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Vozes e Vazios

Menina Aleatória, Por Anna Domingues, Escritora

Em 19/05/2025 às 12:07:09
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Às vezes, tudo o que a gente precisa é desaparecer por umas horas. Ficar em casa, descalça, com o cabelo preso de qualquer jeito, com aquela blusa velha e furada, sem precisar sorrir para ninguém. Deixar o celular no modo silencioso, tomar um café devagar, devorar um livro, sei lá, qualquer coisa. Nesses dias, a solidão é paz. Um refúgio. É como se o mundo lá fora tivesse ficado em espera para que a gente pudesse, enfim, respirar com calma.

Essa solidão tem gosto de liberdade. De “hoje eu não preciso agradar ninguém”. É quando a ausência do outro não incomoda, não sufoca, não pesa. Pelo contrário: alivia. É uma trégua das cobranças, das expectativas, das conversas que às vezes são só barulho. Tem um charme nessa reclusão voluntária, uma elegância discreta em não precisar estar sempre cercada para se sentir inteira ou relevante.

Mas existe uma outra solidão. Aquela que não foi convidada. Aquela que chega quando o celular não toca, quando a mensagem não vem, quando o sábado à noite parece zombar da gente. Essa solidão se instala como uma visita inconveniente, que a gente não sabe muito bem como pedir que se retire. Não foi escolhida, foi imposta. E machuca.

A solidão escolhida é um abraço em si mesma. A solidão sentida é o eco de um abraço que não veio.

A diferença entre essas duas solidões é sutil, mas imensa. Uma é pausa. A outra é falta. Uma reabastece. A outra esgota. E o mais difícil é que, muitas vezes, uma se disfarça da outra. A gente diz que quer ficar sozinha, mas no fundo espera que alguém insista em ficar. Ou se cerca de gente e conversa fiada, só para não encarar o vazio que insiste em fazer morada por dentro. O muro entre elas é, na verdade, o afeto. Quando nos sentimos amados, até o silêncio é companhia. Quando nos sentimos esquecidos, até a multidão é ausência.

O segredo, talvez, esteja em aceitar que ambas fazem parte. E que está tudo bem pedir colo quando a solidão aperta. Assim como está tudo bem fechar a porta quando a alma pede um tempo. O importante é saber que não somos fracos por precisar de alguém, nem frios por querer ficar sós.

Porque no fundo, solidão nenhuma é definitiva. Elas vão, elas voltam, elas ensinam. Uma nos reconecta com o que somos quando o mundo silencia. A outra nos mostra o quanto precisamos, de vez em quando, ser lembrados de que existimos para alguém. Viver é esse equilíbrio delicado entre saber estar consigo e permitir ser abraçado pelo outro. E talvez a maturidade more aí: em reconhecer a hora de se recolher… e a hora de abrir espaço para que alguém entre.

Até o próximo texto!

@portal.eurio

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