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A arte de viver com o vitiligo

Doença genética e não contagiosa, pode ser desencadeada por trauma físico ou emocional

Por Cláudia Brito de Albuquerque e Sá em 20/09/2018 às 15:33:49

"O vitiligo é uma arte feita na gente" Eliane Medeiros (foto: Daniel Bandeira)

Caracterizado por manchas brancas na pele, o vitiligo é uma doença genética e autoimune que atinge cerca de 1% da população mundial e 0,5% da brasileira. A enfermidade não é transmissível, mas o preconceito se alastra pela falta de informação. "O vitiligo não é um defeito, na verdade ele é uma arte feita na gente. É assim que eu vejo, se as pessoas pudessem vê-lo dessa forma, com certeza seria muito menos doloroso", afirmou a modelo de 21 anos, Eliane Medeiros, que tem vitiligo desde os cinco anos de idade.

A doença, que ainda não tem cura, aparece em média aos 24 anos e pode ser desencadeada por um trauma físico ou emocional. No vitiligo, os linfócitos, que são células de defesa, atacam o melanócito, que é a célula que produz melanina para dar cor à pele. Ainda não há cura, mas inúmeros são os tratamentos que buscam controlar a doença, impedir o aumento das lesões e repigmentar a pele.

Eliane é a primeira modelo com vitiligo a fazer uma campanha publicitária no Brasil e tem marcado presença contra a discriminação. "Temos lutado contra o padrão de beleza, porque não existe padrão ideal. Todo mundo é diferente e ninguém é melhor do que ninguém", recordou.

Tratamentos mais utilizados

Entre os tratamentos mais utilizados, estão: fototerapia com radiação ultravioleta B banda estreita (UVB-nb), fototerapia com ultravioleta A (PUVA), tecnologias como o laser, bem como técnicas cirúrgicas de transplante de melanócitos.

"Quando a doença está ativa, despigmentando, podemos usar cortisona na pele, mas se é uma área muito grande podemos entrar com corticóide via oral por no máximo cinco meses, com muita cautela. Em pacientes que não podem usar cortisona, existe o medicamento Metotrexato. Agora, para repigmentar, o tratamento principal é a fototerapia", informou o dermatologista Caio Castro, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).


Com a filha Isabel, 4 anos, Marcela tem força para superar obstáculos. (Foto:arquivo pessoal)


A aceitação é um tratamento

Eliane Medeiros, que também é estudante de direção de Arte, na Universidade Federal de Goiânia (UFG), por opção própria não faz tratamento nenhum há alguns anos.

"Desde pequena, fiz inúmeros tratamentos e alguns eram caros. Quando minha mãe buscou formas alternativas, o dermatologista sugeriu a utilização do chá da raiz de mamacadela, que é o princípio ativo de vários remédios para o vitiligo. Depois dos 15 anos, esse foi meu único remédio, mas agora não faço mais. Entendi que o vitiligo é uma característica minha e que não me prejudica", revelou.

Segundo Eliane, a tranqüilidade que sentiu quando parou de se preocupar em tirar o vitiligo fez a doença regredir. "Antes eu ficava preocupada e nervosa com a reação das pessoas e o vitiligo piorava. Hoje, eu ainda tenho de superar o preconceito todos os dias, e lidar com olhares é o pior de tudo, mas procuro seguir minha vida, porque me aceito do jeito que sou".

Exemplo de superação

Na vida da publicitária Marcela Varella Zinsly o vitiligo apareceu quando ela tinha 30 anos, após um tempo de grande tensão emocional. Nos anos seguintes, ela se escondeu e engordou quase 20 quilos. Sofreu com a depressão e a compulsão alimentar.

"Foram os seis anos mais difíceis da minha vida, quanto mais deprimida eu ficava mais o vitiligo piorava. Há três anos, eu criei uma página no Facebook para conseguir falar sobre o assunto e me libertar de tudo o que eu sentia. Quando eu fiz o meu primeiro vídeo, assumindo o vitiligo, na verdade eu assumi a doença para mim mesma. Poder falar do que estava acontecendo comigo e ver que muitas pessoas se identificavam me fez muito bem. A aceitação é a única forma de ser feliz com a doença", resumiu Marcela.

Na página "Coiseiras da Má", Marcela fala sobre o tratamento alternativo que faz há oito meses de suplementação da vitamina D e da dieta antiinflamatória. "Desde que o vitiligo apareceu, há oito anos, eu fiz tudo o que se pode imaginar, mas não senti muito efeito, o que melhorou um pouco foi o uso do corticóide, mas os efeitos colaterais de ficar inchada, irritada e com insônia me fizeram desistir. Há oito meses, aprendi que a vitamina D age como um hormônio antiinflamatório no corpo. Além da doença ter entrado em remissão, alguns pontos do meu corpo voltaram a se repigmentar", comemorou a publicitária.

O tratamento de Marcela é orientado pelo médico Wanderley Ribeiro Pires, ex-professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, que segue o protocolo Coimbra. "Todas as doenças autoimunes são em síntese uma mesma doença. São semelhantes porque têm em comum um componente de auto-agressão", explicou Dr. Wanderley.



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