"Não importa o quão forte você golpeia, mas sim, quantos golpes você aguenta levar e continuar em frente", diz o lutador Balboa em uma das cenas emblemáticas de Rocky 6, lançado em 2006. A frase motivacional serviria para qualquer pessoa na face da Terra que enfrenta tudo e a todos para vencer na vida. Mas para Michael Sylvester Gardenzio Stallone, especialmente, a retórica tem o efeito de um cruzado que o destino aplicou no rosto do ator, roteirista e diretor de 77 anos.
Até chegar aqui, nada na vida de Sylvester Stallone foi fácil. Desde o nascimento, naquele 6 de julho de 1946, em Nova York, no qual uma paralisia no lado esquerdo do rosto sofrida na hora do parto acompanha o ator há anos, até o documentário "Sly", que estreou na Netflix em novembro de 2023, traumas continuam passeando no hipercampo - parte do cérebro que se armazenam as lembranças - do astro.
Dificuldades para tornar-se ator, a contumácia em (re) escrever roteiros, as expulsões nos colégios quando criança e a fixação por Hércules, cuja finalidade era em querer ser o novo Steve Reeves (1926-2000). Não bastassem estes ingredientes, o divórcio da mãe, a distância do irmão Frank, e a péssima convivência com o pai, Frank Stallone Sr., relação esta de pai e filho que o fez mudar completamente a maneira de ver a vida. Queiram ou não, Stallone é o blockbuster das películas de ação dos anos 1970, 1980, 1990, 2000 e 2010. Impossível falar do gênero sem citá-lo.
O longa documental "Sly" que Stallone entrega ao público mostra, de forma convincente, um ser humano que fatia partes da vida sem esconder traumas vividos na infância. O pano de fundo tornar mais real a sensação de quem está chegando ao fim de alguma coisa que não sabemos o que de fato é. Tomadas dos funcionários de uma empresa de mudanças que vão, de forma gradativa, embrulhando as coisas na mansão da família Stallone, localizada em Los Angeles, dão a dimensão exata de que Rocky e Rambo não são de carne e osso. Já Stallone, este é!
Isso fica claro quando detalha abusos físicos que sofria dos pais durante a infância e adolescência. Segundo o astro, ele e o irmão eram submetidos a castigos corporais por Frank Sr. e Jackie Stallone, que iam desde surras com escovas de cabelo até a uma tentativa de enforcamento por parte do pai.
Nos 90 minutos de duração, "Sly" tem narrativa bem explorada pelo diretor Thom Zimny - acostumado a realizar videoclipes com o cantor e compositor Bruce Springsteen - no qual Stallone, diferentemente de tudo que o público está acostumado a ver nas telas do cinema, alterna rompantes melancólicos e reflexivos. Quentin Tarantino e Arnold Schwarzenneger, este último rival por muito tempo nas telas de cinema e amigo fora delas, contam histórias curiosas. Se você é apreciador do "Garanhão Italiano", prepare a pipoca com refrigerante e emocione-se! Seja como Rocky e aguente até o "soar do gongo".