Há dias que a vida parece uma eterna roda-gigante. Sabe aquele brinquedo de parque de diversões que, quando criança, a gente queria ir, porque era alto e exigia coragem? E lá do alto, tudo fazia sentido: o mundo se organizava em miniatura e a paisagem era incrível. Só que a gente vai crescendo e começa a perceber que, na real, andar em círculos, para a vida adulta, é outra coisa – e não é tão divertido.
Acordamos, cuidamos do que é preciso e, no fim do dia, voltamos ao mesmo ponto. A gente se perde em meio a uma rotina bem ensaiada, em um looping que parece não ter saída, apesar de recorrermos à metas satisfatórias e crenças em dias melhores. O grande problema é que nunca estamos de fato satisfeitos nem mesmo com o que sonhamos. No começo, quando estamos empolgados com alguma coisa — um emprego, uma cidade, uma relação — exibimos como um troféu, transbordando orgulho e brilho no olhar, mas a verdade é que a novidade traz uma faísca que se apaga rápido demais.
Lembra de quando éramos calouros? Cada centímetro da universidade e até a entrada mais simples do campus parecia digna de uma foto. A sensação de pisar ali era emocionante, como se estivéssemos prestes a viver grandes histórias. E quando conseguimos aquele primeiro estágio? Até o café com a logo da firma merecia um clique. Porque, para nós, naquele instante, tudo parecia algo tão incrível que fazíamos questão de dividir com o mundo. Mas o tempo vai passando, nos tornamos veteranos e mais tarde assinamos a papelada de contratação oficial e aquilo que antes era extraordinário se torna só... Cotidiano. Sem perceber, tornamo-nos prisioneiros do próprio desejo, correndo atrás de um sentido que escapa sempre que o temos em mãos.
Existe algo curioso sobre o desejo: ele é fugaz, como uma fruta madura. Tem cor vibrante, cheiro irresistível e um prazo de validade que ninguém gosta de admitir. Quando surge, o desejo nos tira da rotina, nos traz uma vitalidade, um brilho nos olhos que ilumina até os dias mais nublados. Uma obecessão que vence o tédio do costume. E, por alguns momentos, nos sentimos invencíveis. Mas, o próximo passo é esse mesmo desejo começar a mudar de cor, perder a intensidade, como uma fruta esquecida na fruteira.
É como aquela tradicional ideia Schopenhaueriana, porque a sensação de conquistar, de comprar algo, de finalmente ter, é um êxtase breve. Daqueles que se esquece assim que a embalagem é aberta e o objeto é integrado à vida. A novidade vira parte da mobília, mais um item na prateleira. E o que antes parecia uma resposta ao nosso anseio, agora se mistura ao cenário de sempre, inerte, empoeirado pelo tempo. E então, lá estamos nós, de novo, de olhos e mente fixos em algo novo para preencher o vazio, uma promessa ainda mais brilhante do que a anterior. Nos custa crer que é uma ânsia andando em círculos como se estivéssemos condenados a perseguir um prazer eterno e jamais alcançado.
Dizem que essa insatisfação é o mal dos tempos modernos. A urgência por novidades, a pressa em experimentar o máximo possível. Estamos sempre à espera do próximo pico de emoção, algo que nos cansamos da zona do já sei como isso funciona e a extrema necessidade de impulsos inéditos.
Por vezes é dificil enxergar que a satisfação total é uma mera utopia — e quem sabe não seja melhor assim? É uma falta que nos impulsiona, uma mudança que nos faz crescer, uma impermanência que nos mantém desesperados para as nuances do presente. Então, ao invés de nos torturarmos pela insatisfação, que tal apreciarmos os pequenos prazeres enquanto eles duram? Andar em espiral ao invés de círculos. Talvez seja essa a grande sacada...
Até o próximo texto!
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