de vez em quando, mas não gosto de sentir que isso é uma regra em minha agenda, uma necessidade para todos os fins de semana.
E também de onde surgiu essa necessidade de provar para o mundo que a nossa rotina é incrível? Que estamos melhores de vida que muita gente por aí... Isso vai muito além de um fim de semana rodeado de amigos (reais ou não). E como que nós, muitas vezes “vítimas da ansiedade’’, empoderamos esse sistema competitivo quando, na verdade, sabemos que ninguém está tão bem assim. Convenhamos!
Esse texto não é um pedido de revolução contra as redes sociais, é apenas mais um convite para olharmos para dentro de nós. Afinal, somos muito mais do que um dia ruim, somos muito mais do que aquilo que publicamos ou deixamos de publicar, somos muito mais do que aqueles recortes postados que afetam nossa autoestima. Às vezes, só precisamos de um tempinho para curtir a nossa própria companhia, às vezes é muito mais interessante do que qualquer uma. Ou não. Mas desenvolver um equilíbrio, aí sim é a chave da coisa!
Até o próximo texto!
@portal.eurio
https://www.instagram.com/annadominguees/
https://www.wattpad.com/user/AnnaDominguees