Há algo de mágico — e assustador — em fechar ciclos. É como apagar as luzes de um cômodo onde passamos tanto tempo que conhecemos cada canto de olhos fechados. No entanto, chega a hora de girar a chave, sair, ir embora. Fechar ciclos e virar a chave são expressões que carregam um certo peso. Soam definitivos, quase dramáticos, como se ao dar o último adeus estivéssemos assinando um contrato irrevogável com o futuro. Mas a verdade é que, na prática, essas mudanças acontecem com alarme. Fechar um ciclo não é uma cena de filme com música épica ao fundo. É mais como apagar as luzes do tal cômodo, em silêncio, e perceber que a escuridão não é tão asssustora assim.
Ciclos têm vida útil, e é natural que assim seja. Algumas coisas florescem e murcham, outras simplesmente perdem a função. Objetos podem escangalhar. Empresas podem falir. Pessoas podem falhar. Não é um fracasso admitir que algo chegou ao fim — é um ato de honestidade. E isso serve para relações, sonhos, planos e a adjetivações sobre nós mesmos. Mas somos teimosos, todos nós. Relutamos em fechar a porta, como se deixá-la entreaberta garantisse alguma segurança. Só que ninguém vive plenamente com um pé no passado e o outro tentando alcançar o futuro.
Fechar ciclos não é apenas sobre encerrar histórias; é sobre aceitar que algumas páginas precisam ficar para trás. É abrir espaço para o novo, mesmo que ele venha com o sabor amargo do desconhecido. Às vezes, adiamos esse momento porque nos apegamos a uma nostalgia seletiva, um "e se" que insiste em nos fazer ficar. E nós ficamos, não porque o presente é bom, mas porque o futuro parece incerto. E ainda somos ousados na capacidade de acreditar que há algo muito confortável nisso tudo.
A virada de chave, essa metáfora tão coerente, é o que acontece quando finalmente deixamos de resistir. É um movimento interno, quase imperceptível, mas poderoso. Acontece quando você percebe que não precisa mais insistir em algo que não faz sentido, que não alimenta, que não agrega. Que está paralisado e ocupando espaço. A chave vira quando você entende que o controle remoto da sua vida sempre esteve em suas mãos, mesmo que você tenha passado anos acreditando que era refém do acaso. E então você percebe que ao fechar aquele ciclo, algo extraordinário acontece. É como abrir uma janela depois de anos sem tocar nela: o ar fresco entra, trazendo com ele novos cheiros, novas promessas, novas possibilidades. É o poder do recomeço, de uma nova chance e de libertação. O peso que carregávamos sem perceber dá lugar a uma leveza inesperada, e o mundo, antes tão apertado, parece expandir-se novamente.
Sejamos sinceros, ciclos não se fecham sozinhos. Eles pedem coragem. Coragem de olhar para o que foi com gratidão, para o que não foi com compreensão, e para o que será com curiosidade. Fechar ciclos exige que a gente se perdoe pelos tropeços, celebre os acertos e reconheça que, no fundo, tudo tem o seu tempo de ser. O mais magnífico é que, depois que a porta se fecha e a chave vira, você percebe que nada de catastrófico aconteceu. O mundo não acabou, o chão não desabou.
Então, se chegou a hora, feche a porta. Mas antes, dê uma última olhada, respire fundo e agradeça. Porque nada é por acaso e tudo o que ficou ali, entre as paredes da memória, ajudou a construir quem você é agora. E quem você é, pronto para o próximo capítulo, é tudo o que você precisa ser. E essa sim é a grande virada de chave da vida!
Até o próximo texto!
@portal.eurio
https://www.instagram.com/annadominguees/
https://www.wattpad.com/user/AnnaDominguees