Era só colocar os pés para fora de casa que a falta de ar se manifestava e, junto dela, os pensamentos mais temerosos. A visão embaçava, as mãos tremiam, o coração acelerava. ‘‘Corra de volta para casa, se esconda ou eles vão te pegar’’ era o que as vozes em minha cabeça alertavam.
O texto de hoje é uma confissão, talvez possa ser resumido a uma mensagem de esperança... Vou contar um pouco da minha história.
Nunca deixei de dizer em entrevistas que o meu primeiro livro surgiu durante a depressão. Afinal, ela respondeu por mim durante muitos anos, mas tudo piorou quando a Sindrome do Pânico entrou em cena.
Numa tarde de setembro, há seis anos, as vozes gritaram alto demais, fiquei tonta, perdi todo o ar. E, quando acordei, já estava no chão. Alguns pedestres disseram que fui atropelada, mas até hoje eu não sei ao certo o que aconteceu. Sei apenas o resultado: quebrei dentes e tive outros ferimentos mais leves.
Naquele dia, lá no hospital, eu afirmei que a minha vida tinha acabado e que nada mais fazia sentido. Já fazia muito tempo que eu não me sentia viva, a sensação era de estar fazendo hora extra, tal como aqueles participantes sem sal em programa de reality, sabe? Hoje, a Anna agradece à sua pior versão por não ter desistido. Ela não fazia ideia que finalmente seria aprovada para a universidade dos sonhos, que entraria em cartaz nos teatros como planejava quando criança, que publicaria mais livros, tampouco que se tornaria colunista do Portal Eu, Rio! Era impossível, para ela, a ideia de vencer a Sindrome do Pânico. De quebrar as correntes! E de ser livre.
Hoje, eu posso dizer que a Anna de 2017 está muito orgulhosa da Anna de 2023. Ela jamais acreditaria se contassem que ela pegaria o trem das dez da noite sozinha na Zona Oeste do Rio, ou o ônibus das oito na Candelária para ainda atravessar a Avenida Brasil. Ela nem imaginaria que seria muito feliz num novo trabalho antes mesmo de se formar e que, com isso, seria capaz de arcar com os tratamentos médicos que o acidente acarretou mesmo tanto tempo depois. Não imaginaria as viagens e muito menos que conheceria novas pessoas que acrescentariam o enredo.
Faz um favor? Desiste não… Afinal, a força ideal para quebrar as correntes está dentro de nós!
Eu sei que hoje há alguma coisa que te aflige muito e você não quer mais que isso responda por você. Que você sente falta dos velhos tempos e acredita que jamais será feliz de novo. Ou até mesmo que você reproduz o absurdo que eu falei naquele hospital: ‘‘minha vida acabou’’. Mas o futuro pode nos surpreender. Podemos recomeçar. Eu levei cinco anos até conseguir quebrar as correntes que me aprisionavam em casa, mas eu consegui. Todos nós podemos! E, mais importante que o resultado, é o processo. Mais importante que o destino, às vezes, é a própria caminhada. Tudo que a gente aprende e transforma, as novas lentes para enxergar cada situação e as oportunidades. E a nossa incessante vontade de evoluir. Nós somos capazes que conquistar tudo aquilo que acreditamos merecer.
Dê agora motivos para o seu "eu do futuro" se orgulhar!
Até o próximo texto!
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