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Espelho Invertido

Menina Aleatória, Por Anna Domingues, Escritora

Em 14/10/2024 às 09:54:57

Outro dia, me deparei com uma situação desconfortável e refleti em quantas vezes a gente se anula só para ser aceito. Então, comecei a rascunhar sobre o assunto num guardanapo, ali na mesa do bar em que eu estava naquela noite de sábado.

Observo pessoas no cotidiano. E também observo a mim. Em silêncio. Vejo que nós existimos em tempos em que a aprovação dos outros parece ser uma moeda de altíssimo valor. Já não basta mais viver, é preciso ser aplaudido enquanto se vive. A aprovação tornou-se o grande medidor de sucesso, uma régua invisível que estima o quanto somos dignos de afeto, atenção e relevância. E assim, nessa busca incansável pelo "sim” alheio, esquecemos de algo essencial: quem somos e o que realmente ambicionamos.

Mais grave que isso: a busca incessante pela aprovação nos aprisiona em uma versão diluída de nós mesmos. Ao invés de assumirmos nossas singularidades e imperfeições, optamos — inconscientemente — por moldar a nossa personalidade para caber nas expectativas dos outros. Vestimos máscaras que, num momento inicial, parecem confortáveis, mas que, com o tempo, nos sufocam. Esquecemos quem somos porque estamos ocupados demais sendo quem achamos que deveríamos ser. E o que ganhamos com isso? Uma sensação momentânea de pertencimento. Uma falsa ideia de segurança, como se estivéssemos, por um instante, a salvo do julgamento. “Ufa, dessa escapei”. É o que pensamos. Pobres de nós...

E então você passa a viver ajustando-se aqui, sorrindo mais ali, segurando uma opinião pra lá. Todo esse fardo na esperança de que, ao final do dia, o mundo te devolva um tapinha nas costas dizendo: “Muito bem, você está aprovado”. A ânsia de ser aceito é malandra, dissimulada e ardilosa. Ela se disfarça de empatia, de gentileza, de boa convivência. Pode até ser confundida, para alguns, por “respeito”. Que ideia, não? Longe de mim achar ruim querer fazer parte, se sentir pertencente, sentir que se encaixa... O problema é quando esse desejo faz com que o ponto de vista dos outros sobressaia mais que o seu próprio. É o que eu chamo de “espelho invertido”.

Aprender a dizer "não" e sustentar uma opinião impopular é como um exercício de musculação da alma. Porque, no fundo, se tem uma aprovação que realmente importa, é a nossa. É poder olhar para o espelho e dizer: “Eu me basto, e me aceito.” Pode não parecer lá grandes coisas, mas ser quem somos apesar de nossas falhas, nossa individualidade, e nossas verdades inegociáveis — isso é viver de verdade. Todo o resto é performance.

E eu, francamente, não suporto mais atuar.

Até o próximo texto!

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