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"Restos na Escuridão": enriquecedor para profissionais de teatro

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 16/08/2023 às 08:29:01

O espetáculo "Restos na Escuridão" não é uma obra popular. Muito pelo contrário, é uma montagem direcionada para um público específico. Caso contrário não haverá entendimento.

Um artigo vivo? Pode-se dizer que sim, pois houve da parte da atriz um trabalho de pesquisa aprofundado sobre um dos mais importantes dramaturgos do mundo. Praticamente um ícone, por revolucionar o teatro. Ele explorava temas como a existência humana, a solidão, a dor e a angústia.

Inclusive, é possível ver muitos espetáculos teatrais com referências de montagem sobre Samuel Beckett. Não muito distante, na outra sala de teatro, na própria Casa de Cultura Laura Alvim, no espetáculo "Coração de Van Gogh", há referência da obra "Não Eu", do dramaturgo.

O Teatro do Absurdo é referência para todos que fazem teatro no mundo, e Beckett faz parte desse grupo de teatrólogos...

O Teatro do Absurdo é um estilo teatral que surge no final da Segunda Guerra Mundial. As obras tinham em comum a forma inusitada e inesperada de tratar o cotidiano humano.

“Samuel Beckett nasceu em 1906 em Dublin, Irlanda. Dramaturgo, romancista e poeta de expressão inglesa e francesa, é um dos escritores fundamentais do século XX. Entre seus trabalhos de maior relevância estão "Esperando Godot", "Molloy", "Malone Morre", "O Inominável", "Dias Felizes" e "Fim de Partida". Em 1969, recebeu o prêmio Nobel de Literatura. Faleceu em Paris em 1989.”

A obra conta com partes da vida da atriz Carolina Virguez, nome de relevância no teatro brasileiro. A peça revela sua necessidade, no presente, de montar seu espetáculo que reverencia a expertise de Beckett. Ela divide seus questionamentos com a plateia, alimentando-a com notas de leveza, mediante a uma performance densa. Desta forma, o espetáculo alcança equilíbrio. Não podíamos esperar outra coisa da atriz.

Aliado à atriz está Fabio Ferreira, que é diretor, dramaturgo, tradutor e pesquisador teatral. Doutor e mestre em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC Rio/Universidade de Copenhagen e Bacharel em Teoria das Artes Cênicas pela UNIRIO, é professor de Arte e Filosofia na PUC Rio/CCE. Criou os Festivais Rio Cena Contemporânea (1996/2007) e ArtCena – Processos de Criação (2008/2011), além de dirigir diversas peças, entre elas: "Dorotéia", "Menos Um", "Traço Obscuro", "O Idiota", "Mosaico Maiakovski", "Mistério Bufo" e "Vozes do Silêncio". É pesquisador do Grupo de Estudos sobre Samuel Beckett da USP/CNPq.

A sensação que ambos me passam é de terem ido até o cemitério Montparnasse e lá fizeram um ritual. Do além veio Samuel e conversaram sobre o passado do dramaturgo, porque são informações que não encontramos por aí.

A questão das suas preferências pela arte, por exemplo, como a admiração pela obra "Mulher Segurando Um Objeto Invisível", de Giacometti. Detalhe: temos, no nosso Museu de Arte Moderna, uma peça do Giacometti. Vale conferir!

Sem contar as especulações de suas idas a Malta, por exemplo. E lá, seu encontro com obras de Caravaggio, de onde possivelmente teve direcionamento para uma de suas montagens.

Complicado é entender a cabeça de um ser humano, ainda mais de um artista como Samuel Beckett, que trabalha com metáfora o tempo inteiro.

Uma das narrativas mais interessantes da obra é sobre o não entendimento de uma atriz sobre a obra do dramaturgo, que a responde belissimamente: você entende a vida? Após a mulher responder que não, ele apenas conclui: no entanto, você continuando vivendo!

Um lógica absurda, é o que pode-se se dizer. Mais absurdamente, lógico, é saber que a obra está amarrada a toda cientificidade que ambos - Carolina e Fábio - carregam em suas bagagens. Não são invenções ou falácias de artistas em devaneios.

