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Mulheres negras protagonizam peça teatral no Rio

O espetáculo reforça a importância da ancestralidade feminina e da luta contemporânea feminina

Por Jonas Feliciano em 09/03/2020 às 15:34:59

Imagem: Natália dos Anjos

Na próxima quinta-feira (12), dez mulheres negras vão se encontrar no palco do Teatro Firjan Sesi, no Centro do Rio. O encontro das atrizes marca a estreia do espetá um "Yabá - Mulheres Negras. A peça foi idealizada por Rodrigo França e dirigida por Luiza Loroza. Além disso, o texto de Maíra Oliveira ressalta as características ancestrais das personagens. Cada uma referente à determinada Òrìxà, cultuada pelos povos Yorubás e sua diáspora.

A construção dramatúrgica demonstra em fatos que, independente da classe social ou idade, a vida de qualquer mulher negra é composta por muitos pontos de intercessão. A encenação propõe concretamente o movimento de circularização do tempo, a performatividade das manifestações de matriz africana e suas ressignificações na diáspora que constroem o corpo cênico, tornando menos perceptivo o trânsito entre o "real" e o "ritual".

"Construímos um diálogo sobre o que é ser mulher negra hoje, com mais perguntas do que respostas. Não queremos reafirmar o lugar da "mulher negra forte" que aguenta tudo; as personagens são construídas com contradição, como é na vida. Tem sido uma grande oportunidade de descobrir em mim dez outras possibilidades de existir. Uma responsabilidade gigantesca de trazer ao palco nossa ancestralidade em forma de palavra, música e movimento. É uma experiência ritual-teatral", destacou a diretora Luiza Loroza.

Encenada em seguida à montagem de "Oboró – Masculinidades Negras", Rodrigo co-dirige a montagem e reforça a ideia do encadeamento dos textos.

"Sempre tivemos em mente uma trilogia, mas com uma lógica de pensar o povo negro brasileiro. Pensamos nas especificidades de cada gênero, mas sem perder o contexto coletivo e o que nos liga como população negra, enaltecendo sempre as nossas subjetividades. Para o próximo, vamos focar na ancestralidade que nos conecta com uma África pré-colonizada", antecipou.

Imagem: Natália dos Anjos

Através de uma narrativa não hegemônica, a pesquisa partiu do afro-futurismo em conexão com o saber ancestral encontrado nas diversas poéticas diaspóricas que permeiam o Ser Negro: jazz, blues, samba, funk, rap e o candomblé.

"Há séculos produzimos conteúdos que falam da nossa cultura, da vida e do nosso sagrado. Priorizar os nossos textos, profissionais e encenações é a forma que temos para contribuir a uma causa que nos coloca como protagonistas da nossa história", afirmou Rodrigo.

Em um momento onde a discussão sobre as diversas masculinidades toma proporções eficazes na reconstrução social das relações, o tensionamento com as contradições, necessidades e dificuldades da luta das mulheres negras se faz ainda mais presente.?

"O caminho de pesquisa foi o de encontrar na natureza e em si a energia de cada Yabá, sem reforçar os estereótipos ou seguir à risca alguns arquétipos. Várias atrizes são do candomblé de casas e nações diferentes. Tentei provocar nelas que estudassem o outro em si", pontuou Luiza.

Com um estudo sobre Yabás e as vivências de mulheres negras, é possível enxergar e evidenciar o movimento, ainda que estático.

"A ação pode acontecer também internamente. É necessário romper a barreira do fora e dentro para, assim, nos integrarmos ao movimento do mundo. Em cena, os vetores da ação partem de diversos lugares: música, dança, luz, cenário, figurino, relação com o público, palavra poética, e explodem na cena", concluiu a diretora.

Vale relembrar que a peça fica em cartaz de 12 de março a 12 de abril de 2020. As apresentações acontecem de quinta a sábado, às 19h, e no domingo, às 18h. O Teatro Firjan Sesi fica na Avenida Graça Aranha, Nº 01, no Centro do Rio de Janeiro. Os ingressos custam R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada).




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