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"Helena Blavatsky": quando dramaturga e atriz se entregam ao texto

Olhar Teatral, Por Paty Lopes, Crítica Teatral

Em 24/08/2023 às 13:43:25

Ando rechaçando temas religiosos em minha vida pessoal, por motivos óbvios. Penso que existe uma quantidade expressiva de charlatanismo ao redor das religiões atualmente.

São perspicazes em tirar do outro, uma agressão sem tamanho ao ser humano que, na grande maioria, procura a fé como única saída em um certo momento da vida. São grandes aproveitadores, exatamente isso, sem tirar ou por uma vírgula.

Não basta falar de amor, é preciso estar de bem com a vida! Essa seria a verdadeira revolução para si mesmo e para o outro!

Helena escreveu o livro "A Voz do Silêncio". O texto traça, em linguagem poética e elevada, um panorama sucinto do caminho que leva à santidade ou à iluminação, e faz diversas recomendações práticas para os aspirantes. Nessa mesma elevação, nasce a dramaturgia de Lucia Helena Galvão: um texto bem escrito, exuberante.

Conta o diretor, Luiz Antônio Rocha, que fazia um tempo que a vontade de trazer Helena aos palcos plainava em seus pensamentos, mas não podia ser de qualquer forma. Chegou ao seu conhecimento Lúcia Galvão. Ele fez contato, mas não esperava retorno. Pois bem, senhores leitores, não foi somente um retorno positivo para Luiz, mas para todos nós também.

Há uma entrega dessa dramaturga ao texto. Isso fica em evidência, pois muitas vezes suspiramos ao ouvir algumas frases, tamanha profundidade da narrativa em questão.

“Eu confio e creio fortemente que a ciência caminhará ao longo dos próximos séculos para uma visão mais ampla e flexível, onde outros cientistas, artistas, poetas e pensadores, não congelados em seu tempo, tomarão essas ideias como base para voos mais ousados…” (Texto de "Helena")

São abordados temas tão atuais, como metafísica, por exemplo. Quanta sabedoria a favor do homem em uma dramaturgia, uma bíblia sagrada, pode-se dizer. Praticamente um manual de instrução para cada um de nós. Uma dádiva, é o que pode-se dizer dessa concepção textual!

O teatro fica calado, atento, sem que ouçamos um baralho de papel de bala, uma espécie de aulão de um grande professor! Incrível!

“Se o homem olhasse não para o céu, o que é apenas uma figura de retórica, mas para dentro de si mesmo e centralizasse seu ponto de observação no homem interior, logo escaparia dos rolos compressores da grande serpente da ilusão...” (Texto de "Helena")

A iluminação é de Ricardo Fujji. Ficamos ainda mais conectados a Helena. Refletores bem posicionados, que nos levam a Nova Iorque. Quando menos esperamos, estamos no âmbar da Índia.

Refletores posicionados em lugares inesperados, que se casam com o texto, dando mais vida ao que estava somente no papel. Isso é tetaro!

A flor de lótus é um presente para nós que estamos na plateia. Através do desenho de luz, ela aparece majestosamente. Que maravilha!

Em todo momento, ela nos surpreende. Um desenho de luz que não dá para ser esquecido.

Penso que, em minha memória, ficará guardada a imagem da Madame Blavatsky. Quando ela aparece no palco, com uma vela em mãos e um refletor à sua direita, a cor vermelha é de uma sobriedade ímpar. Que estética visual esplendorosa!

Ao chegarmos ao espetáculo, ouvimos "Prélude, Cello Suíte Nr.1", de J.S. Bach. Não poderia ser diferente. Prelúdios são conhecidos como peças introdutórias de outra maior. E algo maior se revela no palco, porque fala ao ser humano. Nada é mais relevante que nós. Exatamente por isso, a arte existe. Por meio dela, a humanidade expressa suas necessidades, crenças, desejos, sonhos.

As rubricas de cenografia e figurino são de Eduardo Albini, que acolhem as necessidades dessa obra teatral. As indumentárias estão de acordo com a obra, pode-se dizer que é suficiente. Uma parte do quarto de Helena está diante dos nossos olhos.

Beth Zalckman. É ela quem nos apresenta Helena. Posso dizer que a atriz tem sido abençoada, e parece que acompanhada também.

O texto fala sobre isso, quando menciona a técnica de Leonardo Da Vinci, smufato, onde sombreamentos fazem contornos e não as linhas que definem espaços. Uma explicação sacra nos é trazida nesse momento.

Pode-se dizer que o espetáculo carrega uma riqueza ímpar nas concepções artísticas.

