Já parou para pensar que ninguém, ou quase ninguém (vai saber, né?), gosta de sentir dor, mas constantemente permitimos que ela comande nossos espaços? Serei mais clara: frequentemente prolongamos situações não tão difíceis de serem resolvidas e assim o desconforto faz moradia em nós.
Você tem medo de agulha? Vamos supor que a resposta seja sim. Digamos que, ao invés suportá-la por alguns segundos para ser vacinado, você escolhe aceitar o risco de contrair uma doença que certamente te afetará a longo prazo. Parece uma boa escolha? Ou que seja uma injeção para aliviar de uma dor qualquer, parece inteligente escolher tal dor à picadinha da agulha? É como, ainda, permitir que uma dor muscular interfira em sua rotina por não suportar a dor (boa) do shiatsu, por exemplo.
Mas e aquela conversa difícil que está sendo posta de lado? Ah, deixa para depois... Ninguém quer enfrentar diálogos difícieis uma hora dessas, né? Mas nunca é a hora, até que de fato não tenhamos hora alguma. E o que resta? Um possível arrependimento. Sejamos sinceros: após um desentendimento, ninguém quer ser o primeiro a ceder. Mas calma, nem sempre trata-se de orgulho. Às vezes, a gente só quer deixar para depois e não pensar nisso agora... Ah, nossas rotinas cheias. Nós sempre tão ocupados. Nós sempre tão importantes. Nós em primeiro lugar sempre. Nós, nós, nós...
Muitas vezes acreditamos não estarmos aptos a lidar com o transtorno, afinal o roteiro de ‘’fazer as pazes’’ é um pouco longo. Tem toda aquela coisa de voltar no assunto delicado, depois se desenvolve para uma nova onda de discussões até que talvez conclua-se no ‘’agora tudo bem’’. As vezes dá uma preguiça, não? Mas aqui é com você: até que ponto deixar as coisas mal resolvidas te faz bem? Te causa algum desconforto? Se a resposta for sim, reflita: esse desconforto a longo prazo não lhe parece mais doloroso do que uns minutinhos de conversa para solucionar o problema? Não acha que aplicar a agulha seja a decisão mais sábia?
Ah, não. Deixamos para depois. ‘’Para depois’’ sempre nos parece uma ótima escolha. Um ótimo tempo. Quando? Depois. Essa é a resposta.
Um incômodo de curto prazo abrindo as portas para um mártirio mais durável. Realmente, bem relevante... Até quando?
Você sente falta de alguém, mas nunca lhe parece ser o momento certo de mandar uma mensagem. Hoje não há espaço na agenda, amanhã também não. Quem sabe no próximo mês. Putz, caiu no esquecimento. Talvez daqui há uns anos você seja convidado para o funeral desse querido colega, aí não dá para deixar de ir, né? É a última despedida. Um café e um pouco de conversa fiada com um velho amigo? Ah, fala sério, ninguém mais aqui tem excesso de tempo livre, não temos vaga na agenda para conversa fiada e biscoitinhos para acompanhar.
Mas afinal a gente corre para quê?
Para onde?
De repente tudo já se foi... E o ‘’depois’’ deixa de ser uma alternativa. Existem coisas pela qual não temos o privilégio de demorar. O ‘’tempo’’ não é um alguém que valha a pena desafiar. É o que penso. E, com esse texto, não lhe obrigo a tomar uma medicação ou correr atrás de alguém se não for de sua vontade, mas espero que, em alguma dessas linhas, tenha qualquer elemento que lhe provoque reflexão e, então, as escolhas são suas.
Nós não temos alguns segundos e nem mesmo coragem para lidar com um mísero desconforto, mas temos a eternidade para sofrer o arrependimento.
Até o próximo texto!
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