Carolina explica, durante a peça, toda sua jornada para concluir seu trabalho. E não é difícil acreditar, pois, como disse, eu - ao pesquisar algumas informações -, senti-me totalmente detida no nada, pois não encontrei um terço do que eles nos apresentam no palco.

É notável o quanto a atriz estudou para entregar seu trabalho. Mergulhou na vida de Beckett, seus interesses e suas questões. Está tudo na obra. O corpo da atriz mostra-se completamente a serviço da peça, o que prende a atenção do público.

Como atriz, Carolina recebeu os prêmios Molière ("Dois idiotas cada qual no seu barril"), Mambembe ("Cinderela Chinesa"), Shell ("Questão de Crítica") e APTR ("Caranguejo Overdrive"). Ainda como atriz, foi indicada aos prêmios Mambembe ("Petruska"), Shell ("Médico à força"), Questão de Crítica ("Penso ver o que escuto") e Coca-Cola ("Cinderela Chinesa"). Precisamos ter a noção de que, no palco, encontra-se uma mulher do teatro.

Ela hipnotiza. Impossível não se sentir atraído por seus trabalhos. Tudo que faz é bom…

O texto é mais profundo do que se pode imaginar. Confesso que minha compreensão foi obtida pelo fato de eu participar, durante a pandemia, de uma oficina em São Paulo sobre dramaturgias com ênfase no dramaturgo.

Suas obras causam inquietações para os artistas e espectadores.

Portanto, senhores, é necessário entender um pouco das obras as quais ela menciona. Obras que, até hoje, são trazidas para o público. "Restos na Escuridão" acontece no palco Rogério Cardoso da Casa Laura Alvim com outro olhar: o olhar da imensa Carolina, que não peca, que faz do teatro um lugar religioso, cheio de convicções e acertos.

Para quem faz teatro, para quem estuda teatro, é uma obra obrigatória, pois desnuda a vida de um teatrólogo internacional e referência mundial das artes cênicas. Um homem admirador das artes, com convicções diferenciadas e saberes que levantam fios de pensamentos dos grandes estudiosos cênicos até os dias atuais.

Fico a pensar quantos artistas de teatro se formam no Brasil, quantos artistas trazem as suas montagens referências becketianas, sem ao menos saberem de onde essas referências vieram.

Eis aí uma grande oportunidade de saber mais sobre esse artista que mudou o teatro, trazendo mais possibilidades.

“O crítico americano Harold Bloom, em 'O Canône Ocidental', escreveu que Beckett moldou, no nosso século, o equivalente teatral a Shakespeare". Chamou-lhe de "o profeta do silêncio".

Enriquecedor para os profissionais de teatro!

Sinopse

Um estudo cênico sobre o reverso da cena. Uma experiência em torno da obra de Samuel Beckett a partir da trilogia de vozes femininas: "Não Eu", passos e cadência.

Ficha Técnica

Uma criação de Fábio Ferreira e Carolina Virgüez

Direção: Fábio Ferreira

Performer: Carolina Virgüez

Dramaturgia: Fábio Ferreira e Carolina Virgüez

Assistência de Direção: Ana Paula Rolon

Instalação Cênica: Fábio Ferreira

Direção Musical: Fellipe Storino

Direção de Movimento: Paulo Mantuano

Iluminação: Renato Machado

Figurino Luiza Macier

Visagismo: Cleber de Oliveira

Preparação Vocal: Jaqueline Priston

Assistência de Figurino: Julia Roliz

Cenotécnico: Sr. Mineiro

Serviço:

ESPAÇO ROGÉRIO CARDOSO - Casa de Cultura Laura Alvim/Ipanema

Data/Hora: Até 20 de agosto de 2023 - sexta e sábado, 19h e domingo, 18h.

Gênero: Drama

Classificação Indicativa: 14 anos

Duração do espetáculo: 60 minutos

Lotação: 53 Lugares

Lugar marcado: Não

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