Roberto Dinamite é uma lenda do futebol. Maior artilheiro de todos os tempos dos campeonatos carioca e brasileiro. Recentemente, foi mais uma vez reconhecido como o maior ídolo do Vasco da Gama em votação feita por jornalistas esportivos numa enquete do jornal O Globo.
"É motivo de orgulho para mim ser escolhido entre os jogadores vascaínos como um dos maiores da história. Um clube da dimensão do Vasco, com tantos ídolos! É motivo de orgulho estar entre eles e ser o escolhido", disse ao Portal Eu, Rio!
E nem parece a voz de um jogador que durante dez temporadas foi o melhor da história de São Januário. Tudo que fez e conquistou, Dinamite conta como se fosse algo muito comum. Parece que ele nunca se deu conta de ter sido tão extraordinário.
"Roberto Dinamite é um ídolo nacional que todo mundo reverencia. Não só quem é vascaíno, mas todo aquele que gosta de futebol e sabe identificar o grande jogador. Não se pode omitir o nome do Dinamite, homem que disputou duas Copas do Mundo pela Seleção Brasileira e tem uma história linda de carreira no Vasco da Gama. Maior artilheiro e maior ídolo da história do Vasco!", afirma o radialista Waldir Luiz.
Ambos foram companheiros de trabalho na Band TV, uma convivência de quase cinco anos comentando futebol no programa Os Donos da Bola. Mas já se conheciam nas décadas de 70 e 80, quando Dinamite explodia em campo e Waldir cobria o cotidiano dos clubes.
"No meu tempo de repórter tive a oportunidade de, várias vezes, entrevistar o Dinamite. Ligava para a casa dele, principalmente no recesso do futebol, que precisava preencher a programação com depoimentos dos craques. Ele sempre foi atencioso simpático e prestativo. Lembro que sempre atendeu a todo mundo, sem distinção, de canopla (peça que envolve o microfone e identifica o veículo de imprensa)", conta Waldir.
Compartilhar com o ex-jogador a bancada de um programa esportivo reforçou a opinião positiva do Waldir Luiz sobre o ser humano Carlos Roberto de Oliveira. Nos bastidores, Dinamite era um trabalhador comum. Chegava pontualmente todos os dias com o mesmo sorriso largo e cumprimentava a todos. Brincava com os companheiros e aceitava gozações.
"Roberto é um cara simples e humano. Íamos almoçar após as gravações e ele era cercado por admiradores. Não importa o time que torciam, ele atendia a todos com a maior simplicidade. Em relação aos amigos, também sempre atencioso e preocupado. Procurava saber se estava tudo bem conosco e com nossos familiares. É alguém que se interessa pelo outro", afirma o amigo.
Foto: Rosária Farage
O rival
Apesar de ser tão admirado, até por adversários, houve um tempo em que Roberto colocou sua posição de ídolo vascaíno em risco. As decisões arbitrárias do então dirigente Eurico Miranda levaram Dinamite a uma disputa pelo cargo de presidente do clube. As intenções foram boas, mas os resultados não.
Eleito duas vezes para assumir a presidência do clube, teve uma gestão com campanhas irregulares no futebol profissional. O time foi rebaixado duas vezes e a única conquista em destaque foi a Copa do Brasil de 2011.
Ídolo do maior rival, mas amigo incondicional do Dinamite, Zico argumenta que "não era a praia dele". Assim como a maioria dos que cercam Dinamite, prefere valorizar a história do artilheiro, que conquistou 30 títulos pelo cruzmaltino, incluindo o Campeonato Brasileiro de 1974.
"Sou muito grato de ter hoje uma amizade concreta com um cara que disputou comigo. Talvez uma das maiores rivalidades que o Rio viu! Ele é autêntico. Tem muita humildade para quem atingiu tanto. Falta uma estátua dele em São Januário!", acrescenta o companheiro de Seleção Brasileira.
Zico inclusive tentou levar Dinamite para a Gávea, quando o jogador voltou insatisfeito do Barcelona, em 1980. "Mas ele não quis", afirmou o Galinho. "A casa dele sempre foi o Vasco", completou.
Roberto não vestiu o uniforme rubro-negro, mas conseguiu fazer o Galinho, amigo de primeira hora, usar a camisa do Vasco na sua despedida dos gramados, em 1993. Um adeus recheado de craques, em partida realizada no Maracanã, contra o La Coruña.
Zico e Dinamite. No centro, Eraldo Leite, atual presidente da ACERJ.
