Você lembra, lá na infância, da transição do copo de plástico para o de vidro? Do piniquinho para o banheiro? E do lápis para a caneta na escola? Ah, a gente se sentia bem adulto nessas transições, não? Arrisco dizer que você comemorava mesmo e permitia o sentimento de satisfação.
Dia desses, eu parei para pensar um pouquinho em minha trajetória. Poxa, já bati algumas metas. Mas ainda faltam tantas... Esse desejo ambicioso deveria soar mais saudável, digo, ainda tem muita meta para bater, mas nada impede que eu me sinta realizada com o que já conquistei. Não sei se você concorda, mas acho que nos sentimos mais entusiasmados quando somos elogiados. Tudo bem, quando somos julgados, desejamos provar o contrário, mostrar que somos sim capazes. Isso não é entusiasmo. Há aqueles que sofrem mais com a crítica. Cada um é de um jeito, mas o ponto é: qual foi a última vez que você se elogiou?
Me pergunto: quando foi que paramos de vibrar nossas pequenas evoluções? Por favor, não quero trazer uma ideia de positividade tóxica e sim provocar uma reflexão. Já reparou que gastamos muito mais energia para julgar a nós mesmos? Somos cruéis diariamente, não? Desmerecemos e diminuímos nossas vitórias. E qual a finalidade? Você acha que vai funcionar melhor sobre pressão? Ou que precisa ser ‘’útil’’ a todo momento e não merece uma folga?
Fala sério, ninguém é produtivo o tempo todo. Chega uma hora que a gente cansa. A gente procrastina mesmo... Esse é o efeito colateral de estar vivo. A gente é humano, às vezes parece que somos máquinas, nos cobramos que sejamos assim, mas somos muito humanos. Deveríamos ser. Talvez você não tenha percebido, mas ainda corre vida em suas veias. Esse mensagem poderia ser direcionada a mim que, mais uma vez, está entregando o texto depois do prazo e não me perdoei por não ter dado conta das múltiplas funções que planejei para a semana. Acho que esqueci a minha natureza humana em casa. De novo.
Você lembra da primeira vez em que andou de bicicleta sem rodinha? Foi uma sensação libertadora, acredito eu. Pelo menos comigo foi assim. Me senti adulta. Me senti mais velha. A gente sempre quer crescer, né? A gente acha que os adultos sabem de tudo. Queria dar um recado para minha versão infantil e dizer que não é nada disso... A gente parou de celebrar nossos passos. A gente adia qualquer sentimento de felicidade. ‘’Consegui uma vaga no emprego dos sonhos, mas não comemorarei agora porque ainda não é na função que desejo’’. Mas não é um passo? ‘’Obtive uma nota boa na prova, mas não comemorarei agora porque ainda faltam alguns períodos para concluir minha graduação’’. Não é um passo? Cada passo é fundamental para chegarmos lá. Calma aí, respira fundo e foca aqui.
Parece que a gente nunca está pronto para ser feliz. Na verdade, parece que temos medo da felicidade e da leveza. Estamos correndo contra o tempo e focados em atingir metas. Encerrar um ciclo e iniciar outro como se fossem temporadas de uma série de televisão para maratonar. Assim, tudo rápido, sem respirar. Talvez o medo seja da vulnerabilidade. Pega esse recado: estar em paz com o seu "agora" não diminui sua potência em crescer. Na verdade, até cataliza seu processo.
Muito se fala em final feliz e em lutar por um futuro melhor, e pouco se aplica a ideia de viver o agora. Se a vida é um círculo e partimos do ponto zero, o final seria dar uma volta completa e alcançar o dez. E depois?
A nossa vida é mesmo um espetáculo de classificação livre, então, que abram as cortinas! Receba os aplausos e que eles comecem dentro de você.
Até o próximo texto!
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