A atriz, ao mencionar seu companheiro em sua jornada, vem à plateia, se aproxima de nós. Ela nos acorda nesse momento, porque há uma troca bela e genuína, parece que nos humaniza um pouco mais. Beth chega com simpatia, nos faz rir, mas não nos deixa perder o foco. É uma dosagem elegante para nos aliviar, pois o texto é denso. Também é uma oportunidade de entender um pouco desse universo que transitamos.

Quando a personagem vai à Índia, ela unge sua testa com um risco. O Bindi tem significado para os indianos: representa o centro da energia sutil da consciência e da espiritualidade e reforça o objetivo de transmitir paz de espírito para aqueles que aderem à prática.

Ao falar de Gandhi, o texto fica ainda mais belo. Helena foi procurada por Mohandas Karamchand.

“Sabe-se lá se ali não vai, desajeitado e metido em roupas que parecem ser de um número acima daquele que lhe assentaria bem, um vetor de mudanças e de esperanças, um legítimo e honesto operário a serviço da verdade...” (Texto de "Helena")

Infelizmente, nos dias atuais, sabemos mais desse nacionalista acerca da misoginia e também do racismo que o acompanhou.

O LADO B DE MAHATMA GANDHI!

Pode-se dizer que o espetáculo é um desaguar de saber, de tentar entender um pouco sobre o mundo espiritual, sem falar em credos, mas apenas sobre questões que estão para além da comercialização da fé.

"Se as diferentes religiões e filosofias ancestrais e modernas forem estudadas e comparadas sem preconceitos e sem paixão, a humanidade poderá chegar à verdade... Não há religião superior à verdade!”. (Texto de "Helena")

Uma atriz bem preparada por seu diretor. Assisti ao espetáculo durante a pandemia, em um projeto online, mas claro que não se compara com que meus olhos viram, com as emoções que senti diante da atriz que tem uma performance excepcional. Um espetáculo tímido, sem patrocínio, mas que não desmerece a atenção de todos que admiram um belo teatro.

Ao meu lado tinham jurados de grandes prêmios teatrais. Isso quer dizer que o espetáculo está chamando a atenção de todos os envolvidos com as artes cênicas.

Penso que fiz bem ao sair de casa, em um sábado chuvoso, para assistir a obra. Detalhe: mesmo diante de um dia que cariocas não curtem sair de casa, o teatro estava cheio!

Fico imaginando a força de Helena, uma mulher que desbravou o sobrenatural em uma época que as mulheres não tinham espaço. Mesmo assim, ela seguiu forte com suas certezas. A ela cabe nosso respeito e reconhecimento por ter sangrado tanto e ter aberto questões que, até hoje, nos leva a pesquisas e questionamentos inspirando movimentos espiritualistas. Tudo issodeve-se a ela, mas pouco ouve-se dela!

SINOPSE

Helena Petrovna Blavatsky foi uma das figuras mais notáveis do mundo nas últimas décadas do século 19, tornando-se imprescindível para o pensamento moderno. A vida e obra desta renomada pensadora russa inspirou o monólogo “Helena Blavatsky, a voz do silêncio”, que estreou virtualmente, em 2020, com elogios de artistas e formadores de opinião. A montagem mexe com os espectadores ao instigar uma profunda reflexão sobre a busca do homem pelo conhecimento filosófico, espiritual e místico.

FICHA TÉCNICA

Texto original: Lúcia Helena Galvão

Interpretação: Beth Zalcman

Encenação: Luiz Antônio Rocha

Cenário e Figurinos: Eduardo Albini

Iluminação: Ricardo Fujji

Assistente de Direção: Ilona Wirth

Visagismo: Mona Magalhães

SERVIÇO

ONDE: Teatro Fashion Mall - Shopping Fashion Mall - Estrada da Gávea, 899 - lj 213, São Conrado

HORÁRIOS: sexta às 21h, sab às 20h e dom às 19h

INGRESSOS: R$ 100,00 e R$ 50,00 (meia)

HORÁRIOS BILHETERIA: 3ª a dom das 14h às 20h

VENDAS: https://bileto.sympla.com.br/event/83503/d/199283/s/1347609?_gl=1*dfuej0*_ga*MTk5OTYxMTM2NS4xNjg3NTQ4MDg0*_ga_KXH10SQTZF*MTY4NzgxMzIyMi4zLjEuMTY4NzgxMzI3Ni4wLjAuMA

DURAÇÃO: 60 min

CLASSIFICAÇÃO: 12 anos

GÊNERO: biográfico e filosófico

CAPACIDADE: 420 lugares

TEMPORADA: até 17 de setembro






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