Não simpatizo com espetáculos que, muitas vezes, me trazem temas atuais com mesmice. Esses fazem com que me sinta uma mulher não pensante. E um desses temas é quando a mulher se põe como vítima de uma sociedade patriarcal.
Nós sabemos que vivemos em uma sociedade com conceitos ultrapassados em relação a nós mulheres. Mas, com a evolução do tempo, temos chegado a espaços que jamais imaginaríamos estar, e não por falta de competência, mas por pura misoginia.
Pílulas anticoncepcionais, DIU, universidades, poder de voto, tudo tem contribuído para termos mais liberdade. E se seguirmos conscientes do comportamento masculino, e principalmente dos direitos que temos, existe a possibilidade de estarmos cada vez mais plenas. Fato!
Para falar da mulher, para falar sobre mim, confesso que quero que fale com poesia, com palavras que me impulsionem a agir com sapiência e não com dados atuais, que não me levam a lugar nenhum!
No último sábado (08/07), fui assistir ao espetáculo "Mulheres que Tecem". Confesso que fui desanimada, exatamente pelo tema. Mas não declinei do convite feito e confirmado pela atriz. O espetáculo está no CCJF, Centro Cultural da Justiça Federal, um prédio que guarda muitas histórias. Vale a pena, inclusive, chegar mais cedo para visitar o espaço.
"Mulheres que Tecem" é um espetáculo majestoso? Não! Então, o que ele tem para que eu escrevesse sobre ele?
Vamos lá: uma contação de história para nós, mulheres, digna de nossas escutas. A atriz é madura, consciente da jornada de uma mulher e, entrelinhas, soube nos apresentar beleza e, com muita poesia, a força que temos. Ela não precisou generalizar comportamentos masculinos para focar.
O figurino e cenário são de flores de crochê confeccionados pela artista. E que combinam com que ela nos conta.
“Eu tentei compreender a costura da vida
Me enrolei, pois a linha era muito comprida,
Eu tentei compreender a costura da vida
Me enrolei, pois a linha era muito comprida
E como é que eu vou fazer para desenrolar
Para desenrolar
Mas como é que eu vou fazer para desenrolar
Para desenrolar”
Elvira Helena chega ao teatro cantando essa canção, que enfeitiça cada espectador, pois é poético. Nós, mulheres, merecemos poesia!
Alexandre Guichard acompanha a artista com instrumentos de cordas, com cuidado, com graça.
A história?
Ela conta sobre uma mulher que tecia, teceu a lua. A lua disse que faltava um amor, ela acreditou, apaixonou-se e teceu seu amor e filhos, teceu sua casa e isso foi suficiente para que as cobranças chegassem
E o que ela fez? Assistam à obra para descobrirem, vale a pena.
Em uma das minhas conversas com o grande crítico Gilberto Bartholo, ele falou sobre dramaturgia. Hoje concordo muito com que ele disse. “Se o texto é ruim, não tem diretor que consiga apresentar um bom espetáculo”. É uma verdade, porque ainda que a atriz tivesse uma voz de “taquara rachada” (uma expressão usada para indicar uma pessoa que tem uma voz tão estridente e desafinada que chega a ser desagradável e irritante), vale dizer que a taquara é uma planta que possui caules ocos. A planta serve como material na construção do instrumento musical denominado pífaro. O que não é o caso, eu ficaria até o final naquela poltrona para ouvir o fim daquela história.
O roteiro conta com poesias de Elisa Lucinda, Cora Coralina, Carolina Maria de Jesus e Gloria Horta. A musicalidade é de bom gosto: Ivan Lins, Rita Lee, Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento e outros nomes…
A artista vai entremeando poesias, músicas e texto, costurando tudo com muita delicadeza.
Confesso que não estou na estatística de mulheres que, de alguma forma, não teceram suas vidas como deveriam. Mas sim, eu sou uma mulher que teço a minha vida, a minha própria vida, construo e desconstruo se preciso for.
Assistiria, mais uma vez, ao lado de mulheres que admiro, que tem em suas mãos as rédeas de suas vidas…
Sinopse
Espetáculo em formato de teatro musical – contação de histórias, “Mulheres que Tecem” traz música, poemas e contos cantados e interpretados pela atriz e cantora Elvira Helena. Os contos foram escolhidos por seu conteúdo simbólico de como tecemos as nossas vidas.
Ficha Técnica
Idealização e Concepção: Elvira Helena
Roteiro: Elvira Helena
Cenário e Figurino: Elvira Helena
Direção Musical: Alexandre Guichard
Músicos: Alexandre Guichard e Elvira Helena
Serviço
Temporada no Centro Cultural da Justiça Federal, de 7 à 29 de Julho , sempre às sextas e sábados, às 19 horas.
https://www.sympla.com.br/evento/mulheres-que-tecem-no-centro-cultural-justica-federal-rj/2045085