O maior adversário
Dos 22 anos de carreira, 21 foram dedicados ao Vasco da Gama. O campeonato estadual foi a maior das conquistas. Em tempos de outrora, o certame era recheado de craques, muito forte e bastante disputado pelos grandes times do Rio. Até os chamados ´pequenos", como América e Bangu, se destacavam e surpreendiam, valorizando a competição.
"Campeonato Carioca tinha um toque todo especial, era o mais importante do Brasil. Para mim, o adversário mais difícil era o Fluminense. Era uma grande equipe e tínhamos dificuldade de conseguir bons resultados contra eles. Pela técnica e experiência, o zagueiro tricolor Ricardo Gomes foi o que mais dificultou para mim", afirma Roberto.
Dinamite e Ricardo Gomes
O apelido
Mas a marca "Dinamite" surgiu num campeonato nacional, após o primeiro gol no profissional, quando virou manchete no Jornal dos Sports do dia seguinte: "GAROTO DINAMITE - EXPLODIU!". O apelido, porém, tinha sido criado muito antes, pelos jornalistas Elimário Valente e Aparício Pires, que acompanharam a evolução do jogador ainda no juvenil do clube.
"Era sensacional! Sinto falta", suspira o ex-atacante.
Apoio de torcedores e admiração pós-futebol
Em 1992, Roberto entrou para a política e se elegeu vereador. Exerceu também o cargo de deputado estadual de 1994 a 2010. Na época, apoiou algumas obras sociais, dentre eles o Instituto Mario Romañach.
À frente deste projeto odontológico humanitário, que trata de pacientes com HIV e crianças com câncer, além de diversas outras necessidades especiais, a cirurgiã-dentista Márcia Romañach recebeu também uma Monção de Louvor do então deputado na Assembleia Legislativa do Rio.
Ela é mais uma a engrossar a lista de pessoas que conheceram Roberto Dinamite a fundo e ficaram ainda mais fãs.
Até os torcedores, que apenas acompanham o ex-atleta pelos meios de comunicação, relevam a parte da sua biografia que não deu muito certo.
"Para mim, ele foi um homem correto", opina o taxista vascaíno Luíz Carlos Lima Marinho.
Foi vendo Dinamite jogar que Luiz Carlos ampliou o amor pelo Vasco. O sentimento é tanto que contagiou o filho e o neto a torcerem também pelo clube. Agora, três gerações de torcedores são apaixonadas pelo clube.
Foto: Divulgação
Edmundo e Juninho: maior identificação
Roberto faz questão de lembrar outros grandes nomes que passaram pelo clube.
"O Vasco teve muitos ídolos. Se voltar no tempo, que vi e conheci, Barbosa, Ademir, Edmundo, Felipe, Pedrinho, Romário, Alcir, que foi meu capitão, Andrada. O atacante Ademir foi um dos maiores. Edmundo e Juninho têm uma identificação muito grande com a torcida. São tantos que fica difícil destacar um. Eles estão na história e continuarão eternamente", ressalta.
Foto: Divulgação
Ele opina também sobre o surgimento de novos craques na Colina Histórica:
"A nova geração tem o Talles como destaque. Ele é bom jogador e precisa ser lapidado um pouquinho mais. Já mostrou que tem talento, mas precisa evoluir. Aprimorar finalização e outras coisas mais. Tem outros garotos surgindo, que precisam aparecer em cima da regularidade e não da necessidade. Ser salvação não é bom para nova geração", opina.
Somando tudo que viveu no Vasco da Gama, o ex-jogador e ex-dirigente acredita que o saldo é positivo. Pelo menos é essa a resposta que recebe diariamente do torcedor.
"Minha relação com a torcida é muito boa. Por onde eu passo, sou tratado com carinho e respeito. Claro, que como o torcedor lembra de momentos bons, também lembra dos ruins. Às vezes acontece de alguém falar algo a respeito. Mas é muito difícil, 99,9% são só lembranças boas", diz.
Em casa, por conta do período de isolamento social, Roberto Dinamite não perde o foco do futebol.
"Acho que, no pós-pandemia, o Vasco precisa se reestruturar, contratar jogadores. Outras equipes também, como o Fluminense e o Botafogo. O Flamengo já tem um plantel forte. O Vasco precisa trabalhar muito para se tornar competitivo. Espero que as pessoas que lidam com o futebol carioca e o brasileiro tenham mais dedicação, aplicação e entrosamento para que os resultados aconteçam", conclui o maior ídolo e ilustre torcedor vascaíno.